PROSAS EM VERSOS

SER POETA, É SENTIR AFLORAR DA PELE SENSIBILIDADE, É OUVIR O GRITO DOS QUE NADA DISSERAM, É VER POR UMA GAMA DE CORES INVISÍVEIS À MACROSCÓPICA VISÃO DOS INSENSÍVEIS, É PENETRAR IMPIEDOSAMENTE À ALMA HUMANA.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Lilás era a cor dos nossos sonhos



Angela Mendes



Eu lembro desse encanto, quando o tive
parceira de andorinhas e canários
de dia, sobre as rainhas, a voar
de noite, um canto solo a entoar... 
Era lilás a cor desses poemas, que saudade!
Creio que somos jovens até na eternidade
pois mal me sento nesse canto a repensar
e vejo a cor, os meus poemas retomar.

Falta, por certo, o seu sorriso tão sincero
que nas andanças pelo mundo, não achei
então meu canto cala-se sob o impropério
porque na vida, de você me separei.

Mas não se foram nossos temas, estão inteiros
mesmo que o verso não se atreva nunca mais
os que fizemos são eternos e serão sempre
tal como a vida, sempre belos, e a cor lilás.

Tere Penhabe

Céu de Março


Angela Mendes





A pipa azul bordeja o céu de março.
Inspira-me cansaço.
O meu olhar cavalga no seu voo,
feito da amarga despedida 
exposta na canção que entoo... 

Que doce ela jamais poderá ser!
Porém não precisava doer tanto...
Roubar da alma o pequeno acalanto,
que durou tantos anos!

E nova pipa eu vejo emparelhar,
com aquela antiga, azul da cor de amar.
Esta é vermelha, da cor da paixão,
o tom que sempre ilude e faz doer...

E o céu de março continua azul,
Com nuvens brancas e descabeladas...
Aponta alguém que não tem mais estradas,
pois já percorreu todas...

E se sobrou, foi nada mais que uma,
essa que aborta no meu coração,
todo o vazio de quem não tem mais nada.

E eu sigo a caminhar...
sempre teimosamente!
Querendo ver o céu de abril chegar

de Tere Penhabe 

Quero adormecer




Fátima Custódio



Todos os segundos voaram de mim, deambulo por aí, como uma caix...a vazia, entregue ao sabor do tempo...
Caminho nas entrelinhas das palavras por mim rasgadas.
Até até já me esqueci de tudo o que foi errado!
Grito aos céus, quando vejo um arco-íris fabricado com as lágrimas de um sonho errante...talvez, além das fronteiras do medo, exista um milagre adormecido...
Conheces o meu milagre? Não aquele transformado em tulipa negra!
O outro, o que precisa do sonho para infinitamente me perder nas profundezas do meu pensamento...
Quero adormecer num sussurro de encanto saído das nuvens brancas que quase me tocam o rosto, luminosas, qual castiçal da noite, numa valsa tocada até ao amanhecer...com o som das águas do mar a tocar devagarinho fazendo a lua dançar magia…
Sonhei mais do que pude, talvez o que não devia. Os caminhos foram trilhados e as marés fugidias...perduram uns breves traços em cada meu respirar...
Quero adormecer...

Fátima Custódio

Intento





Basilina Divina Pereira




Palavras andarilhas talvez possam me dizer das coisas
perdidas entre a mágoa e o perdão.
Pode ser que brilhem no vento, na água
e amoleça o coração:
este...é um labirinto de maciços
cobertos de musgo vermelho
onde quase não chega a luz
e as manhãs se perdem por falta de identidade.
Só mesmo ditas palavras 
poderão avivar a esperança
de um sol permanente
refletido na alameda de um sorriso.

Basilina Pereira

O Amor é...


Angela Mendes




‎"O Amor é uma montanha russa.
Todos temos um pouco de medo, 
mas vale a pena arriscar,
porque só a emoção vivida, 
pode ser lembrada".

Tere Penhabe

A borboleta chorou



Fátima Custódio



Um dia contaste-me uma história. A história de uma terra verde, onde o mar também é verde e o pôr-do-sol anil laranja. As casas têm telhados de palmas e a terra é igual a tantas outras terras do mundo. A história de uma terra utópica, onde pessoas submissas deixam ferver os sonhos, o sangue e a paixão numa caldeira de revolta. Nessa terra também havia árvores. Árvores normais com raízes, ramos e folhas. Todas diferentes, mas todas tão iguais. Havia uma tão diferente, que um dia, num ímpeto de alquimia, soltou os seus ramos e deixou que voassem á procura do onde... 
Os ramos soltos voaram no tempo, e, deixaram que o mesmo sol os aquecesse, a mesma chuva os lavasse e o mesmo vento os embalasse. Um dia, cansado, o ramo pousou numa árvore distante, que sedenta de vida o aceitou, Por uns tempos o ramo descansou, e pouco a pouco foi sentindo que lhe faltava a seiva da sua própria árvore; percebeu então que as árvores não vivem de dádivas. Vivem porque têm raízes. As raízes seguram-nas de pé! Então o ramo chorou...era livre, mas não era feliz. 
Agora, aqui onde estou, olhando o mar, não posso deixar de pensar como tudo poderia ser diferente. 
Quero que saibas, que aqui onde estou sinto a luxúria dos abraços de luar...os abraços da mesma lua que cruza os céus, daqui e de além, o mesmo céu sob o qual todos os ramos adormecem... 
No dia quem sequei as tuas lágrimas, nasceram as minhas, e tu perguntaste-me: 
-Porque choras, meu anjo? 
E, eu, a quem tu chamavas borboleta, respondi: 
-Choro, porque não tenho asas...

Fátima Custódio

Sou Teu Pecado!


Kity Araújo





Sou o perfume da tua alma
A paixão contida em teu peito
O mistério em teu olhar
O gosto na boca...Sou o teu paladar
Essa vontade deliciosa em ti
Que só teu corpo sabe expressar
Sou essa tua fome insana
Teus desejos inesgotáveis
O tesão que por vezes explode
Quando invado teus segredos
E deixo fluir essa vontade em mim
Com minhas carícias te enlouqueço
Deslizando e marcando você
Banhando-te com o meu prazer
Sentindo todo o teu delírio
Sorvendo teu corpo com ardor
No mais completo ritual de amor
Sou tua doce menina...Teu pecado
Teu encanto, o teu amor desejado
Aquele que te seduziu e te condenou
A viver eternamente sendo meu
O meu doce escravo do amor
Sou o perfume da tua alma...

(Kity Araújo)
Lei de Direito Autoral (nº 9610/98)


Montanha russa


Carmen Alice Ribeiro


"Minha vida é sempre uma montanha russa e,
daqui a pouco eu estou subindo outra vez."

Tati Bernardi


Sobre escrever livros




Lúcio Pizzo






Tenho conversado seguidamente com muitos livreiros e de todos escutei o mesmo: "Seu livro coloca dentro da livraria gente que nunca tinha entrado numa". Isto, para mim, é uma grande vitória.


"O que me levou a esta atividade foi o fato de gostar de contar histórias, pois antes de tudo, o que eu faço de melhor é exatamente é contar uma história." 

Chico Anysio - 1931 - 2012



Jogo




Aníbal Bastos




Quem no jogo tem o domínio,
Vive a sonhar com o fascínio,
Que a vitória lhe promete!
Não se mostre superior,
Pois nem sempre é vencedor,
Quem vence o primeiro sete!

Seja no jogo da vida,
Ou qualquer outra partida,
Para conseguir patrocínio!
Deve jogar com verdade,
Olhar para realidade,
Se não cai em declínio!

Se no jogo do amor,
Um ou outro jogador,
Mete uma faca na bota
E uma carta na manga!
Um dos dois fica de tanga
Porque, um deles fez batota!

No jogo dos trapaceiros,
Aos falsos são os primeiros,
A jurar honestidade!
E até há quem faça juras,
Às claras e às escuras,
Para atestar a verdade!

No jogo da cabra-cega,
-Muita gente se entrega -
Ou então, ao esconde-esconde!
Cabra-cega para agarrar,
Esconde-esconde para encontrar,
Sem saber o quê, nem onde!

No jogo do meu país,
Joga um povo infeliz,
Num jogo com outro nome!
Chama-se jogo emigrar,
De mendigar, ou roubar,
Para não morrer de fome!

Nestas atrás, seis sextilhas
Que não estão maravilhas,
Mas não sei fazer melhor,
Digo que a vida é um jogo,
Mas não ponho as mãos no fogo,
Seja qual for o jogador!

A. Bastos (Júnior)

Bastava-nos Amar




Fernando Martinho





Bastava-nos amar. E não bastava
o mar. E o corpo? O corpo que se enleia?
O vento como um barco: a navegar.
Pelo mar. Por um rio ou uma veia.

Bastava-nos ficar. E não bastava
o mar a querer doer em cada ideia.
Já não bastava olhar. Urgente: amar.
E ficar. E fazermos uma teia.

Respirar. Respirar. Até que o mar
pudesse ser amor em maré cheia.
E bastava. Bastava respirar

a tua pele molhada de sereia.
Bastava, sim, encher o peito de ar.
Fazer amor contigo sobre a areia.

Joaquim Pessoa, 
in 'Português Suave'

Sobre


André Alves



Virginia Woolf escreveu: 


'Sobre o imenso continente da vida de uma mulher recai a sombra de uma espada.' De um lado dessa espada, disse ela, estão a convenção, a tradição e a ordem, onde 'tudo é correto'. Mas, do outro lado dessa espada, se você for louca o suficiente para atravessar a sombra e escolher uma vida que não segue a convenção, 'tudo é confusão. Nada segue um curso regular'. Seu argumento era que atravessar a sombra dessa espada pode proporcionar a mulher uma existência muito mais interessante, mas podem apostar que ela também será mais perigosa.

Simplesmente


Maria Salete Ariozi



O que tenho por fora, permanece inalterado
Sorriso estampado no rosto, calor no corpo inteiro, alegria de ver e viver,
Parece festa, parece fogo, parece... parece felicidade!

Dentro de mim há um abismo.
Não pode ser visto, nem tocado
Sua profundidade é incalculável,
Os que tentam desvendar apenas se enchem de dúvidas

Dúvidas?
Sim! Muitas dúvidas.
Coisa inexplicável...

O que me move é a paixão
É ela que me faz querer viver
Que me faz voar e querer alcançar o céu
Voar bem alto... e cair, voltar ao chão

O que queima dentro de mim é o desejo incontido de ter (e não ter)

E se me busco em mim mesma, encontro o vazio
A loucura,
O medo

Mas se por um segundo eu me encontro, mesmo que por um segundo
Eu quero, eu surto, eu vejo, eu sinto...
Que você nunca passou

Simplesmente
Amo-te!

Fatima Vasconcelos

Oração do Grupo




Lúcinha Santos






Senhor, eu te peço pelo nosso grupo
Para que nos conheçamos melhor
Em nossas aspirações e
Nos compreendamos mais
Em nossas limitações.
Para que cada um de nós sinta e viva
As necessidades dos outros.
Para que nossas discussões não nos dividam
Mas nos unam em busca da verdade e do bem.

Para que cada um de nós
Ao construir a própria vida
Não impeça ao outro de viver a sua.
Para que nossas diferenças
Não excluam a ninguém da comunidade
Para que olhemos para cada um Senhor.
Com os teus olhos
E nos amemos com teu coração.
Para que nos conheçamos melhor
Para que nosso grupo
Não se feche em si mesmo
Mas seja disponível, aberto, sensível
Aos desejos dos outros.
Para que no fim de todos os caminhos
Além de todas as buscas
No final de cada discussão
E depois de cada encontro
Nunca haja "vencidos"
Mas sempre "irmãos".
Amém.


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