PROSAS EM VERSOS

SER POETA, É SENTIR AFLORAR DA PELE SENSIBILIDADE, É OUVIR O GRITO DOS QUE NADA DISSERAM, É VER POR UMA GAMA DE CORES INVISÍVEIS À MACROSCÓPICA VISÃO DOS INSENSÍVEIS, É PENETRAR IMPIEDOSAMENTE À ALMA HUMANA.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Terra lavrada (Jorge Morais)





terra lavrada
semente lançada
árvore nascida
tronco membrado
ao solo enraizado
fonte de vida
trás a força
esventrada
do subsolo fecundada
estende-se em raízes
por demais
afirmada
imponente se mostra
deixando sombrear
junto ao pé
para não se queimar
eis magnificente
aqui apresentada
rejeitando assim
ser arrancada

jorge morais

No Campo




Claudio Caldas Faria




Tarde. Um arroio canta pela umbrosa
Estrada; as águas límpidas alvejam
Como cristais. Aragem suspirosa
Agita os roseirais que ali vicejam.

No Alto, entretanto, os astros rumorejam
Um presságio de noute luminosa
E ei-la que assoma - a louca Tenebrosa,
Branca, emergindo às trevas que a negrejam.

Chora a corrente múrmura, e, à dolente 
Unção da noute, as flores também choram 
Num chuveiro de pétalas, nitente,

Pendem e caem - os roseirais descoram
E elas bóiam no pranto da corrente
Que as rosas, ao luar, chorando enfloram.

A. dOS ANJOS

Servidão (Aníbal Bastos)




Aníbal Bastos




Ver o mundo viver em igualdade,
É utopia! É sonho! É ilusão!
Mas ver homens condenados à escravidão,
Por outros homens, é pura crueldade!

Em nome de uma falsa realidade,
Criaram um sonho, uma ilusão,
Apoiando o consumo à exaustão,
Para depois vir exigir austeridade! 

Navegantes em rios de dinheiro 
Para quem o povo é um simples trapo 
Onde limpam os pés a tempo inteiro!

Com isto, o hediondo submundo,
Com a fome alheia enche o papo,
E, torna este mundo mais imundo!

A. Bastos (Júnior)

Silêncio. (Paula Teixeira)



Paula Teixeira



Qual é a cor do silencio ?
As vezes lhe vejo vestido de branco,
frio e cortante...
Como laminas de gelo ,
que se congelam em segredo...
A distancia é mortal !
Palavras perdidas,
escritas numa triste melodia ,
em uma tarde fria , se foi ...
me deixou sem cobertor ,
o silencio atraves dos tempos,
sua voz se apagou ,
outro inverno chegou,
nem o vento sussurrou ,
naquela fria tarde ,
em que a morte nos separou...

Paula Teixeira.
Set. 2012

Amor é síntese




Jose Carlos Silva




Por favor não me analise,
Não fique procurando cada ponto fraco meu,
Se ninguém resiste a uma análise profunda,
Quanto mais eu
Ciumento, exigente, inseguro, carente,
Todo cheio de marcas que a vida deixou.
Vejo em cada grito de exigência
Um pedido de carência, um pedido de amor.
Amor é síntese,
É uma integração de dados,
Não há que tirar nem pôr.
Não me corte em fatias,
Ninguém consegue abraçar um pedaço,
Me envolva todo em seus braços
E eu serei perfeito, amor.

Mário Quintana

A minha estrela


Ereni Wink






E eu disse - Vai-te, estrela do Passado! 
Esconde-te no Azul da Imensidade, 
Lá onde nunca chegue esta saudade, 
- A sombra deste afeto estiolado. 

Disse, e a estrela foi p’ra o Céu subindo, 
Minh’alma que de longe a acompanhava, 
Viu o adeus que do Céu ela enviava, 
E quando ela no Azul foi-se sumindo 

Surgia a Aurora - a mágica princesa! 
E eu vi o Sol do Céu iluminando 
A Catedral da Grande Natureza. 

Mas a noute chegou, triste, com ela 
Negras sombras também foram chegando, 
E nunca mais eu vi a minha estrela!

Augusto dos Anjos

Meu bom cárcere (André Alves)


André Alves



Concordo com o passado
Desafio o presente
Futuro...
Incerto
Sou preso pela escrita
Arte não passageira
Museus vivos
Solidariedade
Nem todos os dias são sábios
Alguns burros
Outros menos servis
Relâmpagos
Tempestades
E num momento único
Sou sombra do universo
As palavras me seguem
Imãs
Conversas
Cozinhas
Salas
Megulho nos abismos de mim mesmo
Posso ver o futuro
Não o meu
São das personagens
Sou as peles das sensações
Os seus confidentes
O futuro me cabe
Aconchega-se na minha tremura
Escrita rica
Dá-me o poder de sentir o que outros viveram
Profissão intensa
Universo de muita gente.

André Alves

Resposta (Basilina Divina Pereira )



Basilina Divina Pereira 

 
Resposta ao POETamigo CLÁUDIO




Amigo das letras belas,

da poesia que floresce
com os enigmas que são dela
feito caminhos de prece.



Muito me apraz teu sorriso
e esse elã que segue o vento,
entendeste que é preciso
colorir o pensamento.



Gostei demais dos teus versos,
dando adeus à cor do inverno,
semeando tons diversos.



Questiono só o repouso “eterno”,
que esse caminho é inverso
será mesmo assim tão terno?

Basilina Pereira

Nunca deixe de fazer algo


Fatima Pessoa



‎"Nunca deixe de fazer algo de bom, pois o tempo poderá passar e as oportunidades também..."


META: a gente busca
CAMINHO: a gente acha
DESAFIO: a gente enfrenta
VIDA: a gente inventa
SAUDADE: a gente mata
SONHO: a gente realiza
AMIGOS: a gente não esquece
FELICIDADE: a gente encontra
Faça o que o seu coração lhe pede!"

(Desconheço a autoria)

Branca de neve




Angela Mendes



Eu te guardo no fundo da memória,
como guardo, num livro, aquela flor
que marca a tua delicada história,
Branca de Neve, meu primeiro amor.

Amei-te... E amei-te, figurinha aluada,
porque nunca exististe e porque sei
que o sonho é tudo — e tudo mais é nada...
E és o primeiro sonho que sonhei.

Hoje ainda beijo, comovido e tonto,
a velha mão que um dia me mostrou
aquela estampa do teu lindo conto,
princesinha encantada de Perrault!

Que fui eu afinal? — Um pobre louco
que andou, na vida, procurando em vão
sua Branca de Neve que era um pouco
do sonho e um pouco de recordação...

Procurei-a. Meus olhos esperaram
vê-la passar com flores e galões,
tal qual passaste quando te levaram,
no ataúde de vidro, os sete anões.

E encontrei a Saudade: ia alva e leve
na urna do passado que, afinal,
é como o teu caixão, Branca de Neve:
é um ataúde todo de cristal.

E parecia morta: mas vivia.
Corado do meu beijo que a roçou,
despertei-a do sono em que dormia,
como o Príncipe Azul te despertou.

Sinto-me agora mais criança ainda
do que naqueles tempos em que li
a tua história mentirosa e linda;
pois quase chego a acreditar em ti.

É que o meu caso (estranha extravagância!)
é a tua história sem tirar nem pôr...
E esta velhice é uma segunda infância,
Branca de Neve, meu primeiro amor.

Publicado no livro Encantamento (1925).
GUILHERME DE ALMEIDA

Lirial




Claudio Caldas Faria



Porque choras assim, tristonho lírio,
Se eu sou o orvalho eterno que te chora,
P'ra que pendes o cálice que enflora
Teu seio branco do palor do círio?!

Baixa a mim, irmã pálida da Aurora,
Estrela esmaecida do Martírio;
Envolto da tristeza no delírio,
Deixa beijar-te a face que descora!

Fosses antes a rosa purpurina
E eu beijaria a pétala divina
Da rosa onde não pousa a desventura.

Ai! que ao menos talvez na vida escassa 
Não chorasses à sombra da desgraça, 
Para eu sorrir à sombra da ventura!

Augusto dos Anjos

Pássaros migratórios (Jorge Morais)





pássaros migratórios
em céus esquecidos
esvoaçam por espaços
abertos permitidos
janelas desfraldadas
abram auto-estradas
todas enumeradas
simbolizando amores
há muito emigrados
retidos
saudade que fica
num nu exposto
trata o corpo
a gosto
num azul de mar
de um tempo volvido
procura um olhar
no horizonte olvidado
admitido

jorge morais

Meus olhos veem, Minha alma chora.




Jose Carlos Silva



Meus olhos veem
Minha alma chora.
Nesse incessante olhar
Que não sentem
Mas veem,
Numa alma que não vê
Mas sofre e sente.

Meus olhos veem
Minha alma chora.

Na busca da perfeição
Perdi meu olhar
Tremulo, inseguro,
Tampouco minha alma sente
Perfeito que seja meu olhar.

Meus olhos veem
Minha alma chora.

E nos olhos que veem
E na alma que sente
Procuro, busco e rebusco
Outra visão do olhar
A paz sofrida da alma.

Meus olhos veem
Minha alma chora.

Sinto-me tão cansado,
Sem ânimo que eleve
Meu olhar perdido
Ou alma que revele
Sentimentos idos.

Meus olhos veem
Minha alma chora.

C.Rainha, 12/05/2012
M.A.Vaz da Silva Augusto

A dor



Maria Salete Ariozi




A dor é uma coisa estranha.
Um gato que mata um pássaro,
um acidente de automóvel,
um incêndio...

A dor chega,
BANG,
e eis que ela te atinge.

É real.

E aos olhos de qualquer pessoa pareces um estúpido.
Como se te tornasses, de repente, num idiota.

E não há cura para isso,
a menos que encontres alguém
que compreenda realmente o que sentes
e te saiba ajudar...

Charles Bukowski

Silêncio




Angela Mendes



É neste silencio em que me ouço
e procuro entender o meu eu.

Eu adorava tanto saber...

Já bebeste o meu amor
Mas eu ampliava a tua dor
E eu amei além da medida
da loucura da paixão
e mais eu sei que querias mais...
Mais...
Muito mais...

Mas é só neste silencio que eu posso gritar
é neste silencio que posso recordar
só neste silêncio eu posso te amar.

O silencio me abraça com dor
pois é tao grande o meu amor
que só com o silencio consigo amenizar
a tua ausência.

Quero ir numa longa viagem
aonde as lembranças venham com o tempo
sem me fazer chorar,

Sei que a sombra
permanecerá
e que tu nunca voltará
Mas quero ficar neste silêncio
sendo devorada
pelo sonho que um dia o sol nos iluminou...

Virá o Inverno e recordo em silêncio
o desejo... com que te amava ...

Sonia Pinto


Meu segredo


Angela Mendes




Não consigo olhar te nos olhos
e dizer que te amo
Não consigo me declarar
então me calo com os meus segredos

fugindo dos meus medos
me afundo num caminho de sombras
com uma cumplicidade
estendida sobre o pecado...
Meu segredo
é um sonho para mim
mas também um desalento sem fim...
Na minha garganta sinto um nó
que não quer desfazer
é um peso enorme que a minha alma consome
Sinto mas não devo dizer
que te amo
desde o meu dormir
até ao amanhecer
És como o sol no deserto
como água na cachoeira
és como sangue nas minhas veias
que permanece pela vida inteira
És meu segredo
que num grito
algum dia será revelado

Sonia Pinto

Entramos na casa



André Alves



Entramos na casa, mais miserável que a da cidade. Seu chão duro era varrido com piaçava que deixava a terra, de muitos pisados, limpa. Ali passava energia elétrica. Só não tínhamos o chuveiro elétrico. Então o meu Amigo acendeu o fogo com a lenha que guardava ao pé do fogão e eu apanhei um pouco de água. Não precisei de ir à bica. O interessante é que uma telha tinha cedido e num dos quartos caía uma goteira generosa que logo encheu o balde.
Fiquei a aquecer-me no calor do fogo enquanto Ele se banhava. Assim que saiu, corri com um balde cheio de água morna, despejei-a no chuveiro de lata e tomei o meu banho quente. Lembrava-me de cada coisa passada durante aquele dia. Podia escutar a gordura estalar. Estava com uma fome! O cheiro alertou os gatos no paiol. Os animais vieram até ao cardápio que exalava vapores e convocava o apetite de todos. E logo estavam miando, secando-se em volta do fogão quente e dos nossos barulhos.

André Alves

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