PROSAS EM VERSOS

SER POETA, É SENTIR AFLORAR DA PELE SENSIBILIDADE, É OUVIR O GRITO DOS QUE NADA DISSERAM, É VER POR UMA GAMA DE CORES INVISÍVEIS À MACROSCÓPICA VISÃO DOS INSENSÍVEIS, É PENETRAR IMPIEDOSAMENTE À ALMA HUMANA.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Calma



Maria Salete Ariozi



Chove lá fora...
Sinto o rio da solidão dentro de mim...
A vida se faz vazia de mim mesma...
E eu procuro desesperadamente...
A menina de olhar triste
Que deixei em alguma esquina do passado.
Conflitos perturbam meu coração...
Açoitam minha alma...
Que caminhos deverão seguir meus passos?
Meu olhar inerte
Perde-se no vidro frio da janela molhada...
Minha alma está fria, distante, perdida...
Quero encontrar perguntas...
Quero saber as respostas...
Quero ouvir meu coração...
Mas ele insiste em falar numa língua
Que eu não consigo entender...
Sinto-me analfabeta de meus sentimentos...
Logo eu que sempre tive certeza
Do que queria e dos caminhos a seguir...
Sinto que estou caminhando no escuro...
Meus olhos estão vendados
Está frio e escuro o meu destino...
É preciso enxergar a luz...
E a única coisa que posso fazer:
Elevar a Deus as minhas preces,
Pedir socorro,
Pedir ajuda...
Agradecer...
Porque Ele me ouve,
Talvez possa me dizer respostas
Para as perguntas que não fiz.
Olho a chuva,
Sinto-me só,
Está escuro...
Ouço uma voz...
Uma canção...
Um soluço...
Um suspiro...
É a saudade,
É a tristeza,
É a solidão...
Dizendo “Olá” ao meu coração...
É um suspiro longínquo da alma
Que pede soluçando...
Calma!!!

Neide Cunningham

Vontade . (Paula Teixeira)



Paula Teixeira




Ñao quero te conquistar,
nem sequer te ilusionar 
somente quero 
os teus lábios, beijar.
Na profundeza
da tua mirada, afogar.
No azul dos teus olhos 
sonhar...
Ao amanhecer, 
triste e só ,
me lembro de voce.
Pelas ruas ,
sigo os teus passos
para ver se em voce,
me esbarro,
e poder sentir,
tudo aquilo ,
que me cativou,
já que nos teus olhos azuis ,
a esperança brilhou , 
como raios de amor...

Paula Teixeira.
Set. 2012.

Noiva aquática (Jorge Morais)





noiva aquática
cristalina vestida
vendaval de vida
na existência expressa
representada na agua
ela própria declarada
e chamada
vida
revoltos cabelos
galope imaginário
faz esvoaçar
véu transparente
sensação vidente
de roupa amachucada
do lado contrario
imaginação forte
quiçá o noivo
de vento vestido
esteja escondido
no lugar prometido
a espera da ventava 
que não soprava 
cuja viagem 
já se chamava
quadrante norte 

jorge morais

Mascarados


Angela Mendes




Saiu o Semeador a semear
Semeou o dia todo
e a noite o apanhou ainda
com as mãos cheias de sementes.
Ele semeava tranqüilo
sem pensar na colheita
porque muito tinha colhido
do que outros semearam.
Jovem, seja você esse semeador
Semeia com otimismo
Semeia com idealismo
as sementes vivas
da Paz e da Justiça.

Cora Coralina

O poema acima, inédito em livro, foi publicado pelo jornal "Folha de São Paulo" — caderno "Folha Ilustrada", edição de 04/07/2001

Assim eu Vejo a Vida



Angela Mendes



A vida tem duas faces:
Positiva e negativa
O passado foi duro
mas deixou o seu legado
Saber viver é a grande sabedoria
Que eu possa dignificar
Minha condição de mulher,
Aceitar suas limitações
E me fazer pedra de segurança
dos valores que vão desmoronando.
Nasci em tempos rudes
Aceitei contradições
lutas e pedras
como lições de vida
e delas me sirvo
Aprendi a viver.

Cora Coralina

Noturno



Maria Salete Ariozi




Amor! Anda o luar, todo bondade,
Beijando a Terra, a desfazer-se em luz...
Amor! São os pés brancos de Jesus
Que anda pisando as ruas da cidade!

E eu ponho-me a pensar... Quanta saudade
Das ilusões e risos que em ti pus!
Traças em mim os braços duma cruz,
Neles pregaste a minha mocidade!

Minha alma que eu te dei, cheia de mágoas,
É nesta noite o nenúfar de um lago
Estendendo as asas brancas sobre as águas!

Pois as mãos nos meus olhos, com carinho,
Fecha-os num beijo dolorido e vago...
E deixa-me chorar devagarinho...

Florbela Espanca

Tempo (Ligia Shlochmann)




Ligia Shlochmann




O tempo é voraz
quanto mais corre,
fico mais lento,
nesse exato momento 
acordo ao relento.
Olhando, eis que 
está você ......
me fazendo juras de amor
não acredito, ninguém, nem o tempo.

Ligia Shlochmann
inv/set/2012.

Amor Pleno




Angela Mendes



Se amar em plenitude,
amar e ser amado
fosse simples, óbvio,
não seria o amor tão
querido, tão desejado.

O amor não se procura,
simplesmente se descobre,
não o vemos, só o sentimos.
De todos os sentimentos
dos humanos, é ele o mais
copioso e transcendente,
o mais pudico e nobre.

É preciso prudência ao ouvir
ou ao emitir a exclamação:
Te amo! Pois o amor pleno
edifica-se sobre a égide
da razão e da emoção,
não admitindo ele,
impressão ou engano!

Antônio Poeta

Inconstância



Maria Salete Ariozi




Procurei o amor, que me mentiu.
Pedi à vida mais do que ela dava;
Eterna sonhadora edificava
Meu castelo de luz que me caiu!

Tanto clarão nas trevas refulgiu,
E tanto beijo a boca me queimava!
E era o sol que os longes deslumbrava
Igual a tanto sol que me fugiu!

Passei a vida a amar e a esquecer...
Atrás do sol dum dia outro a aquecer
As brumas dos atalhos por onde ando...

E este amor que assim me vai fugindo
É igual a outro amor que vai surgindo,
Que há-de partir também... nem eu sei quando...

Florbela Espanca

Para meu coração basta teu peito



Maria Salete Ariozi




Para meu coração basta teu peito
para tua liberdade bastam minhas asas.
Desde minha boca chegará até o céu
o que estava dormindo sobre tua alma. 

E em ti a ilusão de cada dia.
Chegas como o sereno às corolas.
Escavas o horizonte com tua ausência
Eternamente em fuga como a onda.

Eu disse que cantavas no vento
como os pinheiros e como os hastes.
Como eles és alta e taciturna.
e intristeces prontamente, como uma viagem.

Acolhedora como um velho caminho.
Te povoa ecos e vozes nostálgicas.
eu despertei e as vezes emigram e fogem
pássaros que dormiam em tua alma.

Pablo Neruda

Venho (Ligia Shlochmann)




Ligia Shlochmann



VENHO DO ADVENTO
DESSE VENTO DESENHO...O TEMPO.
VEJO GIRAR A RODA DO ENGENHO,
SINHÁ E MENINA..CORREM RECOLHER 
ANIMAIS E CRIANÇAS
..QUE O MINUANO VENTO
VEM DOS ANDES....
O CATA-VENTO RODANDO 
MEU PRIMEIRO AMOR CORTOU
MEU CORAÇÃO COM 
AS HASTES PÂMPANAS
UM DIA VENHO DO ADVENTO
PARA MEUS OLHOS POUSAREM
AO VENTO QUE VENHO
MEU ÚNICO AMOR..

Ligia Shlochmann
inv/set/2012.

A Árvore da Serra




Ereni Wink




- As árvores, meu filho, não têm alma!
E esta árvore me serve de empecilho...
É preciso cortá-la, pois, meu filho,
Para que eu tenha uma velhice calma!

- Meu pai, por que sua ira não se acalma?!
Não vê que em tudo existe o mesmo brilho?!
Deus pôs almas nos cedros... no junquilho...
Esta árvore, meu pai, possui minha'alma!...

- Disse - e ajoelhou-se, numa rogativa:
"Não mate a árvore, pai, para que eu viva!"
E quando a árvore, olhando a pátria serra,

Caiu aos golpes do machado bronco,
O moço triste se abraçou com o tronco
E nunca mais se levantou da terra!

AUGUSTO DOS ANJOS

Terra um imenso jardim



Angela Mendes




Que metamorfose desta mulher
No seu período de fertilidade,
Quantas cores, quantas flores,
Quantos enfeites e sagacidade.

Terra mulher sempre fértil
Não chegastes à menopausa;
És descrita em Gêneses
Por Deus em nossa causa.

Como mulher tens teus períodos
Nas estações do ano;
Mas é a primavera que se espera
Com as flores e seus coloridos.

És mistério, parte do universo;
Sob o manto celeste repousa,
Estende-se além do infinito
Na vastidão dispersa.

Parabéns por tua era,
Por tuas cores, tuas flores,
Por este jardim imenso,
Por este amor de primavera.

JANDERLEI NASCIMENTO

Tu diz.. (Jose Carlos Silva)




Jose Carlos Silva




Tu diz que gostas da chuva
Mas tu fechas a janela.

Tu diz que gostas das flores
Mas tu as cortas.

Tu diz qua gostas dos peixes
Mas tu os comes.

Tu diz que gostas dos cães 
Mas tu os tem acorrentados.

Tu diz que gostas dos passarinhos
Mas tu os metes na gaiola.

A tão quando tu diz que gostas de mim
Eu tenho medo...

J.C.

Um poema para domingo...


Angela Mendes





“Não estejas longe de mim um só dia,
Porque, não sei dizê-lo, é comprido o dia,
e te estarei esperando como nas estações
quando em alguma parte dormitaram os trens.
Não te vás por uma hora porque então
nessa hora se juntam as gotas do desvelo
e talvez toda a fumaça que anda buscando a casa
venha matar ainda meu coração perdido.
Ai que não se quebrante tua silhueta na areia
Ai que não voem tuas pálpebras na ausência
Não te vás por um minuto, bem-amado,
Porque nesse momento terás ido tão longe
que eu cruzarei toda a terra perguntando
se voltarás ou se me deixarás morrendo.” 

(Pablo Neruda)

Murió al amanecer




Paula Teixeira




Noche de cuatro lunas
y un solo árbol,
con una sola sombra
y un solo pájaro.

Busco en mi carne
las huellas de tus labios.
El manantial besa al viento
sin tocarlo.

Llevo el no que me diste,
en la palma de mi mano,
como un limón de cera
casi blanco.

Noche de cuatro lunas
y un solo árbol,
En la punta de una aguja,
Está mi amor ¡girando!

traduçao : port.( Paula Teixeira)

Morreu ao amanhecer.

Noite de quatro luas
e uma só árvore,
com uma sozinha sombra
e um só passáro.

Busco na minha carne
as marcas dos teus lábios
o manancial beija aos ventos
sem tocá-los.

Levo o Ñao que me diste
na palma da mao,
como um limao de cera,
quase branco.

Noite de quatro luas
e uma só árvore,
na ponta de uma agulha
está o meu amor ! girando!

(Federico García Lorca - Marta Gómez)

Tem pessoas




Lucinha Santos




Tem pessoas que trazem nos olhos o brilho das estrelas.
E por mais que o vento passe tirando tudo do lugar...
E lá vai ela tentando alcançar os seus sonhos, acertar os passos
E por essa ousadia de não ter medo e acreditar...
Ela chega aonde quer chegar
Por que há nessas pessoas a felicidade de viver.
A mágica de trazer um sorriso na alma apesar da dor.
E saber caber no abraço que a vida traz em todo amanhecer.

(Rosi Alves)

Pássaro preso (Jorge Morais)




Jorge Morais


pássaro preso
asas cortadas
liberdade dilacerada
possessão inquietante
colibri engaiolado
por tirano empossado
que devia ser julgado
e logo algemado
por tão bela ave
ter aprisionada
espírito esvoaçando
com asas coloridas
porque acorrentado o corpo
com grilhetas invisíveis
jamais poderá prender
o que tem dentro do ser
consciência desmedida
voa alto o pensamento
que este liberdade goza
nem rei poderá
um só momento
fazer julgamento
e ter como entendimento
como se sente
uma mulher enclausurada

jorge morais

Só (João Paulo Brasileiro)




João Paulo Brasileiro





Só vejo meu amor quando fecho os olhos!
Só falo com meu amor quando me calo!
Só vou até meu amor quando durmo!
Só tenho meu amor quando de tudo me desfaço!
Só um abraço...
Que por tudo faço!
Só esperança...
De poder tê-la em minha lembrança!

Amor eterno amor... (Simone Ribeiro)





Simone Ribeiro




Quão eterno pode ser?
Fala - se muito..

Alma gêmea...
Mas o que é?
Como saber?

Amor perfeito?
Virou flor...

Esperar por essa alma?
Até quando?
Virar esqueleto?
Parar de respirar...

Se for o que penso...
Já o encontrei...
Pois...
Pensamos da mesma forma...
Temos os mesmos conceitos...
Somos e seguimos a mesma filosofia...
Temos um carinho enorme um pelo outro...

E ai?
Como descobrir...
Qual a fórmula?
Qual o pensador?
Qual o estudioso?

Difícil né?
Várias indagações...
E nenhuma resposta....


Não te amo como...




Lucinha Santos



‎"Não te amo como se fosse rosa de sal, topázio
ou flecha de cravos que propagam o fogo:
te amo secretamente, entre a sombra e a alma.
Te amo como a planta que não floresce e leva

dentro de si, oculta, a luz daquelas flores,
e graças a teu amor vive escuro em meu corpo
o apertado aroma que ascende da terra.

Te amo sem saber como, nem quando, nem onde,
te amo diretamente sem problemas nem orgulho:
assim te amo porque não sei amar de outra maneira,

Se não assim deste modo em que não sou nem és
tão perto que a tua mão sobre meu peito é minha
tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho."

Pablo Neruda

Luminosidade aviva (Jorge Morais)




Jorge Morais


luminosidade aviva
tom de fim de tarde
resplandece
sombra chinesa saída
erguendo-se de
lago de agua parada
no chão se encontra caída
à espera de ser recolhida
reciclada lâmpada vivida
para voltar de novo
à vida
cumprindo o papel
para a qual foi criada
lâmpada tela feita
projecta película
de amores. avermelhados
deixa transparecer calor
contido na própria cor
que se mantenha no chão
deitada
para não finalizar o filme
que a lâmpada fique
no caminho
e não possa ser
levantada

jorge morais

O Que Nos Torna Incríveis








"O ser humano é tão complexo, tão complicado na forma de lidar com as coisas e de se relacionar com o outro que ele próprio torna a sua vivência praticamente numa espécie de "luta pela sobrevivência". É como se todo o tempo ele estivesse sendo testado, competindo e com isso tendo que provar alguma coisa a alguém. Soa dramático? Pode ser, mas se você olhar ao seu redor e talvez para dentro de sí mesmo verá que não há exagero. Certamente você conhece pessoas assim, estressadíssimas e/ou infelizes pelo simples fato de transformar tudo em problema. Ou que tentam achar um sentido oculto em absolutamente tudo e com isso perdem a essência, o prazer de realizar algo descompromissado simplesmente por não ter uma resposta enorme 
que justifique um ato. "Tomar um café expresso numa padaria e sair? Por que? Eu nunca parei nesse lugar antes... E por que fulano está me convidando? Aposto que quer pedir alguma coisa..." Que triste pessoas que pensam assim. Pare, saboreie seu café e pronto. O que importa é o fato de exercer a simplicidade. Tente trazer essa leveza para a sua vida. Lembra do poema de Drummond? "No meio do caminho havia uma pedra. Havia uma pedra no meio do caminho...". Pois é, era realmente só uma pedra. Dificil é ser simples. Mas dificil mesmo é ser...

CLAUDIA BRAGA

Loucura (Aníbal Bastos)




Aníbal Bastos





Dizer-se que este mundo está louco…
Que anda a jogar à cabra-cega!
Pode parecer muito, mas não chega,
Pois, por mais que se diga, é muito pouco!

Já se viu, algum dia, tanto mouco
Que é mouco, porque a ouvir se nega!
E louco, porque só um louco entrega,
O destino, nas mãos de um taralhouco!

Como se não bastasse a desventura,
Ainda se assiste ao desconsolo,
De haver quem apoie esta loucura!

E neste tenebroso atoleiro,
Vê-se a incompetência ir ao colo,
De quem sonha com o outro poleiro!

A. Bastos (Júnior)

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