PROSAS EM VERSOS

SER POETA, É SENTIR AFLORAR DA PELE SENSIBILIDADE, É OUVIR O GRITO DOS QUE NADA DISSERAM, É VER POR UMA GAMA DE CORES INVISÍVEIS À MACROSCÓPICA VISÃO DOS INSENSÍVEIS, É PENETRAR IMPIEDOSAMENTE À ALMA HUMANA.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Sim, de volta!


Marcelo Pardini



Em seu ofício...
Os espetáculos não lhe trazem emoções diferentes?

Claro que sim!
Sei disso, daí a analogia com a Arte.

Irei lhe provar que podemos ir além...
Sempre mais!

Vide o equilibrista...
Que só cai porque tenta passar pela corda bamba.

E o palhaço?
Só faz rir porque experimentou a nova piada.

Enfim, a graça de tudo isso...
É o "se permitir", aquilo que nos impulsiona a viver!

Acredito no amor.
Acredito em nosso amor!

Estamos juntos!

Mesmo com os olhos fechados...
Consigo desenhar seu rosto com a ponta dos dedos.

Deus lhe foi gentil até nas pequenas imperfeições...
És deslumbrante!

Estamos juntos!
Sempre.

*O livro Rimas & Versos está à venda em
 contato@marcelopardini.com.br

Outra Tentativa




Ereni Wink



Ninguém passa pela vida impunemente;
Carregamos, sempre, nossas dores e devaneios.
Vã tentativa de açambarcar tudo o que agrada.
Mas a reta entorta, corta e rompe de repente
A lineariedade da fantasia em seus permeios.
Os castelos de areia...pela chuva destruídos.
Céu dramático, nublado e, pouco antes, iluminado
Transforma a rotina em postura desregrada 
A consumir carícias, ternuras e desejos instituídos.
Tola esperança, intuída e combinada.

Qualquer paixão cobra o ônus da loucura.
Contamina o amor por nós criado.
Modificando o espaço-sonho, na bissetriz
Que transforma o nosso encontro uma ruptura 
Do que possuíamos...escapou, é procurado.

Faliu, mais uma vez, a construção inconsciente
Ao confundir a realidade com o vivido.
Pensando ser em toda a vida um ser feliz
Exibe ao mundo um projeto inconsequente.
Não ousou transgredir, ateve-se apenas ao que lhe foi
permitido... 


Amaury da Silva Rego

Mágoas





Joaquim Rodrigues





Minhas mágoas tantas são...
Mas não as conto a ninguém...
Guardo-as no meu coração...
E levo-as para o Além...

Hei-de fazer por sorrir...
Mesmo sem vontade ter...
Já que sabendo mentir...
Poderei menos sofrer...

Pensar na vida, na morte...
Chorar um perdido amor...
Lamentar a minha sorte...
Não, não, não quero pensar...
Quero ter força, calor...
Quero rir, quero folgar!...

........Joaquim Rodrigues

Um Sonho





Joaquim Rodrigues





Eu sei, eu sei bem amor...
Que nunca em mim reparaste...
Mas peço a Deus um favor...
Que tu sempre me negaste...

Peço a Deus para sonhar...
Que me amas essa é a ideia...
Que, terna,me vens beijar....
Em noite de lua cheia...

Que sozinhos, elevados...
Olhos nos olhos, em prece...
Bailamos enamorados...

Depois nem eu importava
Se Deus até me dissesse...
Que nunca mais acordava?..
Joaquim Rodrigues

A Tua Boca




Joaquim Rodrigues





Quantas bocas já beijaste, meu amor...
Com essa tua tão ardente e apaixonada?...
A quantas emprestaste esse sabor?...
Quantos homens já foram amada?...

Felizes que esses teus olhos olharam...
Felizes que esse teu calor sorveram...
Felizes que o teu corpo tactearam...
felizes porque contigo viveram...

E andaste assim duma pra outra sem ver...
Sem nunca perceberes que te amo tanto...
Sem nunca me teres dado nada pra viver...
E nem que fosse um só beijo, um somente...
Já abrandarias um pouco este meu pranto...
Já não seria assim esta demente !...


Joaquim Rodrigues

Meu doce anjinho






Tenho andado ausente...mas parece que quanto mais tempo passa, mais difícil é a sua ausência ...quando venho ao blog...choro muito...sei que estás bem, mas tenho saudades...

Você sabes que nunca me esqueço de você...como poderia ? Se você fazes parte de mim...estás presente no meu pensamento...se todos os dias antes de dormir, olho a sua foto estas tão linda, sempre a olhar para mim...e todas as noites, antes de adormecer penso em você...e sinto a sua falta...mas agradeço sempre o privilégio de te ter conhecido...

Sabes que te amo muito,imagino-te rodeada de anjinhos lindos...espero que os outros anjinhos não se importem...mas és o meu anjo preferido!

Beijos , de quem te ama!

Motivo




Magna Azevedo




Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.
Cecília Meireles

Tudos




Ligia Shlochmann





Estou cego a todas as músicas
Não ouvi mais o cantar da musa.
A dúvida cobriu a minha vida
Como o eito que me cobre a blusa.
Já a mim nenhuma cena soa
Nem o céu se me desabotoa.
A dúvida cobriu a minha vida
Como a língua cobre de saliva
Cada dente que sai da gengiva.
A dúvida cobriu a minha vida
Como o sangue cobre a carne crua,
Como a pele cobre a carne viva,
Como a roupa cobre a pele nua.
Estou cego a todas as músicas.
E se eu canto é como um som que sua.

ARNALDO ANTUNES
São Paulo: Iluminuras, 1993

Assim que te quero




Lúcinha Santos




É assim que te quero, amor,
assim, amor, é que eu gosto de ti,
tal como te vestes
e como arranjas
os cabelos e como
a tua boca sorri,
ágil como a água
da fonte sobre as pedras puras,
é assim que te quero, amada,
Ao pão não peço que me ensine,
mas antes que não me falte
em cada dia que passa.
Da luz nada sei, nem donde
vem nem para onde vai,
apenas quero que a luz alumie,
e também não peço à noite explicações,
espero-a e envolve-me,
e assim tu pão e luz
e sombra és.
Chegastes à minha vida
com o que trazias,
feita
de luz e pão e sombra, eu te esperava,
e é assim que preciso de ti,
assim que te amo,
e os que amanhã quiserem ouvir
o que não lhes direi, que o leiam aqui
e retrocedam hoje porque é cedo
para tais argumentos.
Amanhã dar-lhes-emos apenas
uma folha da árvore do nosso amor, uma folha
que há de cair sobre a terra
como se a tivessem produzido os nosso lábios,
como um beijo caído
das nossas alturas invencíveis
para mostrar o fogo e a ternura
de um amor verdadeiro. 
Pablo Neruda

Recompensa









Olho o olho do outro,
penso o que ele pensa.
Voltar a mim é a minha
diferença.

Olho o olho até turvá-lo,
penso que ele não pensa.
Ir com a água é a minha
recompensa.
ARNALDO ANTUNES

Para Sempre





Fernando Martinho






Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.
Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
— mistério profundo —
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.

Carlos Drummond de Andrade,
 in 'Lição de Coisas'

A hora do cansaço




Neusa Paixão



As coisas que amamos,
as pessoas que amamos,
são eternas até certo ponto.
Duram o infinito variável
no limite de nosso poder
de respirar a eternidade.

Pensá-las é pensar que não acabam nunca,
dar-lhes moldura de granito.
De outra matéria se tornam, absoluta,
numa outra (maior) realidade.

Começam a esmaecer quando nos cansamos,
e todos nos cansamos, por um ou outro itinerário,
de aspirar a resina do eterno.
Já não pretendemos que sejam imperecíveis.
Restituímos cada ser e coisa à condição precária,
rebaixamos o amor ao estado de utilidade.

Do sonho de eterno fica esse gozo acre
na boca ou na mente, sei lá, talvez no ar.

Carlos Drummond de Andrade

Um Novo Começo





Lucrecia Rocha



Andam a falar
Que estavas com outra no mar
E que estás a amar
Sem pouco importar
Se estava eu a sofrer ou a chorar.

Andam a falar
Mentiras, espero
Que andas de mim a sorrir.. a zombar. 
Não posso crer!
Que do amor que tanto dei, 
Mais do que Alice chorei, 
Nada restou em você,
De tudo o que vivemos
O tanto que me importei
Do impossível que foi possível
Transformar em você.

E no vazio que de mim se apossou 
Comprendi...
Não me deste a mão,
Não me deste a proteção, 
Me deste a desilusão.

Para mim foi poesia, 
Foi paixão, 
Foi fantasia, revolução.
Na vastidão do azul do mar
Joguei-me
Um barco à deriva em agonia
Tornei-me
E no meu coração de Mulher,
Território de quem ama,
Ainda que distante,
Sinto você
Singrando e sangrando.

Andam a falar... 
Da indiferença que por mim traduz
Mas não me importa mais
Agora me refaço
Do meu cansaço,
E sem disfarce,
Encaro e desarmo
Armadilhas de um futuro triste(?).
Mas quem somos nós
Para do futuro sabermos?

Ainda bem que existem outros amores, 
Prá compensar todas as dores 
De amores que trazem
Felicidades,alegrias,afetos
Transformados em mágoas, tormentos e lágrimas.
Elegias!
E hoje perdidas
Em meio ao perdão virtuoso.

Ainda bem que existem 
Novos desejos,
Novos caminhos,
Novos começos. 

Lucrecia Rocha - lucreciarocha@gmail.com

História





Aníbal Bastos





No labirinto da vida,
Sem encontrar a saída,
Vive um povo milenar!
Outrora forte aguerrido,
Hoje parece estendido,
Sob a pedra tumular!

De Viriato, guerreiros!
Os nossos avós primeiros,
Chamados de Lusitanos,
Criaram uma nação
Que só por força da traição,
Caiu na mão dos Romanos!

De Henrique, marinheiros,
Audazes aventureiros,
Em epopeias cantados!
Içaram ao vento as velas,
Velejaram em caravelas,
Por mar nunca navegados!

Mais de século e meio,
Em manobras de veleio,
Venceram o mar profundo!
Quantas vidas se perderam,
Mas com valentia deram,
Os novos mundos ao mundo!

Mais tarde, a Sebastião,
Certos conselhos lhe dão
E na sua inocência,
Corre atrás de uma aventura
Morrendo nessa loucura
Perderam a independência!

Durante sessenta anos,
No jugo dos castelhanos,
Este país se arrasta!
Até que um dia, a valente
Raça, desta nobre gente,
Ergue a voz e disse: - Basta!

Presa a duquesa de Mântua,
A sanguessuga tarântula
Que de rainha fazia!
Morto o Miguel Vasconcelos,
Recuperaram os castelos
E Portugal renascia!

Mas os Miguéis e Andeiros
Ao serviço de estrangeiros
Apareceram de novo!
Mais muitas outras duquesas,
Estrangeiras e portuguesas,
Querendo o sangue do povo!

Para quem tiver memória,
Nos anais da nossa história,
Encontra rasgos de bravura!
Que devem servir de recado,
A quem está interessado,
No regresso à ditadura!
A. Bastos (Júnior)

Canção do dia de sempre




Ereni Wink



Tão bom viver dia a dia...
A vida assim, jamais cansa...

Viver tão só de momentos
Como estas nuvens no céu...

E só ganhar, toda a vida,
Inexperiência... esperança...

E a rosa louca dos ventos
Presa à copa do chapéu.

Nunca dês um nome a um rio:
Sempre é outro rio a passar.

Nada jamais continua,
Tudo vai recomeçar!

E sem nenhuma lembrança
Das outras vezes perdidas,
Atiro a rosa do sonho
Nas tuas mãos distraídas...

Mário Quintana

Presença



Marcos Loures



Trazendo esta presença de quem tanto
Buscara algum alívio após a queda,
A vida noutro rumo se envereda
E bebo desde já seu desencanto,

E mesmo que pudesse e se me espanto
Ousando perceber que esta moeda
Há tanto noutro tempo tudo veda
Riscando do meu sonho cada canto.

Cursando contra as mágoas e temores
Seguindo sem saber por onde fores
Em cores tão grisalhas, sigo a vida,

Labiríntica fúria se desnuda
E a sorte que negasse alguma ajuda
Impede de soslaio uma saída...

Marcos Loures

Coração




Ereni Wink




Ai, coração.....
E agora, o que faço?
Você bate tão de mansinho, quase não o ouço....

Tão baixinho, tão escondido, não te sinto....

Estou de volta a minha solidão
Ela sorri e me abraça.

É tão frio seu abraço, tão vazio
E tão cheio de nada....
Chove, coração...

Esta ouvindo?
Até parece que a natureza adivinha...

Ela é sabia, pois traduz
O que estou sentindo,
Pois as lágrimas que verti por dentro,
Estão lá fora, inundando o mundo.

De repente, quem sabe,
A chuva que agora ouço,
Pode servir de cobertor
Aos solitários,
Aos sem ninguém
E que, por terem a solidão como companheira
E não terem ninguém com quem compartilhar-se
Sentem mais que muita gente
Sentem mais profundamente.

E agora, coração?
Quem vai ouvir o meu grito?
E entender o meu pranto?

Não existe mais o acalanto,
Não existe mais o aconchego
Não existe mais o ombro amigo.

E agora, coração?
O que faço?

Sou forte,
Mas também,
Sou criança.
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Autor: Autor Desconhecido

A Rosa



Ereni Wink





A vista incerta,
Os ombros langues,
Pierrot aperta
As mãos exagues
De encontro ao peito.

Alguma cousa
O punge ali
Que ele não ousa
Lançar de si,
O pobre doido!

Uma sombria
Rosa escarlata
Em agonia
Faz que lhe bata
O coração...

Sangrenta rosa
Que evoca a louca,
A voluptosa
Volúvel boca
De sua amada...

Ah, com que mágoa,
Com que desgosto
Dois fios de água
Lavam-lhe o rosto
De faces lí­vidas!

Da veste branca
A larga túnica
Por fim arranca
A rosa púnica
Em um soluço.

E parecia,
Jogando ao chão
A flor sombria,
Que o coração
Ele arrancara!... 

Autor: Manuel Bandeira

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