PROSAS EM VERSOS

SER POETA, É SENTIR AFLORAR DA PELE SENSIBILIDADE, É OUVIR O GRITO DOS QUE NADA DISSERAM, É VER POR UMA GAMA DE CORES INVISÍVEIS À MACROSCÓPICA VISÃO DOS INSENSÍVEIS, É PENETRAR IMPIEDOSAMENTE À ALMA HUMANA.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Dor & Espetáculo





Orlando Costa Filho







15.000 cervejas
já era o bastante.
cravei os dentes nos peitos
da mãe-noite.

explorei as densas matas de dentro...
uma sucuri me enlaçou
pintou uma onça pintada
fugi nas asas de nhambus e araras...

(esse lance de poesia ainda
deixa um louco!)

submergi no mar de dentro...
lutei contra sete tentáculos
um tubarão straight-ahead surgiu
fugi a galope nos pelos d’um cavalo marinho

(esse lance de poesia é
dor & espetáculo!).

ocf

Noite de Saudade


Maria Salete Ariozi





A noite vem pousando devagar
Sobre a terra que inunda de amargura...
E nem sequer a bênção do luar
A quis tornar divinamente pura...

Ninguém vem atrás dela a acompanhar
A sua dor que é cheia de tortura...
E eu ouço a noite a soluçar!
E eu ouço soluçar a noite escura!

Por que é assim tão escura, assim tão triste?!
É que, talvez, ó noite, em ti existe
Uma saudade igual à que eu contenho!

Saudade que eu nem sei donde me vem...
Talvez de ti, ó noite!... Ou de ninguém!...
Que eu nunca sei quem sou, nem o que tenho! 

(Florbela Espanca)

LIGIA - PROSAS DA FOTO




Ligia Shlochmann
DEUSA DIANA




DIANA DEUSA DA LUA
IMPERDOAVELMENTE
DEUSA DA CAÇA....
PORQUÊ LUA E CAÇA
BELA DEUSA DIANA
VIVIA CASTA POR
SER DONA DA LUA
BANHADO-SE COM
SUAS NINFETAS
EM UMA NASCENTE
CONTOU HESÍODO
EM SUA TEOGONIA:
HAVIA UM CAÇADOR
CHAMADO ACTEON
SURPREENDENDO A
BELA DEUSA EM SEU
BANHO SELENE.
DIANA FICOU FURIOSA
E TRANSFORMOU
O CAÇADOR
EM CERVO, PARA
SE TORNAR PRESA
DE SEU PRÓPRIOS
CÃES DE CAÇA,
QUE ENFURECIDOS
MATARAM O BELO ACTEON

QUE PENA A BELA DIANA
DE DEUSA DA LUA, PASSOU
SER DEUSA DA CAÇA,
POIS A SELENE QUE A
ACOMPANHAVA, VOLTOU
PARA LUA E DIANA FICOU
NA ESCURIDÃO DAS FLORESTAS
RUSTICAS E SELVAGENS.

MAS ZEUS LHE DEU UM DESTINO
PARA QUE CONTINUASSE SELENE
E NÃO MAIS PERDESSE A LUZ
NOMINOU-A DE ÁRTEMIS QUE
ERA A PERSONIFICAÇÃO DO
ESPIRITO INDEPENDENTE
SENDO ASSIM ATÉ OS DIAS
ATUAIS, IGUAL A TEOGONIA
DO GREGO HESÍODO
O SIMBOLO DA LUA E DA CAÇA
GEROU A MULHER VIRTUOSA
E MUITO FORTE....PORÉM
COM QUALIDADES
"MASCULINAS"
HOJE ENTENDEMOS COMO
MULHERES GUERREIRAS
QUE DEIXOU DE SER SELENE.

O mar



Ereni Wink




Hoje fui te encontrar, estava radiante
Te avistei imponente, ainda distante
O dia estava encantador, deslumbrante
Já bem próxima de ti, estava fascinante!

Na linha do horizonte tuas águas esverdeadas
Tocava no céu de cor bem azulada
Uma linda visão era a mim proporcionada
E as ondas, num vai e vem, me encantava

Quando estás calmo e sereno
Oh mar que és cheio de encantos
Consegues que eu esqueça todos meus prantos

Caminhar na areia é delicioso
Sentindo a brisa no rosto
Me faz feliz e esqueço os desgostos! 

NADIA SANTOS

Minha pequena estrela



Jose Carlos Ribeiro
.



O sol se põe
Dando lugar às estrelas
E a Lua
Seu rosto aparece

No meio de todas essas estrelas
Você me sorri com toda a sua beleza
Eu fecho meus olhos nesta imagem
Que me faz sonhar

Em meu sono você esta aqui
Perto de mim
Me dando a mão
Você me conta sua vida

E eu te escuto
Nós nos sentamos num banco
Você me pega em seus braços
O preto fica rosa.

Flores murchas renascem
O tempo parou
Você me olha e me cesura
Ate lo logo

O a acordar eu olhe meu telefone
Há uma mensagem de você
Eu a li
E a partir desse momento eu sei

Que vou passar um lindo dia
Pensando apenas você
Minha pequena estrela.


Moreno




Paula Teixeira





Moreno de cor terra, pele de sal
De olhos brilhantes
Fascinantes 
De cheiro de macho, peito peludo
Semi-desnudo
Baixo o sol , me olhas de frente
Valente!

Buscas calor, amor 
Eu me refresco nos teus beijos
Com teus desejos
Labios da cor de pecado 
Ñao me resisto, 
Apenas te sinto
Golpes fortes, animal selvagem 
O barulho é um absurdo

Peço morrer, sentindo o teu cheiro
Sem desesperos, sem problemas
Basta de penas
Quero sentir-te em qualuqer lugar
No ar, na terra , no fogo e no mar
Ñao te morras antes de mim 
Ou serei a nada sem ti...

PAULA TEIXEIRA.

Pelo teu perdão


Ereni Wink





Perdoa, Te diria, se a voz me permitisse
Diz-me o que fazer para teu perdão conseguir
Se queres, ajoelho aos teus pés e sem orgulho
Te farei bem mais do que possas me pedir

E se ainda for pouco os muitos e os tantos
E se te contenta perdoar-me pelos prantos
Se por copiosos me faltarem, terás meu sangue
E ainda, como lágrimas, terás triste o meu canto

Que queres que te diga? Que te faça? Diz agora
Que este agora farei, se quiseres, para semp
E atento estarei por toda vida a contentar-te
Que ti farei de oração sempre pronto a rezar-te

Se ainda o que pedires ti for pouco a perdoar-me
Te imploro que imagines o que mais possas querer
Por impossível que pareça, jamais me trará rancor
Se pedires meu coração, se te contenta, eu te dou

Se me fechares os olhos por tamanha perda vital
Ainda assim, paga-o com carinho e nele presta atenção
Que com certeza logo hás de me dar o teu perdão
Ao vê-lo tão contente, saltitando alegre em tua mãoe

joão josé

A dor do toque




Keyla Cantinho Goiano





Quanta dor de ser tocada por alguém que você não ama mais
quanta vontade de estar nesse momento bem longe
distante dessa tortura emocional
disfarçar?Como disfarçar sentimentos que não existem mais?
As lágrimas descem pela minha face
no meio do prazer dele
e da minha dor

Keyla Alves Fernandes


Reencontro


Ereni Wink





Dourada é a sua veste.
Minha alma anda voando,
Num quadro de azul celeste
Flores e luzes pintando.

Com as cores da aurora,
E a poeira do luar,
Com lagrimas que ela chora
Quando vê o meu chorar.

E, enquanto no firmamento,
Da tela do pensamento,
Minha alma voa sonhando,

Eu pinto estrela cadente,
Vendo juntas novamente
Corpo e alma se encontrando.


Envelhecer


Aníbal Bastos





Saber envelhecer é importante!
É viver a segunda juventude
E, por muito que o aspecto mude,
A vida continua interessante!

Ser sensato, em vez de arrogante,
Moderado em cada atitude,
Aceitar o defeito e a virtude,
Como aprendizagem incessante!

Não ter receio às linhas rugosas 
Que um dia virão sulcar-lhe o rosto,
Tomando-as por belas e formosas!

Enfrentar a velhice com à-vontade,
É nunca ver na vida o sol-posto
E, viver em constante mocidade!

A. Bastos (Júnior)

Poesia não é para compreender


Keyla Cantinho Goiano


“Poesia não é para compreender, mas para incorporar
Entender é parede: procure ser árvore.”

Manuel de Barros


Recado para uma grande amiga




Claudio Caldas Faria





Não deixe ninguém lhe dizer o que deve ser feito
Às vezes o vento nos sopra mais forte
E assim não murmura a vida, só a morte.
Se fosse bom, quem lhe diz, o faria primeiro.

Creia sempre em você. Que nada mais importe
Invejas a outrem que como você não faz
Por isso fazem guerras e jamais a paz
Pois amizades são puras dádivas. Que sorte!

Daqueles que as têm e as retém
Quem quer afastá-las é por desdém
Para diminuí-la perante aos outros

Acredite sempre nos seus valores
Esses afastam sempre os horrores
Dos que se dizem sãos e são loucos.


Claudio Caldas Faria
Lei de Direito Autoral (nº 9610/98)


Monólogo de uma sombra




Ligia Shlochmann






Sou uma Sombra! Venho de outras eras,
Do cosmopolitismo das moneras...
Pólipo de recônditas reentrâncias,
Larva de caos telúrico, procedo
Da escuridão do cósmico segredo,
Da substância de todas as substâncias!

A simbiose das coisas me equilibra.
Em minha ignota mônada, ampla, vibra
A alma dos movimentos rotatórios...
E é de mim que decorrem, simultâneas,
A sáude das forças subterrâneas
E a morbidez dos seres ilusórios!

Pairando acima dos mundanos tetos,
Não conheço o acidente da Senectus
- Esta universitária sanguessuga
Que produz, sem dispêndio algum de vírus,
O amarelecimento do papirus
E a miséria anatômica da ruga!

Na existência social, possuo uma arma
- O metafisicismo de Abidarma -
E trago, sem bramánicas tesouras,
Como um dorso de azémola passiva,
A solidariedade subjetiva
De todas as espécies sofredoras.

Como um pouco de saliva quotidiana
Mostro meu nojo á Natureza Humana.
A podridão me serve de Evangelho...
Amo o esterco, os resíduos ruins dos quiosques
E o animal inferior que urra nos bosques
E com certeza meu irmão mais velho!

Tal qual quem para o próprio túmulo olha,
Amarguradamente se me antolha,
À luz do americano plenilúnio,
Na alma crepuscular de minha raça
Como urna vocação para a Desgraça
E um tropismo ancestral para o Infurtúnio.

Aí vem sujo, a coçar chagas plebéias,
Trazendo no deserto das idéias
O desespero endêmico do inferno,
Com a cara hirta, tatuada de fuligens
Esse mineiro doido das origens,
Que se chama o Filósofo Moderno!

Quis compreender, quebrando estéreis normas,
A vida fenomênica das Formas,
Que, iguais a fogos passageiros, luzem...
E apenas encontrou na idéia gasta,
O horror dessa mecânica nefasta,
A que todas as coisas se reduzem!

E hão de achá-lo, amanhã, bestas agrestes,
Sobre a esteira sarcófaga das pestes
A mostrar, já nos últimos momentos,
Como quem se submete a uma charqueada,
Ao clarão tropical da luz danada,
O espólio dos seus dedos peçonhentos.

Tal a finalidade dos estames!
Mas ele viverá, rotos os liames
Dessa estranguladora lei que aperta
Todos os agregados perecíveis,
Nas eterizações indefiníveis
Da energia intra-atômica liberta!

Será calor, causa ubíqua de gozo,
Raio X, magnetismo misterioso,
Quimiotaxia, ondulação aérea,
Fonte de repulsões e de prazeres,
Sonoridade potencial dos seres,
Estrangulada dentro da matéria!

E o que ele foi: clavículas, abdômen,
O coração, a boca, em síntese, o Homem,
- Engrenagem de vísceras vulgares -
Os dedos carregados de peçonha,
Tudo coube na lógica medonha
Dos apodrecimentos musculares!

A desarrumação dos intestinos
Assombra! Vede-a! Os vermes assassinos
Dentro daquela massa que o húmus come,
Numa glutoneria hedionda, brincam,
Como as cadelas que as dentuças trincam
No espasmo fisiológico da fome.

E unia trágica festa emocionante!
A bacteriologia inventariante
Toma conta do corpo que apodrece...
E até os membros da família engulham,
Vendo as larvas malignas que se embrulham
No cadáver malsão, fazendo um s.

E foi então para isto que esse doudo
Estragou o vibrátil plasma todo,
À guisa de um faquir, pelos cenóbios?!...
Num suicídio graduado, consumir-se,
E após tantas vigílias, reduzir-se
À herança miserável de micróbios!

Estoutro agora é o sátiro peralta
Que o sensualismo sodomista exalta,
Nutrindo sua infâmia a leite e a trigo...
Como que, em suas células vilíssimas,
Há estratificações requintadíssimas
De uma animalidade sem castigo.

Brancas bacantes bêbedas o beijam.
Suas artérias hírcicas latejam,
Sentindo o odor das carnações abstêmias,
E á noite, vai gozar, ébrio de vício,
No sombrio bazar do meretrício,
O cuspo afrodisíaco das fêmeas.

No horror de sua anômala nevrose,
Toda a sensualidade da simbiose,
Uivando, á noite, em lúbricos arroubos,
Como no babilônico sansara,
Lembra a fome incoercível que escancara
A mucosa carnívora dos lobos.

Sôfrego, o monstro as vítimas aguarda.
Negra paixão congênita, bastarda,
Do seu zooplasma ofídico resulta...
E explode, igual á luz que o ar acomete,
Com a veemência mavórtica do aríete
E os arremessos de uma catapulta.

Mas muitas vezes, quando a noite avança,
Hirto, observa através a tênue trança
Dos filamentos fluídicos de um halo
A destra descamada de um duende,
Que tateando nas tênebras, se estende
Dentro da noite má, para agarrá-lo!

Cresce-lhe a intracefálica tortura,
E de su'alma na cavema escura,
Fazendo ultra-epiléticos esforços,
Acorda, com os candieiros apagados,
Numa coreografia de danados,
A família alarmada dos remorsos.

É o despertar de um povo subterrâneo!
E a fauna cavernícola do crânio
- Macbetbs da patológica vigília,
Mostrando, em rembrandtescas telas várias,
As incestuosidades sangüinárias
Que ele tem praticado na família.

As alucinações tácteis pululam.
Sente que megatérios o estrangulam...
A asa negra das moscas o horroriza;
E autopsiando a amaríssima existência
Encontra um cancro assíduo na consciência
E três manchas de sangue na camisa!

Míngua-se o combustível da lanterna
E a consciência do sátiro se inferna,
Reconhecendo, bêbedo de sono,
Na própria ânsia dionísica do gozo,
Essa necessidade de horroroso,
Que é talvez propriedade do carbono!

Ah! Dentro de toda a alma existe a prova
De que a dor como um dartro se renova,
Quando o prazer barbaramente a ataca...
Assim também, observa a ciência crua,
Dentro da elipse ignívoma da lua
A realidade de urna esfera opaca.

Somente a Arte, esculpindo a humana mágoa,
Abranda as rochas rígidas, torna água
Todo o fogo telúrico profundo
E reduz, sem que, entanto, a desintegre,
À condição de uma planície alegre,
A aspereza orográfica do mundo!

Provo desta maneira ao mundo odiento
Pelas grandes razões do sentimento,
Sem os métodos da abstrusa ciência fria
E os trovões gritadores da dialética,
Que a mais alta expressão da dor estética
Consiste essencialmente na alegria.

Continua o martírio das criaturas:
- O homicídio nas vielas mais escuras,
- O ferido que a hostil gleba atra escarva,
- O último solilóquio dos suicidas -
E eu sinto a dor de todas essas vidas
Em minha vida anônima de larva!"

Disse isto a Sombra. E, ouvindo estes vocábulos,
Da luz da lua aos pálidos venábulos,
Na ânsia de um nervosíssimo entusiasmo,
Julgava ouvir monótonas corujas,
Executando, entre caveiras sujas,
A orquestra arrepiadora do sarcasmo!

Era a elegia panteísta do Universo,
Na podridão do sangue humano imerso,
Prostituído talvez, em suas bases...
Era a canção da Natureza exausta,
Chorando e rindo na ironia infausta
Da incoerência infernal daquelas frases.

E o turbilhão de tais fonemas acres
Trovejando grandiloquos massacres,
Há-de ferir-me as auditivas portas,
Até que minha efêmera cabeça
Reverta á quietação da treva espessa
E à palidez das fotosferas mortas!


Augusto dos Anjos

Alucinação à Beira Mar




Claudio Caldas Faria





Um medo de morrer meus pés esfriava.
Noite alta. Ante o telúrico recorte,
Na diuturna discórdia, a equórea coorte
Atordoadoramente ribombava!

Eu, ególatra céptico, cismava
Em meu destino!...0 vento estava forte
E aquela matemática da Morte
Com os seus números negros, me assombrava!

Mas a alga usufrutuária dos oceanos
E os malacopterígios subraquianos
Que um castigo de espécie emudeceu,

No eterno horror das convulsões marítimas
Pareciam também corpos de vítimas
Condenados à Morte, assim como eu!

Augusto dos Anjos

Minha Estrela



Mô Schnepfleitner




‎"E a estrela foi p’ra o Céu subindo,
Minh’alma que de longe a acompanhava,
Viu o adeus que do Céu ela enviava…"
(...)

Augusto dos Anjos


Porque a vida segue




Fatima Pessoa



‎"Porque a vida segue. Mas o que foi bonito fica com toda a força. Mesmo que a gente tente apagar com outras coisas bonitas ou leves, certos momentos nem o tempo apaga. E a gente lembra. E já não dói mais. Mas dá saudade. Uma saudade que faz os olhos brilharem por alguns segundos e um sorriso escapar volta e meia, quando a cabeça insiste em trazer a tona, o que o coração vive tentando deixar pra trás."

 (Caio Fernando Abreu)

Contrastes




Claudio Caldas Faria





A antítese do novo e do absoleto,
O Amor e a Paz, o Ódio e a Carnificina,
O que o homem ama e o que o homem abomina,
Tudo convém para o homem ser completo!

O ângulo obtuso, pois, e o ângulo reto,
Uma feição humana e outra divina
São como a eximenina e a endimenina
Que servem ambas para o mesmo feto!

Eu sei tudo isto mais do que o Eclesiastes!
Por justaposição destes contrastes,
Junta-se um hemisfério a outro hemisfério,

Às alegrias juntam-se as tristezas,
E o carpinteiro que fabrica as mesas
Faz também os caixões do cemitério!...

Augusto dos Anjos

Herança


André Alves




Submeteu-me aos seus anseios
Estive agachado a te olhar
Você era fortaleza 
Enjoava-se de mim
Com o menino que foi e
Um dia alguém clamou
Trouxe-me sei lá de onde esse olhar sério
Mas a testa enfezada
Igualou-se com a minha menos enrugada
Somos do mesmo tamanho
Herdei a altura que te ergue
Sirvo o verbo ser com movimento
Você não fez nada ser importante
Abro as nossas portas
Não ouso levantar meus tapetes
Areje-se com o filho que lembrará
Sim, sou parte sua
Queria rir
Com as cócegas que deixou de me fazer
Sou seu fôlego,
O esforço das suas mãos grossas
Delas, sobravam sovas
Repilo suas investidas
Porque já não quis as que um dia lhe chorei
No sofá que caberia no meio a sua presença
Nas curvas da estrada que percorrerei 
Levarei minhas memórias
Não serei um pranto sôfrego
Deus te cuidará.

André Alves

Amor Sempre Alerta




Angela Mendes






Seus sentidos sempre alerta
Emoção a flor da pele,
Seu coração uma porta aberta
Para aquele que amigo se revele,

Não se nega a doar e dar provas de amor,
Mergulha profundo no que se propõe
Reconhece do fecundo o seu valor
E vê beleza no horizonte onde o sol se põe.

Virtuosa criatura tão cheia de graça,
Eu não tenho como te revelar ao gentio.
Tu não tens cor, não tens sexo ou raça,
Mas és o cobertor daquele que sente frio.

Vou chamar-te de amigo se me permites,
Vales mais que os tesouros do mundo
Sintetizas o amor real que sei que existe
E eu o quero no meu eu mais profundo.

Tu existes no meio de nós e não nos conhecemos,
Tu vives à sombra na humildade, os teus dias,
Que saibamos amigos de verdade nós não temos,
Mas o fato de saber de ti me enche de alegria.

(Ubirajara)

Sua distância


Letícia Faversani



Sua distância
Deixa-me perto do vazio
Cheia de angústias e sonhos,
sonhos de uma realidade utópica
de enchentes de contradições,
de estiagens de amor.
Uma distância sem medidas
e medida todos os dias.
Uma distância sem tamanho
e maior do que o próprio pensamento
Uma distância
Invisível e indolor
que de ver pude escrever
e de ler,pude sentir

Aproximava-se





Ofelia T Cabaço Cabaço






Aproximava-se o Natal,
a criança só pensava na boneca,
nada mais lhe interessava,
nem o livro muito especial
que contava a história de uma caneca
que mágicamente a floresta atravessava,
ficava a criança cismada junto da
àrvore enfeitada, esperando o dia de Natal,
junto aos pastorinhos no presépio,
colocou seus sapatinhos já velhinhos
com algodão macio, para não terem arrepios,
a boneca nova havia de ter sapatinhos......
foi a criança dormir já cansada,
para acordar bem desperta para a consoada,
mas.....só quando a manhã rompeu é,
que reparou que tinha a boneca chegado,
linda, sofisticada,com um lindo boné,
trazia um xaile muito aconchegado,
estava muito frio e a noite foi longa.
A menina radiante foi brincar com sua
nova amiguinha e ensinar-lhe o seu canto,
apresentou-a à sua pantera, sem mais delongas,
também à sua boneca de trapos,num pranto,
e muito triste, caída no chão .................
naquela alegria incontida, a menina
deixou a boneca nova cair.......
em trinta bocados,de loiça fina,
a criança chorou, pois já não tinha
a sua boneca de vestidos de seda, mas,
tinha a outra boneca, que era de pano,
foi buscá-la, deu-lhe muitos beijinhos
e muito baixinho ao seu ouvido disse-lhe:
desculpa amiga, gosto muito de ti,
nunca me deixes......................

Ofélia cabaço - 27 de Maio de 2011


O rijo da vida


André Alves




Nasci da dor
Esta, uma palavra doída
Que me inferniza
Apropria-se do meu corpo negado
Venho de muitos meses, do reclamar
Surgi da falha da natureza
Mamãe era velha
Papai desorientado
Lugar propício para o sofrimento
Simples, deixo-me fundir a eles
Simplesmente vou
A culpa vem do existir
Mas uma vontade adulta me fez
Então não vim do nada!
Provocaram o meu andar, o meu falar
Tudo para não me deixar mais estranho
Rejeitado, sou filho de físicos cansados
Outras épocas me caberiam melhor
Dou-me ao desgosto
O gostoso fica onde?
Não aguardavam a criança
Afetuosa negação
Sou alguns de seus resquícios
De um homem passando dos 50 anos
E uma mulher chegando a eles
A memória de criança não me revela a dor do mundo
Mostra-me somente dois velhos cansados de mim
O insensível me rodeia
Meus medos se socorrem sozinhos
Não cumpri as leis da natureza
Sou um elo do improvável
Sou filho de mim mesmo
Sinto os detalhes dos seus cansaços
Como se eu fizesse algum esforço para suá-los.


André Alves

Aspirações do Coração




Angela Mendes






Amada seja a areia dessa praia
Por onde nossos pés caminham
E a gente brinca como criança
Sorrindo debaixo desse céu claro.
Venturoso seja esse mar azul
Que de tão longe a trouxe para mim
E sempre que o contemplo
Leva-me a você em pensamento.
Inesquecíveis são os seus beijos
Que adoçam a minha vida
E como um vício, minha amada
Deixam-me sempre a querê-los.
Inspirados sejam meus versos
Que não existiriam sem você
E assim sendo a faz estar presente
Em minha imaginação 24h por dia.
Reverenciada seja a sua alma
Que, de um sonho, transformou
Minha vida nesse mar de felicidade
Quando unimos nossos corações.
Eterno seja esse meu amor por você
Que de uma doce e ingênua paixão
Consagrou esses momentos
Que o tempo não apagará jamais.
Abençoado o momento que nos vimos
Quando meus olhos cruzaram os seus
E jamais esqueceu o caminho
Que me leva ao céu, que é seu coração.

(Renato Ferraz)

Você faz parte daqui