PROSAS EM VERSOS

SER POETA, É SENTIR AFLORAR DA PELE SENSIBILIDADE, É OUVIR O GRITO DOS QUE NADA DISSERAM, É VER POR UMA GAMA DE CORES INVISÍVEIS À MACROSCÓPICA VISÃO DOS INSENSÍVEIS, É PENETRAR IMPIEDOSAMENTE À ALMA HUMANA.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Basta...




Lucas Fazolli


Para meu coração basta teu peito
para tua liberdade bastam minhas asas.
Desde minha boca chegará até o céu
o que estava dormindo sobre tua alma.

E em ti a ilusão de cada dia.
Chegas como o sereno às corolas.
Escavas o horizonte com tua ausência
Eternamente em fuga como a onda.

Eu disse que cantavas no vento
como os pinheiros e como os hastes.
Como eles és alta e taciturna.
e intristeces prontamente, como uma viagem.

Acolhedora como um velho caminho.
Te povoa ecos e vozes nostálgicas.
eu despertei e as vezes emigram e fogem
pássaros que dormiam em tua alma.

( Pablo Neruda )

Uma aldravia.




Basilina Divina Pereira


Para coroar a noite, uma aldravia.



Setembro
Retorna.
Luz,
cor,
alegria:
primavera.

Primeiro Soneto de Meditação



Mô Schnepfleitner




Mas o instante passou. A carne nova
Sente a primeira fibra enrijecer
E o seu sonho infinito de morrer
Passa a caber no berço de uma cova.

Outra carne virá. A primavera
É carne, o amor é seiva eterna e forte
Quando o ser que viveu unir-se à morte
No mundo uma criança nascerá.

Importará jamais por quê? Adiante
O poema é translúcido, e distante
A palavra que vem do pensamento

Sem saudade. Não ter contentamento.
Ser simples como o grão de poesia.
E íntimo como a melancolia.

Vinícius de Moraes

Vaidade (Angela Mendes)


Angela Mendes

‎"Atentei para todas as obras que se fazem debaixo do sol; e eis que tudo era vaidade e desejo vão." (ECLESIASTES) 


SÁBIAS PALAVRAS
FIZERAM-ME REVER MEUS CONCEITOS
PARA QUE TANTA VAIDADE,
SE NADA DISSO
ME FAZ MELHOR?
VISTO-ME EM SEDAS,
PERFUMES E ADEREÇOS.
OLHO-ME NO ESPELHO
PASSO UM BATOM VERMELHO, 
MAS NADA DISSO TEM O PREÇO
DO QUE NÃO SE VÊ...
SINTO-ME NUA
SE DESPIDA DE SENTIMENTOS
APENAS VAIDADE E DESEJO VÃO
ALTIVA E MISTERIOSA
TODA MULHER É FORMOSA, 
MAS TODA BELEZA SERÁ INÚTIL
SE A MULHER NÃO SE VESTIR
DAS COISAS DO CORAÇÃO
SE NÃO FOR MEIGA E AMOROSA
SENSÍVEL, GENTIL, BONDOSA...
E QUE SAIBA SE DESPIR
DE SEUS PRECONCEITOS
COM CHARME EXIGIR SEUS DIREITOS
ASSIM, MESMO NUA, ESTARÁ
SEM VAIDADES
MOSTRANDO 
TODA SUA BELEZA.
ângela mendes, 03/09/2012


Silêncio




Aníbal Bastos





Meu amor diz ao silêncio,
- Fala com ele e convence-o -
Para se afastar de nós!
Eu vivo amargurado,
Porque não tenho escutado,
Há tanto tempo a tua voz!

Sonhar tocar-te e sentir-te,
De novo poder ouvir-te,
Numa franca gargalhada!
Esquecer a amargura,
Recordar só a ternura,
Da nossa vida passada!

Quero recordar os beijos,
Onde matamos desejos,
Da nossa ardente paixão;
Amarrados pelos laços,
Feitos pelos nossos braços:
Grades da nossa ilusão!

Não posso esquecer as juras,
As promessas de venturas,
Pelas nossas bocas trocadas;
Nem posso esconder a dor,
Ao sentir que desse amor,
Restam cinzas apagadas!

Quando vê chegado o fim,
Um amor intenso assim,
Deixa uma dor atroz!
Dor que me leva a pedir:
- Manda o silêncio partir!
- Quero ouvir a tua voz!

A. Bastos (Júnior)

Primavera (Lucas Fazolli)



Lucas Fazolli



No banco do jardim a descansar,
Um homem se ocupava em meditar
Alheio ao encantos do lugar.

Um beija-flor,
Daqueles raros
pequeninos,a voar

E o homem viu
A Primavera chegar!

Lucas Fazolli

VERA-PRIMA




Claudio Caldas Faria




CAI O PANO
E O TEU VESTIDO BRANCO
FAZ CONTRASTE COM AS FLORES
DIVERSOS TAMANHOS, PERFUMES
E CORES,
DOCES AMORES,
TAMBÉM DISSABORES
QUE LHE PROVOCARAM O MEDO,
TIRANDO-LHE TODO O SOSSEGO
E LHE OBSCURECENDO O SOL
FUGISTE PARA DENTRO DE SI
ESQUECENDO-SE DO SORRIR
TRANCOU-SE,
COMO FAZ UM CARACOL.
QUANDO FLORESCE A PRIMAVERA
PRIMA ELA PELA NATUREZA
VERA PRIMA,
PRIMA VERA,
QUASE FERA,
FERIDA COM TODA CERTEZA,
NO CORAÇÃO E NA ALMA
UMA FORMA HÁ DE NÃO SOFRER O MAL
E NEM TER O RETORNO AO PÓ:
QUEM AMA APENAS A SI SÓ,
JAMAIS TERÁ QUALQUER RIVAL.
E A PRIMAVERA EXPLODE EM GRANDEZA
ESPALHANDO SOBRE A TERRA CALMA
E O COLO QUE TANTO LHE ACALMA
FALA E LHE TOCA NO FUNDO D’ALMA.


Claudio Caldas Faria - in "ECOS & REFLEXOS"
Lei de Direito Autoral (nº 9610/98)
Edit. Livropronto

Primavera




Fatima Pessoa




É Primavera agora, meu Amor!
O campo despe a veste de estamenha;
Não há árvore nenhuma que não tenha
O coração aberto, todo em flor!
.
Ah! Deixa-te vogar, calmo, ao sabor
Da vida... não há bem que nos não venha
Dum mal que o nosso orgulho em vão desdenha!
Não há bem que não possa ser melhor!
.
Também despi meu triste burel pardo,
E agora cheiro a rosmaninho e a nardo
E ando agora tonta, à tua espera...
Pus rosas cor-de-rosa em meus cabelos...
Parecem um rosal! Vem desprendê-los!
Meu Amor, meu Amor, é Primavera!

Florbela Espanca

Manhã (Ligia Shlochmann)



Ligia Shlochmann
 




Que linda manhã,
de versos emprestados,
hoje coração partido
se nem nos amigos
acho mais graça,
durmo no tapete, 
para esquecer
o que foi ontem, 
hoje 
e o que será o amanhã?

Ligia Shlochmann
inv/set/2012.

Mistérios do Amor



Angela Mendes




Um enigma indecifrável,
Um desafio de tantas dúvidas.
E a razão se transforma em percepção,
Pois mesmo quando
mais próximo de você,
Fico ainda muito distante de mim.
É minha alma que já vai longe,
Num jogo de desvendar o oculto.
A supor a proximidade
de um encontro.
Talvez num quadro
de tintas noturnas,
Com a imagem de flores
perdidas na madrugada.
Com a sensação
do espreitar sensual da lua,
Numa vigília
que me guarda para você.
E o coração se finge de distraído.
Em meio a tudo, você.
Revelando-se lentamente,
Seduzindo num jogo de promessas,
Numa tentativa de descoberta única,
Onde se tenta conquistar o conquistador.
Num jogo de palavras e cenas,
De percepções e o voos da imaginação.
Brincando como jogo
de suave sensualidade,
onde o desejo divaga
se reconstruindo constatemente.
Fazendo-se jovem e maduro,
Numa descoberta
entre homem e mulher.
Perdidos no tempo e no espaço,
em encontro casual,
Tendo como únicas coordenadas
Um minúsculo instante
Entre a brisa
que areja a madrugada,
E o orvalho
que avisa a chegada da manhã.

Gilberto Brandão Marcon

Amor Virtual (João Paulo Brasileiro)




João Paulo Brasileiro
Amor Virtual




Sai desse computador
Não tem mensagens pra você
Ele já está em outra
É melhor você esquecer
Saia um pouco, vá pra rua
Veja a festa do seu povo
Essa telinha é viciante
Procure ao vivo, um amor novo!

Corpos nus (Jorge Morais)



Jorge Morais




corpos nus
por vidro separado
trazem expostos
desfecho anunciado
permuta feita
de lado
rápida saída
por esclarecer
interpelações se fazem
como foi ocorrer
prisão mostrada
insensível ao toque
vidrada
e agora ao frio
de ambas as partes
choram as mãos
num entrelaçar
mostrado
o epílogo que os separa
pintado de branco e breu
vem de uma a assentada
de uma maneira
elucidada
para que ninguém saiba
o que aconteceu

jorge morais

Ruínas



Mô Schnepfleitner




Se é sempre Outono o rir das primaveras,
Castelos, um a um, deixa-os cair...
Que a vida é um constante derruir
De palácios do Reino das Quimeras!

E deixa sobre as ruínas crescer heras.
Deixa-as beijar as pedras e florir!
Que a vida é um contínuo destruir
De palácios do Reino de Quimeras!

Deixa tombar meus rútilos castelos!
Tenho ainda mais sonhos para erguê-los
Mais altos do que as águias pelo ar!

Sonhos que tombam! Derrocada louca!
São como os beijos duma linda boca!
Sonhos!... Deixa-os tombar... deixa-os tombar...

Florbela Espanca

A Cor do Beijo (Basilina Divina Pereira)




Basilina Divina Pereira





O sorriso










O sorriso que fugiu de teus lábios veio me dizer que eu não devo me preocupar, pois, assim como a água escapa pelos dedos das mãos, a felicidade também escapa das esperas, e, portanto, por mais que demore, ela estará lá, à minha espera!
Eu, angustiado, pensando estar perdido neste labirinto, não percebi que no final dessa historia suas mãos sempre estiveram à espreita, para com os acalantos suaves dos carinhos que me reservas, mostrar-me o quanto deixei de viver!
Não me repreendas!
Perdoa-me, pois, por estar aflito, não notei em seus olhos a imensa ternura que queres comigo dividir!
Aqui estou! 
E nosso amor será então, com ingênua vaidade, todas as fortalezas das areias de nossa imensa e colorida estrada!


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