PROSAS EM VERSOS

SER POETA, É SENTIR AFLORAR DA PELE SENSIBILIDADE, É OUVIR O GRITO DOS QUE NADA DISSERAM, É VER POR UMA GAMA DE CORES INVISÍVEIS À MACROSCÓPICA VISÃO DOS INSENSÍVEIS, É PENETRAR IMPIEDOSAMENTE À ALMA HUMANA.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Sem remédio

Claudio Caldas Faria



Aqueles que me têm muito amor
Não sabem o que sinto e o que sou...
Não sabem que passou, um dia, a Dor
À minha porta e, nesse dia, entrou.

E é desde então que eu sinto este pavor,
Este frio que anda em mim, e que gelou
O que de bom me deu Nosso Senhor!
Se eu nem sei por onde ando e onde vou!!

Sinto os passos de Dor, essa cadência
Que é já tortura infinda, que é demência!
Que é já vontade doida de gritar!

E é sempre a mesma mágoa, o mesmo tédio,
A mesma angústia funda, sem remédio,
Andando atrás de mim, sem me largar!


Florbela Espanca


Claudio Caldas Faria





Eu tenho pena da Lua!
Tanta pena, coitadinha,
Quando tão branca, na rua
A vejo chorar sozinha!...


As rosas nas alamedas,
E os lilases cor da neve
Confidenciam de leve
E lembram arfar de sedas


Só a triste, coitadinha...
Tão triste na minha rua
Lá anda a chorar sozinha ...


Eu chego então à janela:
E fico a olhar para a lua...
E fico a chorar com ela! ...

Florbela Espanca

A fé





Ereni Wink





A fé consciente é liberdade.
A fé instintiva é escravidão.
A fé mecânica é loucura.
A esperança consciente é força.
A esperança emocional é covardia.
A esperança mecânica é doença.
O amor consciente desperta o amor.
O amor emocional desperta o inesperado.
O amor mecânico desperta o ódio.

Paulo Coelho

Mistério



Claudio Caldas Faria



Gosto de ti, ó chuva, nos beirados,
Dizendo coisas que ninguém entende!
Da tua cantilena se desprende
Um sonho de magia e de pecados.

Dos teus pálidos dedos delicados
Uma alada canção palpita e ascende,
Frases que a nossa boca não aprende,
Murmúrios por caminhos desolados.

Pelo meu rosto branco, sempre frio,
Fazes passar o lúgubre arrepio
Das sensações estranhas, dolorosas…

Talvez um dia entenda o teu mistério…
Quando, inerte, na paz do cemitério,
O meu corpo matar a fome às rosas!

Florbela Espanca

Paixão Que Nos Devora




Angela Mendes




Ah! Paixão insana...profana...
Esmaga-me...retalha-me...
Resiste!!!
Persiste!!!

Ah! Essa paixão desenfreada...
Fantasia alucinada...
Almas acorrentadas..
Ironia camuflada da paixão...

Dois corpos na contramão...
Sucumbindo na escravidão...
Almas na escuridão!!!

Corpos separados...
Corpos incendiados...
Paixão e desejo desesperados.

Ah! Este amor que nos chama sem demora...
Amor que nos fascina...
Paixão que nos domina...

Eterna súplica delirante!
Lúdica calmaria de amor estonteante...
Bebo da fonte dos amantes..
Sugo o fruto extasiante...

Cascatas de água perfumada...
Por entre as flores...”Tu” me esperas...
Delírios...devaneios...
Nossas almas amantes se entregam por inteiro...

Fatinha


Quem Morre?




Tininha Dib





Morre lentamente
Quem não viaja,
Quem não lê,
Quem não ouve música,
Quem não encontra graça em si mesmo

Morre lentamente
Quem destrói seu amor próprio,
Quem não se deixa ajudar. 

Morre lentamente
Quem se transforma em escravo do hábito
Repetindo todos os dias os mesmos trajeto,
Quem não muda de marca,
Não se arrisca a vestir uma nova cor ou 
Não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente
Quem evita uma paixão e seu redemoinho de emoções, Justamente as que resgatam o brilho dos 
Olhos e os corações aos tropeços. 

Morre lentamente
Quem não vira a mesa quando está infeliz 
Com o seu trabalho, ou amor,
Quem não arrisca o certo pelo incerto 
Para ir atrás de um sonho, 
Quem não se permite, pelo menos uma vez na vida, Fugir dos conselhos sensatos... 

Viva hoje !
Arrisque hoje ! 
Faça hoje !
Não se deixe morrer lentamente !

NÃO SE ESQUEÇA DE SER FELIZ
Martha Medeiros

Tempo Certo




Ereni Wink




De uma coisa podemos ter certeza:
de nada adianta querer apressar as coisas;
tudo vem ao seu tempo,
dentro do prazo que lhe foi previsto.
Mas a natureza humana não é muito paciente.
Temos pressa em tudo e aí acontecem
os atropelos do destino,
aquela situação que você mesmo provoca,
por pura ansiedade de não aguardar o tempo certo. Mas alguém poderia dizer:
Qual é esse tempo certo?

Bom, basta observar os sinais.
Quando alguma coisa está para acontecer
ou chegar até sua vida,
pequenas manifestações do cotidiano
enviarão sinais indicando o caminho certo.
Pode ser a palavra de um amigo,
um texto lido, uma observação qualquer.
Mas, com certeza, o sincronismo se encarregará
de colocar você no lugar certo,
na hora certa, no momento certo,
diante da situação ou da pessoa certa. 

Basta você acreditar que nada acontece por acaso. Talvez seja por isso que você esteja
agora lendo estas linhas. 
Tente observar melhor o que está a sua volta.
Com certeza alguns desses sinais
já estão por perto e você nem os notou ainda. 
Lembre-se, que o universo sempre
conspira a seu favor quando você possui um
objetivo claro e uma disponibilidade de crescimento.

Paulo Coelho

Paulo Coelho






Ereni Wink



Um ancião índio norte-americano, certa vez, descreveu seus conflitos internos da seguinte maneira:
- Dentro de mim há dois cachorros. Um deles é cruel e mau. O outro é muito bom, e eles estão sempre brigando.

Quando lhe perguntaram qual cachorro ganhava a briga, o ancião parou, refletiu e respondeu:
- Aquele que eu alimento mais frequentemente.

Paulo Coelho

Ânimo


Lenir Castro




Um pouco
de benzo
não impulsiona
o dia
e nem comove 
a noite.
Levanta,
toma um
vinho,
leia Lorca,
vai ver que
a vida
desabrocha
ou debocha?

Clarice Lispector





Ereni Wink



Sendo este um jornal por excelência, e por excelência dos precisa-se e oferece-se, vou pôr um anúncio em negrito: precisa-se de alguém homem ou mulher que ajude uma pessoa a ficar contente porque esta está tão contente que não pode ficar sozinha com a alegria, e precisa reparti-la. Paga-se extraordinariamente bem: minuto por minuto paga-se com a própria alegria. É urgente pois a alegria dessa pessoa é fugaz como estrelas cadentes, que até parece que só se as viu depois que tombaram; precisa-se urgente antes da noite cair porque a noite é muito perigosa e nenhuma ajuda é possível e fica tarde demais. Essa pessoa que atenda ao anúncio só tem folga depois que passa o horror do domingo que fere. Não faz mal que venha uma pessoa triste porque a alegria que se dá é tão grande que se tem que a repartir antes que se transforme em drama. Implora-se também que venha, implora-se com a humildade da alegria-sem-motivo. Em troca oferece-se também uma casa com todas as luzes acesas como numa festa de bailarinos. Dá-se o direito de dispor da copa e da cozinha, e da sala de estar. P.S. Não se precisa de prática. E se pede desculpa por estar num anúncio a dilacerar os outros. Mas juro que há em meu rosto sério uma alegria até mesmo divina para dar.

Clarice Lispector

Poema e Natal




Angela Mendes




Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos -
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.

Assim será a nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos -
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.

Não há muito que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez, de amor
Uma prece por quem se vai -
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.

Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte -
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.

Vinicius de Moraes

Compasso de Calmaria




Angela Mendes




Já não falo de amor aos céus de pedra
nem firo as águas com os remos sujos.
Aprendi a viver.

O pulso de meus dias canta em mim
e a poesia é o espelho do espírito.
Contemplei-me, afinal.

Das altas persianas vejo o sol
ao compasso dos bosques inativos.
Paisagens são relâmpagos.

Agora, até os anjos compreendem
minha necessidade de estar só.
Sou incomunicável.

Porém esta conquista não é dádiva.
Lutei, buscando a ilha onde pudesse
enterrar meu tesouro.

Assim estou, mais pobre do que nunca.
Tudo o que fulgurava está oculto
e jamais volverá.

Vertigem de não ser meu próprio hóspede
nem ter memória em seu firmamento,
aqui estou, sozinho.

Nem pecados, nem gestos, nem trombetas
exploram minha lenda.Estou à espera
deste reino que é a morte.


Lêdo Ivo,
In O Sinal Metafórico



Ereni Wink





Para o Homem, 
há apenas há três acontecimentos: 
nascer, 
viver 
e morrer. 
Ele não sente o nascer, 
sofre ao morrer 
e esquece-se de viver.


Imaginando



Lúcinha Santos




E quando fecho os olhos
te imagino
sentado num banco de uma praça lendo um livro
E eu ao teu lado encostada no teu ombro
te imagino ligando o rádio e me pegando pela cintura
e puxando- me contra a ti ensaiando passos
imprecisos sem noção de tempo e espaço
Te imagino de cabelos molhados e eu
fazendo um afago com a pretenção de ficar com teu cheiro
na minha mão
Te imagino sorrindo quando deitado, eu me jogo em
seus braços e me aninho em teu peito pra dormir
Imagino as pipocas derramadas no chão
Imagino tudo de mais simples
por que o amor é simples, é fácil
E por te imaginar tanto
Fico agora com esssa lembrança
Por que sonhos existem, só devemos acreditar neles


Desejos vãos




Ereni Wink




Eu queria ser o Mar de altivo porte
Que ri e canta, a vastidão imensa!
Eu queria ser a Pedra que não pensa,
A pedra do caminho, rude e forte!

Eu queria ser o Sol, a luz intensa,
O bem do que é humilde e não tem sorte!
Eu queria ser a Árvore tosca e tensa
Que ri do mundo vão e até da morte!

Mas o Mar também chora de tristeza...
As árvores também, como quem reza,
Abrem, aos Céus, os braços, como um crente!

E o Sol, altivo e forte, ao fim de um dia,
Tem lágrimas de sangue na agonia!
E as Pedras... essas... pisa-as toda a gente!...

Florbela Espanca

("Os Poemas Possíveis")



Ereni Wink





‎"Não é agora Verão, nem me regressam
Os dias indiferentes do passado.
Já primavera errada se escondeu
...Numa dobra do tempo amarrotado.
É tudo quanto tenho, um fruto só,
Sob o calor do Outono amadurado."


José Saramago ("Os Poemas Possíveis")

Deixa-me a Sós





Aníbal Bastos



Deixa-me a sós por momentos,
Falar com os meus pensamentos,
Para com calma decidir!
Se é melhor este viver,
Feito de amar e sofrer,
Ou se é melhor partir!

De partidas e regressos,
De finais e recomeços,
Tem sido o nosso amor;
Às vezes louco amante,
Outras, frio e distante,
Acompanhado pela dor!

Pergunto se vale a pena,
Este amor que nos condena,
A viver amargurados!
Por momentos de ternura,
Temos horas de amargura,
E sentimentos calcados!

Enquanto estou meditando,
Oiço uma voz soluçando,
Dizendo dentro de mim:
- Por que não criais raízes,
Desses momentos felizes,
Para terdes amor sem fim!

Palavras, palavras lindas
Que chegam e são bem-vindas,
Para criar meu parecer:
- Não existe amor sem dor,
Dor que é sal que lhe dá sabor
E a força para vencer!

Que no desejo fremente,
Se conjugue corpo e mente,
Até ao raiar da loucura!
Mas se estiver desavindo
Que no nosso olhar sorrindo,
Ele regresse com ternura!

A. Bastos (Júnior)

O fim de uma Era


Marcelo Pardini



O fim.
A Era.

O fim de uma Era.

O fim.
A Era.

O fim de uma Era.

O fim.
A Era.

O fim de uma Era.

O fim.
A Era.

O fim de uma Era.

Passado... Foi.
Presente... Vai.
Futuro... Incerto?

O fim de uma Era.

*O livro Rimas & Versos está à venda em
 contato@marcelopardini.com.br


Canção para meu neto



Angela Mendes





Já chegando o entardecer,
Eis que grata surpresa.
Uma vida pequenina
Pedaços de um viver.
Parece que foi tirado o molde
De um velho retrato.
Contornos iguais,
Diferenças sutis.
Da infância, volta a festa,
Folguedos, felicidade!
Se finita é a existência,
Não importa.
De agora será medida,
Por sorrisos e abraços,
Palavras a balbuciar.
Instantes furtados àqueles que um dia,
Já distante, foram nossos.
Se pais agora, não liguem.
Deixem que este afeto,
Por tempo adormecido, renasça
Em sentimento maior.
Assim somos nós: os avós.










de Valci Maria Mattos
Cascavel - PR -

Você se foi




Jose Carlos Ribeiro



você foi embora da minha vida
É duro saber que você está longe de mim

você se foi para sempre
como faço para viver.
Me dói em saber que você se foi para sempre
Depressa ,depressa o tempo passa e eu não sei mais que fazer

Você se foi para sempre.
Me dói viver sem você.

Você se foi para sempre
Mas você ficou no meu coração para sempre.
Você foi viver para o paraíso.

Você é um anjo que partiu.
O céu é uma luz a onde eu te vejo.
Você se foi muito rápido nem tempo tive para me despedir.
E Você se foi.

Rifa-se um coração






Sonia Isotton





Rifa-se um coração quase novo.
Um coração idealista.
Um coração como poucos.
Um coração à moda antiga.
Um coração moleque que insiste
em pregar peças no seu usuário.

Rifa-se um coração que na realidade está um pouco usado,
meio calejado, muito machucado
e que teima em alimentar sonhos e, cultivar ilusões.
Um pouco inconseqüente que nunca desistede acreditar nas pessoas.
Um leviano e precipitado coração
que acha que Tim Maia estava certo quando escreveu...
"...não quero dinheiro, eu quero amor sincero, é isso que eu espero...".
Um idealista... Um verdadeiro sonhador...

Rifa-se um coração que nunca aprende.
Que não endurece, e mantém sempre viva a
esperança de ser feliz, sendo simples e natural.
Um coração insensato que comanda o racional
sendo louco o suficiente para se apaixonar.
Um furioso suicida que vive procurando relações e emoções verdadeiras.

Rifa-se um coração que insiste em cometer sempre os mesmos erros.
Esse coração que erra, briga, se expõe.
Perde o juízo por completo em nome de causas e paixões.
Sai do sério e, às vezes revê suas posições arrependido de palavras e gestos.
Este coração tantas vezes incompreendido.
Tantas vezes provocado.
Tantas vezes impulsivo.

Rifa-se este desequilibrado emocional
que abre sorrisos tão largos que quase dá pra engolir as orelhas,
mas que também arranca lágrimas e faz murchar o rosto.
Um coração para ser alugado,
ou mesmo utilizado por quem gosta de emoções fortes.
Um órgão abestado indicado apenas paraquem quer viver intensamente
contra indicado para os que apenas pretendem
passar pela vida matando o tempo, defendendo-se das emoções.

Rifa-se um coração tão inocente que se mostra sem armaduras
e deixa louco o seu usuário.
Um coração que quando parar de bater ouvirá o seu usuário dizer
para São Pedro na hora da prestação de contas:
"O Senhor pode conferir.
Eu fiz tudo certo, só errei quando coloquei sentimento.
Só fiz bobagens e me dei mal quando ouvi este louco coração de
criança que insiste em não endurecer e, se recusa a envelhecer"

Rifa-se um coração, ou mesmo troca-se
por outro que tenha um pouco mais de juízo.
Um órgão mais fiel ao seu usuário.
Um amigo do peito que não maltrate tanto o ser que o abriga.
Um coração que não seja tão inconseqüente.
Rifa-se um coração cego, surdo e mudo,
mas que incomoda um bocado.
Um verdadeiro caçador de aventuras que ainda
não foi adotado, provavelmente, por se recusar
a cultivar ares selvagens ou racionais,
por não querer perder o estilo.

Oferece-se um coração vadio, sem raça, sem pedigree.
Um simples coração humano.
Um impulsivo membro de comportamento até meio ultrapassado.
Um modelo cheio de defeitos que, mesmo estando fora do mercado,
faz questão de não se modernizar, mas vez por outra,
constrange o corpo que o domina.
Um velho coração que convence
seu usuário a publicar seus segredos
e a ter a petulância de se aventurar como poeta

Clarice Lispector

Você faz parte daqui