Fátima Custódio
A última valsa
Venho do asfalto e trago um olhar inocente; venho assistir á última valsa entre o pó do caminho e a areia fina da praia.
Vim a convinte do silêncio da vida. Ofereço-me um renascer no espírito do tempo, recolhido na brisa húmida que os meus olhos não deixam transparecer. Feitos granito têm apenas o toque do vento agreste e sibilante nos acordes da última valsa. Sem estrelas e sem pássaros. Infeliz insanidade neste cansaço sem término queimando as veias exaustas de movimentos imaginários.
Expressõs mortas transportam sacrifícios de pedra e gestos esquecidos na memória sepultam uma gota de vontade.
Um pedacinho de orgulho rola numa fraga desmoronada por entre o silêncio atóz nesta terra gelada que em vão as minhas mãos tentam aquecer.
Paixão e esperança emanam da praia sempre deserta.
Nascem rosas onde as ninfas se perfumam.
O mar é um hino melódico que não oiço.
O caos agita a nudez duma expressão escrita, num momento que se fez passar pela eternidade. E neste trilho ensopado de sonhos, latejam as minhas mãos nuas, num desesperado gesto de tapar os olhos quando eles só vêm o que querem ver.
Sobram os sonhos e os enganos.
Sobra o caos na praia de oiro onde o mar de mil tons já não faz efeito.
Sobra o espaço num embrião solitário, bebendo as noites do nada.
Venho do asfalto e trago um olhar inocente. Ensina-me ao menos a chorar! Sou peregrina e venho assistir á última valsa entre o pó do caminho e areia fina da praia...
E nas horas alucinadas do poente os meus olhos interrogam o céu...
Fátima Custódio
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