Carmen Alice Ribeiro
Metade de mim
Escondo metade de mim, aquela metade dos cansaços
dos sonhos feitos pedaços, que a outra metade sonhou
escondo metade de mim, metade daquilo que sou.
Escondo metade de mim, aquela metade que é trevas das horas
amargas sem luz, aquela metade, que não encanta nem seduz.
Escondo metade de mim, a metade das ilusões gastas,dos medos
sentidos, aquela metade de mim, que só conhecem os desvalidos.
Escondo metade de mim, na quietude da noite que me povoa a alma,
aquela metade que é escuridão, metade de uma vida, de um coração.
Escondo metade de mim, a metade sem sorrisos, a metade que é só
minha, a minha trama, meu segredo, aquela metade, que não é
fascínio nem luz , a metade do meu medo.
Escondo metade de mim na metade que sei mostrar, onde oculto raiva
e cansaço, a metade que me divide no meio sorriso, no meio abraço.
Escondo metade de mim , escondo a parte mais obscura, do sentir e do
sonhar, a metade que anda perdida, a metade já sem vida, a parte que
não sabe amar.
Escondo metade de mim, a metade que partiu, da metade que ficou, a
metade do desencanto, das lágrimas e do quebranto, a tantas metades
igual a metade que sonhou, que não viveu, nem vingou, a metade que
não mostro mais. Escondo metade de mim , a metade mais frágil, a mais
sincera talvez,anda perdida na bruma, como barco sem rumo,que navega,
perdendo o cais. Escondo metade de mim...
Gonçalo N. Assis