PROSAS EM VERSOS

SER POETA, É SENTIR AFLORAR DA PELE SENSIBILIDADE, É OUVIR O GRITO DOS QUE NADA DISSERAM, É VER POR UMA GAMA DE CORES INVISÍVEIS À MACROSCÓPICA VISÃO DOS INSENSÍVEIS, É PENETRAR IMPIEDOSAMENTE À ALMA HUMANA.

sexta-feira, 2 de março de 2012

A Tempestade



Daisi Oliveira de Souza




O pássaro e o homem tem essências diferentes. 
O homem vive à sombra de leis e tradições por ele inventadas; 
o pássaro vive segundo a lei universal que faz girar os mundos. 
Acreditar é uma coisa; viver conforme o que se acredita é outra. 
Muitos falam como o mar, mas vivem como os pântanos. 
Muitos levantam a cabeça acima dos montes; 
mas sua alma jaz nas trevas das cavernas. 
A civilização é uma arvore idosa e carcomida, 
cujas flores são a cobiça e o engano e cujas frutas 
são a infelicidade e o desassossego. 
Deus criou os corpos para serem os templos das almas. 
Devemos cuidar desses templos para que sejam 
dignos da divindade que neles mora. 
Procurei a solidão para fugir dos homens, de suas leis, 
de suas tradições e de seu barulho. 
Os endinheirados pensam que o sol e a lua e as estrelas se levantam 
dos seus cofres e se deitam nos seus bolsos. 
Os políticos enchem os olhos dos povos com poeira 
dourada e seus ouvidos com falsas promessas. 
Os sacerdotes aconselham os outros, 
mas não aconselham a si mesmos, 
e exigem dos outros o que não exigem de si mesmos. 
Vã é a civilização. E tudo o que está nela é vão. 
As descobertas e invenções nada são senão brinquedos 
com a mente se diverte no seu tédio. 
Cortar as distâncias, nivelar as montanhas, 
vencer os mares, tudo isso não passa de 
aparências enganadoras, que não alimentam o 
coração e nem elevam a alma. 
Quanto a esses quebra-cabeças, chamados ciências e artes, 
nada são senão cadeias douradas com os quais o homem 
se acorrenta, deslumbrados com seu brilho e tilintar. 
São os fios da tela que o homem tece desde o inicio 
do tempo sem saber que, quando terminar sua obra, 
terá construído a prisão dentro da qual ficará preso. 
Uma coisa só merece nosso amor e nossa dedicação, uma coisa só... 
É o despertar de algo no fundo dos fundos da alma. 
Quem o sente não o pode expressar em palavras. 
E quem não o sente, não poderá nunca conhecê-lo através de palavras. 
Faço votos para que aprendas a amar as tempestades em vez de fugir delas.

Kahlil Gibran

Tempestade




Daisi Oliveira de Souza



Redemoinhos de palavras,
Tornado de pontuações,
Ventania de frases,
Estrofes com colisões.

Tempestades da alma,
Chuvarada de sentimentos,
Garoa de ternura,
Brisa de pensamentos.

Constroem-se em ventos,
Que aos poucos vai juntando,
Como folhas de palavras,
Seguindo o pensamento.

Quando vem a tormenta,
Logo aparece a confusão,
Tudo bem rapidamente,
Parecendo um tufão.

(Paloma Stella Amaral)

Fado ou Sina




Aníbal Bastos





Por mais que se afirme
Que não há quem determine,
O nosso fado, ou destino,
Se a vida quantas vezes,
Nos prega tantos revezes
Que nos leva ao desatino!

Não aceitar de bom gosto,
O que nos seja imposto,
Contra a nossa vontade!
Pode ser: tentar ser forte,
Jogar a vida na sorte,
Iludir a realidade!

Porque, verdade se diga!
A má sorte não castiga,
Apenas quem é culpado!
Se existe tanta gente,
A sofrer constantemente,
Num inferno fabricado!

E nas coisas do amor,
O destino é o ditador
Que a sorte determina!
E por muito que tentemos,
E por mais voltas que demos,
Ninguém foge à sua sina!

Já quis provar o contrário,
Mas logo o meu calvário,
Surge à minha frente e diz:
- Não queiras ser diferente,
Esconde o que a alma sente
E finge que és feliz!

Contra o fado, ou sina,
Ou a força que domina,
Na nossa vida a vontade!
Vou continuar a lutar,
Para um dia poder provar,
Se é mentira, ou verdade!

A. Bastos (Júnior)

Só Por Hoje







Maria Salete Ariozi







SÓ POR HOJE DEIXO
MEU RISO
PARTIR...

SÓ POR HOJE PERMITO
A TRISTEZA
ENTRAR...

SÓ POR HOJE DOU O DIREITO
DAS LÁGRIMAS
ROLAREM...

SÓ POR HOJE SUPORTAREI
A SOLIDÃO,
MORAR
EM MEU CORAÇÃO...

SÓ POR HOJE DEIXO
O COLORIDO PARTIR,
PERMITINDO O
NEGRO EXISTIR...

SÓ POR HOJE ABAFO
MINHA
ALEGRIA ...

SÓ POR HOJE VIVEREI
O DIA
ENTRISTECIDA...

SÓ POR HOJE NÃO FALAREI
DE AMOR...

SO POR HOJE FINJO
NÃO EXISTIR
MEU EU...

SÓ POR HOJE DOU LUGAR
AO SOFRIMENTO.

SÓ POR HOJE,
E NÃO MAIS !!

((Salete ))



Se Me Esqueceres





Fernando Martinho






Quero que saibas
uma coisa.

Sabes como é:
se olho
a lua de cristal, o ramo vermelho
do lento outono à minha janela,
se toco
junto do lume
a impalpável cinza
ou o enrugado corpo da lenha,
tudo me leva para ti,
como se tudo o que existe,
aromas, luz, metais,
fosse pequenos barcos que navegam
até às tuas ilhas que me esperam.

Mas agora,
se pouco a pouco me deixas de amar
deixarei de te amar pouco a pouco.

Se de súbito
me esqueceres
não me procures,
porque já te terei esquecido.

Se julgas que é vasto e louco
o vento de bandeiras
que passa pela minha vida
e te resolves
a deixar-me na margem
do coração em que tenho raízes,
pensa
que nesse dia,
a essa hora
levantarei os braços
e as minhas raízes sairão
em busca de outra terra.

Porém
se todos os dias,
a toda a hora,
te sentes destinada a mim
com doçura implacável,
se todos os dias uma flor
uma flor te sobe aos lábios à minha procura,
ai meu amor, ai minha amada,
em mim todo esse fogo se repete,
em mim nada se apaga nem se esquece,
o meu amor alimenta-se do teu amor,
e enquanto viveres estará nos teus braços
sem sair dos meus.

Pablo Neruda, 
in "Poemas de Amor de Pablo Neruda"

Te Procurei



Angela Mendes




Esses dias...
me perdi de mim.
Te procurei...
na solidão dos meus momentos
e te encontrei como essência de vida.
Esses dias...
me perdi de você,
porque não pude estar perto.
Procurei...
na beleza dos meus sentimentos
vestígios da sua presença.
Te encontrei...
como chama incessante
a aquecer o meu coração.
Você é a doce saudade trazida pela brisa,
que toca o meu rosto ao amanhecer.
É a canção harmoniosa,
que embala as minhas noites.
Te procurei...
no mais delicioso perfume.
Te descobri...
como suave fragrância que envolve o ar,
que chega até a minha emoção
fazendo nascer a inspiração que preciso,
para transformar sonhos,
em lindos poemas de amor.

-Lenilce Azevedo-

Livre




Fátima Custódio




Junto ao fogo que acendi
Um papel se incendiou
E desfez-se nas cinzas…
E com ele se apagou
A vida que não vivi.

Junto ao tempo que dormira
Um poema adormeceu
Mas numa manhã de Abril
Um poema renasceu
Como a Fénix Renascida 

Junto á treva passada
Nas margens dum pesadelo
A seiva da vida acordava,
Sendo a poesia o meu elo
E a liberdade inviolada!

Do meu corpo de mulher
Sai o sorriso e a mágoa,
Sai o choro, sai a poesia,
Leves como gotas de água,
E sou livre no meu ser…

Fátima Custódio

Desinteressadas e Preguiçosas


Josemir Tadeu Souza





Os versos,
agarram-se às rimas
com desespero...
poesias já não fluem
mansamente pelos trilhos,
como os trens.
Inspiração, divina luz,
se esforça, junta vinténs,
pra poder estar,
forma convicta,
inserida maviosa e bela
nos ditos da poesia.
Mas os milhões de olhos,
quem diria,
se afastam... mudam o foco.

O poetar corre como os dias,
sob a ação das estações.
Se arredias, frias, envilecem corações.
Se sob calor intenso,
os corpos, forma vazia,
tornam-se apenas quesitos.
Prazeres finitos.

Que os poetas
continuem o infinito poetar.
Mesmo que suas obras
corram o perigo
do fenecimento, de forma virgem,
sucumbindo sem serem lidas.
Mesmo que supostamente
as mentes temporariamente,
tornem-se "poeticamente"
desinteressadas e preguiçosas...

josemir(aolongo...)

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