PROSAS EM VERSOS

SER POETA, É SENTIR AFLORAR DA PELE SENSIBILIDADE, É OUVIR O GRITO DOS QUE NADA DISSERAM, É VER POR UMA GAMA DE CORES INVISÍVEIS À MACROSCÓPICA VISÃO DOS INSENSÍVEIS, É PENETRAR IMPIEDOSAMENTE À ALMA HUMANA.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Reencontro







Aníbal Bastos










Fernanda Maria,
Sol do meio-dia,
De luz e calor!
Rosto sorridente,
Olhar doce e quente,
Primavera em flor!


Tenho na lembrança,
De quando criança,
Buscando consolo!
Olhando para mim,
Dizendo assim:
- Pega-me ao colo!


Sua mãe morrera,
A vida lhe dera
Uma dura prova!
Cresceu, fez-se bela,
Mas só via nela,
Uma irmã mais nova!


Mas um certo dia,
A Fernanda Maria,
Sem nada o prever!
Num relampejo,
Dei-me um breve beijo
E fugiu a correr!


Regressou de seguida
E meio atrevida,
Disse-me corada:
-Eu já sou mulher!
E pretendo ser,
Tua namorada!


Eu nunca pensei,
Nem nunca sonhei,
Ouvir tal proposta!
Para a não magoar,
Disse: - Vou pensar
E dou-te a resposta!


Deixei de ir à taberna,
Dessa moça terna,
Que o pai era dono!
Para não lhe dizer,
Que outra mulher,
Me tirava o sono!


Dias depois,
Falando a dois,
Eu disse-lhe então:
- Já me decidi
Eu gosto de ti!
Mas como irmão!


Não compreendeu,
Nem me respondeu,
Somente chorou!
Pouco tempo passado,
Arranjou namorado,
E a seguir casou!


Saiu do lugar,
Para ir morar,
Noutra freguesia!
Por assim ser,
Eu deixei de ver,
A Fernanda Maria!


Após muitos anos,
Fora dos planos,
Vejo-a novamente!
Mulher mais madura,
A mesma doçura,
Rosto sorridente!


Sorrisos trocados,
Passos apressados,
Abraço imponente!
Dois beijos na face,
E a amizade renasce,
Como antigamente!


A. Bastos (Júnior)

Nada me prende



Fatima Pessoa








‎"Nada me prende, a nada me ligo, a nada pertenço.
Todas as sensações me tomam e nenhuma fica.
Sou mais variado que uma multidão de acaso,
Sou mais diverso que o universo espontâneo,
Todas as épocas me pertencem um momento,
Todas as almas um momento tiveram seu lugar em mim.
Fluído de intuições, rio de supor - mas,
Sempre ondas sucessivas,
Sempre o mar - agora desconhecendo-se
Sempre separando-se de mim, indefinidamente."


Fernando Pessoa

Foi um beijo...





Maria Salete Ariozi




foi um beijo onde não importava a boca
só tuas mãos quentes me apertando pelas costas
nada estava acontecendo na minha frente
e a ansiedade que havia não era pouca
teus dedos perguntavam pra minha blusa
se meu corpo acolheria um delinquente
descoladas as línguas um instante
minha resposta saiu um tanto rouca


Martha Medeiros

Mal de Amor





Maria Salete Ariozi






Toda pena de amor, por mais que doa,
no próprio amor encontra recompensa.
As lágrimas que causa a indiferença,
seca-as depressa uma palavra boa.
.
A mão que fere, o ferro que agrilhoa,
obstáculos não são que amor não vença.
Amor transforma em luz a treva densa.
Por um sorriso amor tudo perdoa.
.
Ai de quem muito amar não sendo amado,
e depois de sofrer tanta amargura,
pela mão que o feriu não for curado.
.
Noutra parte há de em vão buscar ventura.
Fica-lhe o coração despedaçado,
que o mal de amor só nesse amor tem cura.
.
Anna Amélia Queiroz Carneiro de Mendonça

Desejo







Lúcinha Santos












vem de mansinho
Querendo carinho
Me chega assim
Devagarinho
Me olhando nos olhos
Me dizendo que sim
me beija na boca
me deixa louca
me deixa acesa
Com uma vontade imensa
Que fique o tempo todo assim
inteiramente dentro de mim
........................Lú.



Intempéries





Angela Mendes








És lava incandescente, fogo extremo,
que queima e torra e funde e vaporiza!
E como terremoto, és movimento
que abala as estruturas que se cria.

És chuva torrencial, inundação,
que lava e leva e louva a toda vida!
E como vento forte, és furacão
que eleva em voo tão leve e te levita.

És força original, desde idos tempos,
que molda e move e mexe a massa toda.
E nós, meros mortais, nos envolvemos,
e queima e treme e molha e também voa.

Maior que todas forças naturais,
o amor que tua presença aqui me traz...

Cesar Veneziani

O Barqueiro





Maria Salete Ariozi




Em um largo rio, de difícil travessia,
havia um barqueiro que atravessava as pessoas
de um lado para outro.
Em uma dessas viagens, iam um Advogado e uma
Professora.
Como quem gosta de falar muito, o advogado
pergunta ao barqueiro:
- Companheiro, você entende de leis ?
- Não ! respondeu o barqueiro.
E o advogado compadecido diz:
- É pena !, você perdeu metade de sua vida.
A Professora muito social, entra na conversa:
- Seu barqueiro, você sabe ler e escrever ?
- Também Não ! respondeu o barqueiro.
- Que Pena ! condói-se a mestra.
- Você perdeu metade de sua vida !
Nisso chega uma onda bastante forte e vira o barco.
O barqueiro preocupado pergunta:
- Vocês sabem nadar ?
- Não !! responderam eles rapidamente.
- Então é uma pena !!- Conclui o barqueiro
- Vocês perderam "toda" a vida.
MORAL DA HISTÓRIA: NÃO HÁ SABER MAIOR OU SABER MENOR.
HÁ SABERES DIFERENTES.
Pense Nisso e Valorize todas as pessoas com as quais
tenha contato. Cada uma delas tem algo de diferente para ensinar.


Texto: Paulo Freire

Do amor que se perdeu





Angela Mendes








Do amor que se perdeu
De súbito
sublimo
o teu corpo
[arcabouço de mil demônios
dos quais
- em êxtase -
admiro].
Teu hálito quente
convoca-me às tentações...
mas, sou eu agora
quem decide
como vou me enganar...
[e como quero morrer].
O teu sádico sorriso
não me ilude mais.
A tua retórica
alimentou leões
e o que posso te oferecer
- agora -
é um punhado
de sentimentos baldios
carcomidos e ressequidos
pelo amor que se perdeu.
Não quero mais
ser conjugada
em tuas rimas perfeitas...
[sou imperfeita
- demais -
para isso].
Por certo,
nunca mereci
o teu amor de sacrifícios.


(Patrícia Lara)

Reencontro





Aníbal Bastos












Fernanda Maria,
Sol do meio-dia,
De luz e calor!
Rosto sorridente,
Olhar doce e quente,
Primavera em flor!

Tenho na lembrança,
De quando criança,
Buscando consolo!
Olhando para mim,
Dizendo assim:
- Pega-me ao colo!

Sua mãe morrera,
A vida lhe dera
Uma dura prova!
Cresceu, fez-se bela,
Mas só via nela,
Uma irmã mais nova!

Mas um certo dia,
A Fernanda Maria,
Sem nada o prever!
Num relampejo,
Dei-me um breve beijo
E fugiu a correr!

Regressou de seguida
E meio atrevida,
Disse-me corada:
-Eu já sou mulher!
E pretendo ser,
Tua namorada!

Eu nunca pensei,
Nem nunca sonhei,
Ouvir tal proposta!
Para a não magoar,
Disse: - Vou pensar
E dou-te a resposta!

Deixei de ir à taberna,
Dessa moça terna,
Que o pai era dono!
Para não lhe dizer,
Que outra mulher,
Me tirava o sono!

Dias depois,
Falando a dois,
Eu disse-lhe então:
- Já me decidi
Eu gosto de ti!
Mas como irmão!

Não compreendeu,
Nem me respondeu,
Somente chorou!
Pouco tempo passado,
Arranjou namorado,
E a seguir casou!

Saiu do lugar,
Para ir morar,
Noutra freguesia!
Por assim ser,
Eu deixei de ver,
A Fernanda Maria!

Após muitos anos,
Fora dos planos,
Vejo-a novamente!
Mulher mais madura,
A mesma doçura,
Rosto sorridente!

Sorrisos trocados,
Passos apressados,
Abraço imponente!
Dois beijos na face,
E a amizade renasce,
Como antigamente!

A. Bastos (Júnior)

Heroísmo







Joaquim Rodrigues









Eu temo muito o mar, o mar enorme...
Solene, enraivecido, turbulento...
Erguido em vagalhões, rugindo ao vento...
O mar sublime, o mar que nunca dorme...

Eu temo o largo mar rebelde, informe...
De vítimas famélico, sedento...
E creio ouvir em cada seu lamento...
Os ruídos dum túmulo disforme...

Contudo, num barquinho transparente...
No ser dorso feroz vou blasonar...
Tufada a vela e n'água quase assente...

E ouvindo muito ao perto o seu bramar...
Eu rindo, sem cuidados, simplesmente...
Escarro, com desdém, no grande mar!..




(De, Cesário Verde)

Gotas



Ereni Wink








Lua cheia,verdes campos a brilhar
Gotas de orvalho...a saciar a sede do capim
Fazendo nascer em mim
Desejo de cavalgar....pelos campos
Noite enlurada,testemunha de minha cavalgada
Vou galopando em disparada
Sem pensar no amanhã
Sinto a grama molhada
Perfume da madrugada
Despertando em mim os sentidos , adormecidos
Vento batendo no rosto me instiga a continuar
Desafiando o perigo
Dormir eu ja não consigo
A madrugada é meu castigo
Minha sina é cavalgar
Pelos campos orvalhados
Sob a luz do luar

Minto?



Josemir Tadeu Souza




Sinais,
numerosos reflexos.
Neons cintilam juramentados,
sua performance lítica...
A cada esquina um grupo.
Em algumas casas,
luto.
Em algumas ruas,
vultos.


As placas, de início,
com luminosidade forte,
agora quase opacas
distingüem várias sinas e sortes.
Em verdade o tempo passou,
e talvez somente algumas poucas sementes
tenham percebido...


O rítmo continua o mesmo.
Um enorme vazio.
Uma praça erma.
E vários grupos distintos...
Um caminhar a esmo.
Um dizer vadio.
Uma solidão mesma,
e ao fundo,
impregnado a um cenário rotundo,
a solidão...


Muitos sorriem.
Poucos realmente o fazem,
porque sentem.
Ao final,
tanto aqui quanto acolá,
em qualquer lugar
onde se desenvolvam respingos de verdades,
quem domina
e se faz sina,
é a mentira.


O que me toca e eu sinto,
arrepia-me sobremaneira...
Por acaso
também minto?


josemir (ao longo...)

Eu sou...





Ereni Wink








Eu sou a esperança ignorada
Sou a aliança não firmada
A lâmpada queimada !...


Eu sou a árvore cortada
Sou a muda não plantada
A semente abandonada!...


Eu sou a música que não é cantada
Sou a poesia não rimada
A história não contada !...


Eu sou a boneca estragada
Sou a bola furada
A quadra molhada !...


Eu sou a escada quebrada
Sou a faca não amolada
A caneca furada!...


Eu sou a sandália arrebentada
Sou a roupa molhada
A blusa rasgada!...


Eu sou a comida queimada
Sou a água acabada
A casa bagunçada!...


Eu sou a fadiga na caminhada
Sou a conversa atravessada
A que chega na hora errada !...


Eu sou a que queria ser tudo
Mas que não é nada !...


Me definindo quando me sinto impotente para mudar as coisas que , por mais que eu queira e tente , não consigo mudar !...MAS Ë COISA DE POUCOS MOMENTOS . ESCREVO ... E ME SINTO INTEIRA NOVAMENTE ! MAIS FORTE , MAIS VALENTE !...


Juiz de Fora , 18 de abril de 2007 .
Mena Moreira

Eu...



Ereni Wink








Eu...
Sou tropeira,
Sou troteira,
Sou treteira.
O caminho de terra batida
Não me intimida!
Sou matreira,
Sou guerreira!
Às vezes chego à fronteira,
Encontro porteira,
Atravesso tronqueira.
Mais a frente uma fronte,
Uma fonte,
Uma ponte,
Um horizonte.
Uma erva-cidreira!?
Estou inteira



Mena Moreira



DAISI - Prosas do Tema = Gotas





Daisi Oliveira de Souza
Nas mãos de Deus






Esperança...
Êxtase interior
Acordando de sonhos
Ilusões...
Hoje me revigoro
Com os presentes celestiais diários
Na surpresa generosa do universo.....
Novas vibrações, emoções e perspectivas
Se faz presente o extraordinário...
Gratidão é o sentimento.
Pai, sou uma flor em tuas mãos,
Que generosamente
Banhas com gotas do orvalho
A cintilar suas cores
Sem nenhum ato falho
Compondo com brilho minha vida,
Não me permitindo esquecer
...Sou tua criação.
Assim sendo
Elevo meu coração em uma oração
Repleto de gratidão.

Daisi Oliveira de Souza
Março/2012

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