PROSAS EM VERSOS

SER POETA, É SENTIR AFLORAR DA PELE SENSIBILIDADE, É OUVIR O GRITO DOS QUE NADA DISSERAM, É VER POR UMA GAMA DE CORES INVISÍVEIS À MACROSCÓPICA VISÃO DOS INSENSÍVEIS, É PENETRAR IMPIEDOSAMENTE À ALMA HUMANA.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Chama


Carlos Menino Beija-flor



Vem com tua chama,
me chama para a cama, inflama
engole-me em teu vulcão
quero me encontrar na tua perdição.
Num labirinto do qual não quero mais sair;
só entrar,
até chegar a hora da gente sorrir
nesse abraço, nesse laço
num gozo fatal.
Vem, meu bem, me faz imoral.
Vamos brincar de gangorra, de cavalgar, de vai e vem,
de entra e sai,
cúmplices nessa zorra, só nós dois, mais ninguém,
e pela noite a gente vai
é o desejo que determina,
e quando a gente pensa que termina
faz tudo de novo depois
e pede mais.. e mais.
Ah! Deliciosa essa chama que incendeia nossos ais!


O sol se deita


Jose Carlos Ribeiro





Eu lhe dou um beijo em seu lábios,
Eu fechos os olhos e vejo você, 
Eu abro meus olhos e você ainda esta aqui.

Seu coração esta comigo,
Meus pensamentos voam em sua direção,
Seu rosto me faz sonhar,
Seu amor me faz vibrar.

Eu me entrego todo a você,
Meu sonho é de estar com você,
Hoje é unicamente em pensamentos,
Mas amanha tudo se ira realizar.

Nossos dois corações serão reunidos,
Eles serão unidos para a vida,
Ninguém poderá os separar,
Eu e você somos para a eternidade..

J.C.

Destruição



Mô Schnepfleitner




Os amantes se amam cruelmente 
e com se amarem tanto não se vêem. 
Um se beija no outro, refletido. 
Dois amantes que são? Dois inimigos. 

Amantes são meninos estragados 
pelo mimo de amar: e não percebem 
quanto se pulverizam no enlaçar-se, 
e como o que era mundo volve a nada. 

Nada. Ninguém. Amor, puro fantasma 
que os passeia de leve, assim a cobra 
se imprime na lembrança de seu trilho. 

E eles quedam mordidos para sempre. 
deixaram de existir, mas o existido 
continua a doer eternamente. 

Carlos Drummond de Andrade

A Floresta



Claudio Caldas Faria




Em vão com o mundo da floresta privas!.
- Todas as hermenêuticas sondagens, 
Ante o hieróglifo e o enigma das folhagens, 
São absolutamente negativas!

Araucárias, traçando arcos de ogivas,
Bracejamentos de álamos selvagens,
Como um convite para estranhas viagens,
Tornam todas as almas pensativas!

Há uma força vencida nesse mundo!
Todo o organismo florestal profundo
E dor viva, trancada num disfarce...

Vivem só, nele, os elementos broncos, 
As ambições que se fizeram troncos,
Porque nunca puderam realizar-se!

A. dos Anjos

Meu Porto Seguro!





Simone Ribeiro






Meu barco está sem rumo,

à deriva.
Procura teu corpo, 
meu porto.



Seguro...
Calmo.



Me deixa ancorar
nesse teu corpo
para te amar
para me acalmar.



Quero em teu porto ancorar
para que você me ame, 
me sinta e me aqueça
com teu amor...



Com teu olhar
pra me acalentar...



Quero ancorar em teu porto...
Quero acariciar o teu corpo...
Quero ficar em teu colo!



E dizer, bem dentro de teu ouvido:
- Te amo.... Te quero....

Autora: Simone Ribeiro
Achei meu caderno de poemas e poesias...Escrevi ísto em 1989! Meu preferido....

Oræ Maritimæ






Ligia Shlochmann





Este é o tempo das barcaças.
O mar sempre resta! O mar
É a massa de modelar
Do vento fazer desgraças.

Ah! que profunda alegria!
Vontade de comer ervas!
Pastar! Nova fantasia!
Erguer as salas das servas!

Sim! Pastar! Grama molhada
Onde brilha verde o sol!
Cuspir ostras de um farol
Numa barba almirantada!

Adeus! Irei pelos campos
Mordendo a grama com ardor
No meio dos pirilampos
Qual Nabucodonosor.

Destroçarei com meus dentes
As ovelhas desgarradas
E os pastores nas estradas
Me caçarão descontentes.

Mas sem me achar. Pois ao mar
já terei saltado então
Soltando gritos pelo ar
Como um pássaro poltrão.

Até que chegue a um navio
E urrando cheio de rum
Mate a todos, um por um,
Até deixá-lo vazio.

Então me dirijo a um porto,
Contrato a ralé da escória
E em capitão meio torto
Me sagro cheio de glória!

Pelos mares e oceanos
Baleia Bêbada é o barco!
O terror prepara o charco
Do pântano dos meus planos!

Mil cascos são abordados!
Embebedam-se os bebês!
Os varões viram varados!
E as damas lutam com seis!

Junto o ouro, o ouro, o ouro!
Os homens andam na prancha
E a minha pele se mancha
Das cores do meu tesouro!

O sol é dourado! O sol
É uma moeda afinal
Que ofusca, e que no arrebol
Tomba em seu cofre de sal!

A luz! A luz é a vida!
Mas a sinistra caterva
Só quer beber, e me enerva
Dançando entenebrecida.

Pulando do alto dos mastros
Como macacos no azul
E vomitando nos astros
Ondas de prata e paul.

Bebem, bebem noite e dia,
Vagalhões de vinho e gim
E só lhes surge no fim
Uma nenhuma alegria.

Enquanto a escutar o baque
De cada grogue que rola
Fazendo as contas do saque
Minha alma se enche de cola.

Imóvel, noites a fio,
Escriturando o tesouro
Enquanto como um besouro
Voa zunindo o navio.

Mas não! Não foi para isto
Que fugi de toda a terra!
Estranha estátua de Cristo
Largada nos chãos da guerra!

Não! Surge o sol. É a aurora!
Com um grito, armado de um pau,
Vou surrando toda a nau
Jogando os homens pra fora!

Pela borda! Urra! É a alegria!
Todos caem! Lá na água
Os tubarões neste dia
Não sentirão qualquer mágoa!

Jogo o resto deles! Lanço
Um lampião no paiol!
Tudo explode! Rumo ao sol
Como um foguete eu avanço!

Vou voando, enquanto chove
Minha gorda arca roubada
Sobre o mar que se comove,
Como uma chuva dourada!

Subo. Subo. O sol se amplia.
Desmaio. Acordo caindo
No continente, e ele rindo
Abre a bocarra sadia.

Vou tombar bem numa igreja!
Os fiéis, sem compreender,
Rezando, temem que eu seja
Um anjo, e choram, por crer!

Surro todos eles. Corro
Para o campo. Atrás de mim
Ferozes, com o seu mastim,
Vêm já os pastores de gorro.

Depois os donos do barco,
E os parentes dos saqueados,
E os outros, de amor bem parco,
Surgem por todos os lados!

Querem todos me pegar!
Vêm correndo! Chegam perto!
Mas como um monstro desperto
Eu paro e grito a babar!

Vôo em cima deles! Chuto
Suas cabeças sem nada!
Quebro, espanco, e como um bruto
Fujo da terra empestada!

Fujo, idiota e feliz,
Para o sol, o sol, o sol,
Que ri como um grande atol
De dentes de ouro e de giz!

Fujo, correndo, a alma fora,
Sorrindo, o eleito do dia,
Até chegar aonde mora
A eterna e interna alegria!

Em busca de algo, o futuro,
Que ri porque vai viver
E já boceja a se erguer
Enquanto me olha do escuro

Chegando lá, e escarrando
No que houve antes, e assim
Gargalhando, e vos rasgando,
Vida e versos. Logo: Fim!

Alexei Bueno


Ambiciosa





Claudio Caldas Faria





Para aqueles fantasmas que passaram,
Vagabundos a quem jurei amar,
Nunca os meus braços lânguidos traçaram
O voo dum gesto para os alcançar ...

Se as minhas mãos em garra se cravaram
Sobre um amor em sangue a palpitar ...
__Quantas panteras bárbaras mataram
Só pelo raro gosto de matar !

Minh’ alma é como a pedra funerária
Erguida na montanha solitária
Interrogando a vibração dos céus !

O amor dum homem ? __Terra tão pisada,
Gota de chuva ao vento baloiçada ...
Um homem ? __Quando eu sonho o amor de um Deus ! ...

Florbela Espanca
Charneca em Flor (1930).


Quando



Aníbal Bastos





Só quando se erguer a voz e disser não,
Ao destino que se mostra adverso,
Reunir o que de bom anda disperso,
Se hasteará a bandeira da razão!

Só quando se puser termo à podridão
Que está assolando o universo,
Se acabará com o poder do perverso
Que julga ter o mundo em sua mão!

Só quando bem alto se disser: - Basta!
A quem em nome da paz semeia guerra,
A verdade não mais será palavra gasta!

Só quando a justiça triunfar,
Sobre o erro que domina a Terra,
Podereis ver no mundo a paz reinar!

A. Bastos (Júnior)

A Música



Angela Mendes




A música p'ra mim tem seduções de oceano!
Quantas vezes procuro navegar,
Sobre um dorso brumoso, a vela a todo o pano,
Minha pálida estrela a demandar!

O peito saliente, os pulmões distendidos
Como o rijo velame d'um navio,
Intento desvendar os reinos escondidos
Sob o manto da noite escuro e frio;

Sinto vibrar em mim todas as comoções
D'um navio que sulca o vasto mar;
Chuvas temporais, ciclones, convulsões

Conseguem a minh'alma acalentar.
— Mas quando reina a paz, quando a bonança impera,
Que desespero horrivel me exaspera!

Charles Baudelaire, in "As Flores do Mal"
Tradução de Delfim Guimarães

Diamante





Ereni Wink




Veste-se de cetim, e branca anágua,

Seus lábios de mel são natureza.

Tens a liberdade e estás presa:
Pequena rocha; tão fresca água.



Tens o coração atado à mágoa.

Nos teus olhos pende a represa:

Manto de burel, chora a tristeza,

Corpo e alma na acesa frágua…



Outro caminho não se vislumbra:

Se a louca viagem for na penumbra,
No teu destino; no teu mirante:



Insubmissa às palavras jazidas

Deixaste cair as letras vencidas
És a minha rocha e o meu diamante…


(Rogério Martins Simões)

Abro os Braços



Ereni Wink






Abro os meus braços
Abraço a natureza
Sem firmeza nos passos
Pois o corpo já me pesa.
Alcanço o sol
Beijo a lua
Bebo a água
Onde a água me leva…

Meu cheiro é rosmaninho…
Eis o meu percurso
Eis o meu caminho

Deixei fugir o tempo
Plano ao vento
É tarde...
A tarde é amena
Aceno lá de cima
Num tempo certo
Eis a minha alma serena
Vem céu!
Estás por perto.


Rogério Martins Simões
30-09-2004

Uma festa


Maria Salete Ariozi





Uma alegria contagiante no ar
As luzes coloridas, a brilhar
Uma música da moda a tocar
Todos animados, a dançar
Pelo jeito ninguém quer parar
Esse momento mágico, querem aproveitar
Ruim é saber que isso uma hora vai acabar
A magia vai cessar
A música vai se calar
A luz vai desligar
O sol vai raiar
Um dia normal vai começar!

Clarice Pacheco

Poema da Noite



Maria Salete Ariozi




Já chorei vendo fotos e ouvindo musica;
Já liguei só para ouvir uma voz;
Me apaixonei por um sorriso;
Já pensei que fosse morrer de saudade;
E tive medo de perder alguem especial... (e acabei perdendo)
Já pulei e gritei de tanta felicidade;
Já vivi de amor e fiz muitas juras eternas... "quebrei a cara muitas vezes!"
Já abracei para proteger;
Já dei risadas quando não podia;
Já fiz amigos eternos;
Amei e fui amado;
Mas tambem já fui rejeitado;
Fui amado e não amei...

Charles Chaplin

Se as minhas mãos pudessem desfolhar


Mô Schnepfleitner




Eu pronuncio teu nome
nas noites escuras,
quando vêm os astros
beber na lua
e dormem nas ramagens
das frondes ocultas.
E eu me sinto oco
de paixão e de música.
Louco relógio que canta
mortas horas antigas.

Eu pronuncio teu nome,
nesta noite escura,
e teu nome me soa
mais distante que nunca.
Mais distante que todas as estrelas
e mais dolente que a mansa chuva.

Amar-te-ei como então
alguma vez? Que culpa
tem meu coração?
Se a névoa se esfuma,
que outra paixão me espera?
Será tranqüila e pura?
Se meus dedos pudessem
desfolhar a lua!!

Federico Garcia Lorca

Quem Morre?


Maria Salete Ariozi





Morre lentamente
Quem não viaja,
Quem não lê,
Quem não ouve música,
Quem não encontra graça em si mesmo

Morre lentamente
Quem destrói seu amor próprio,
Quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente
Quem se transforma em escravo do hábito
Repetindo todos os dias os mesmos trajeto,
Quem não muda de marca,
Não se arrisca a vestir uma nova cor ou
Não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente
Quem evita uma paixão e seu redemoinho de emoções,
Justamente as que resgatam o brilho dos
Olhos e os corações aos tropeços.

Morre lentamente
Quem não vira a mesa quando está infeliz
Com o seu trabalho, ou amor,
Quem não arrisca o certo pelo incerto
Para ir atrás de um sonho,
Quem não se permite, pelo menos uma vez na vida,
Fugir dos conselhos sensatos...

Viva hoje !
Arrisque hoje !
Faça hoje !
Não se deixe morrer lentamente !

NÃO SE ESQUEÇA DE SER FELIZ

Martha Medeiros

Dever de sonhar


Maria Salete Ariozi





Eu tenho uma espécie de dever, dever de sonhar, de sonhar sempre,
pois sendo mais do que um espetáculo de mim mesmo,
eu tenho que ter o melhor espetáculo que posso.
... E, assim, me construo a ouro e sedas, em salas
supostas, invento palco, cenário para viver o meu sonho
entre luzes brandas e músicas invisíveis.

Fernando Pessoa

Você faz parte daqui