PROSAS EM VERSOS

SER POETA, É SENTIR AFLORAR DA PELE SENSIBILIDADE, É OUVIR O GRITO DOS QUE NADA DISSERAM, É VER POR UMA GAMA DE CORES INVISÍVEIS À MACROSCÓPICA VISÃO DOS INSENSÍVEIS, É PENETRAR IMPIEDOSAMENTE À ALMA HUMANA.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Cântaro da Vida



Angela Mendes



Parte do caminho te levarás só.
Sobre teus ombros — o cântaro da vida
— Este é o teu caminhar.

Também construirás o cântaro,
E encheras com a tua história,
Dela se fartará ou permanecerá vazio.
Mas, haverá a outra parte do caminho,
Nela aliviarás o peso das tuas vivencias.

É a hora de ensinar a tua arte.
Como viver esta dualidade?
Se ela em ti está em toda parte.

Ser caminho e caminhante,
Encher o cântaro da própria sede,
E ser a água, limpa e refrescante,
Traçar a equivalência entre força e suavidade,
Ser o Mundo — Gênero masculino,
E Terra — Mulher, gênero feminino,
Juntar os dois e ser companheira do teu oposto.
Se isto não bastasse!
Chorar, sorrir e parir.

Mulher, sempre carregarás o teu cântaro,
E este sexo não é o teu fardo,
Mas o múltiplo da tua trajetória.

Rosamares da Maia

Águas reluzentes



Ereni Wink





Movimento ondulante que inebria.
Sobe, desce, movimenta-se livremente.
Fria, morna, quente, refrescante.
Água pura e cristalina, que alegria!

O por do sol produz lindos efeitos,
Sobre seu majestoso esplendor.
Brilhem águas espumantes do mar!
Alegrando meu infinito pensar.

Vejo ao longe um corpo a se movimentar,
Braços vigorosos inclementes,
Coordenam movimentos ao par,
De águas cristalinas e reluzentes.

Um mergulho será suficiente
Para vislumbrar maravilhas da natureza.
Ostras, polvos, lulas, algas, pedras e peixes,
Personificação de Deus, sinônimo de beleza.

Águas profundas gelam os ossos.
Nada mais reluz, nem claridade tem.
Torna-se obscuro esse ambiente,
Que pode ocultar um Ser diferente.

Mas desvendar o mistério,
Pode ser interessante e produtivo.
Quantos seres diferentes pode-se descobrir?
E quantas magias estarão por vir?

Águas reluzentes, águas profundas,
Misto de magia e curiosidade.
Sorte daquele mergulhador experiente,
Que se arrisca para saciar sua ansiedade.

Porém, para tudo existe um por quê?
Haja vista tudo ter um significado.
Águas geladas, águas mornas,
E cada Ser poderá será adaptado.

Continue o sol a fazer a sua arte,
Ao por do sol, reluzindo sua luz nas águas rasas.
Que tão bel o encanto produz,
E todo seu esplendor reluz.


Imagem do Google - desconheço a autoria.
Poesia escrita em 12/02/2009

Existência intolerável




Jorge Morais


existência intolerável
por demais medonha
injustiça presente
doença marcada

por demais odiada
que ceifa a vida
ainda premente
idade precoce
futuro promissor
jogados os dados
viram-se os lados
cortem-nos aos bocados
mutilam-nos
deixam-nos desajeitados
até desconsolados
e não se preocupam
como se sente
e como fica
a gente


jorge morais

Sou água Cristalina



Maria Salete Ariozi




Sou água cristalina que da terra brota
Minhas nascentes são preciosidades
Neste planeta que ainda é raridade
Pois outra vida não foi encontrada
Formando uma correnteza a fluir
Saciando a sede da humanidade
Saciando a sede das plantações
Saciando a sede de todas as nações
Saciando a sede da natureza em geral
Sem mim não haverá vida não
Cuidem das nascentes como jóias raras
Dela todos são dependentes

Temos apenas um quarto de terra
Neste planeta azulado pela água
A maior parte não se pode beber
E hoje já se fala na extinção dela
Esta fonte de vida para todos
Sem falar dos que morrem
Em muitos países pela falta dela
Aqui mesmo no Brasil temos
Lugares onde a água é escassa
Se o meu grito assim como de muitos
Fossem ecoados pela terra toda
Teriam mais consciência e cuidado
Com a água que é inutilizada
Principalmente pelas indústrias

Sou água cristalina que brilho como diamante
Quanto caio da cachoeira sob o sol radiante

Ouvimos o som dos seus ecos de socorro
Tentamos tapar os ouvidos, mas não há como
Temos que gritar em conjunto fazendo eco no mundo

Sou água cristalina
Por favor, me socorra
Não me deixe secar nem evaporar
Não tapem minhas nascentes estou morrendo
Quero ficar aqui e saciar a sede de todos
Sou água cristalina que faço a diferença neste planeta

AngelaLugo

Mocidade



Maria Salete Ariozi




A mocidade esplêndida, vibrante, 
Ardente, extraordinária, audaciosa. 
Que vê num cardo a folha duma rosa, 
Na gota de água o brilho dum diamante; 

Essa que fez de mim Judeu Errante 
Do espírito, a torrente caudalosa, 
Dos vendavais irmã tempestuosa, 
- Trago-a em mim vermelha, triunfante! 

No meu sangue rubis correm dispersos: 
- Chamas subindo ao alto nos meus versos, 
Papoilas nos meus lábios a florir! 

Ama-me doida, estonteadoramente, 
O meu Amor! que o coração da gente 
É tão pequeno... e a vida, água a fugir... 

Florbela Espanca, 
in "Charneca em Flor"

Companheirismo


João Adalberto Behr




Oi gente amiga...


Hoje lembrei de como deve ser o comportamento de um companheiro... Fui buscar para essa mensagem alguma coisa sobre o assunto... Encontrei esse excelente texto, sobre companheirismo, escrito por Elisabeth Salgado, formada em Psicologia, Fonoaudiologia e Português-Literatura... Estou transcrevendo abaixo, mas, antes vou deixar registrados alguns sinônimos que retratam bem essa situação... São eles: união, camaradagem, convívio, cumplicidade, confiança. intimidade, solidariedade e coleguismo... Existem também alguns antônimos e - entre esses - como são alvos diferentes, e procuram desmontar as uniões existentes, temos infidelidade, traição, desconfiança, desrespeito... 
Uma uma bela segunda-feira e uma belíssima semana, para vocês!!! 
Abraços,


COMPANHEIRISMO


Elisabeth Salgado


Companheirismo, qualidade difícil de se encontrar numa época em que o individualismo predomina. Acho que o mundo moderno desaprendeu o “estar com alguém” e, em seu lugar, exerce uma busca de independência na relação, para mascarar a forte necessidade de vencer a solidão...
Saber ser companheiro de alguém é uma arte que se baseia na maturidade conseguida. Maturidade que permite que se esteja junto, sem querer dominar ou ter um poder sobre o outro, que nos possibilita ser diferente de alguém e, apesar disso, aceitar e respeitar essa diferença.
Ser companheiro é saber ouvir e saber falar, é ficar disponível sem se anular, é compreender o que o outro sente para poder compartilhar a vida.
Ser companheiro é ter a coragem de abrir o coração e oferecer momentos, para que o outro me conheça e sinta confiança em se deixar conhecer também por mim.
Ser companheiro é dar as mãos sem aprisionar, ser companheiro tem muito de doação e de flexibilidade.
Como outras coisas na vida, a dualidade aqui também se faz presente: o companheirismo nasce e se desenvolve na relação, se alimenta dela e da crença de que somente convivendo é que me tornarei, antes de tudo, companheiro de mim mesmo.

Quero trazer-te viajada




Jorge Morais


quero trazer-te viajada
nas asas da minha fértil
imaginação
povoar teu corpo

lavrar teus seios
e encostar-me num descanso
perpétuo
dentro da caverna
que em ti guardas
epicentro da existência humana
és fruto que fruto dás
arvore podada e fertilizada
cujos pássaros na sua migração
fecundem
após sua passagem
deixando assim
a vida perpetuada

jorge morais

Soma



Angela Mendes



De que vale ir somando a própria idade?
certo é somá-la, em dobro, no cansaço
do dia-a-dia lento, na verdade,
qual se escorresse em milenar espaço.

A compreensão da inutilidade
do gesto amigo, do fraterno abraço,
alonga o dia, alonga a soledade,
envelhecendo o coração e o passo.

O tempo, indiferente, traz enganos,
faz os minutos parecerem anos
e num segundo um século caber.

Mas, nada importa a idade acontecida:
importa apenas a canção da vida,
a letra e a melodia de – Viver!


Graciette Salmon
In: Ciranda

Keyla Alves Fernandes - Foto = SENSUAL





Keyla Alves Fernandes




A sensualidade está no olhar
sorrisos com sabor
lábios rosados a brotar
uma mulher ou uma flor...
voz meio rouca
chama o amor
ombros alvos e macio
entregam claramente
a fome do viver
o desejo do sentir... 
ser tocada e amada
em dias de sol 
e noites enluaradas...

Keyla Alves Fernandes

Canto dos Espíritos sobre as Águas




Mô Schnepfleitner



A alma do homem
É como a água:
Do céu vem,
Ao céu sobe,
E de novo tem
Que descer à terra,
Em mudança eterna.

Corre do alto
Rochedo a pino
O veio puro,
Então em belo
Pó de ondas de névoa
Desce à rocha liza,
E acolhido de manso
Vai, tudo velando,
Em baixo murmúrio,
Lá para as profundas.

Erguem-se penhascos
De encontro à queda,
— Vai, 'spúmando em raiva,
Degrau em degrau
Para o abismo.

No leito baixo
Desliza ao longo do vale relvado,
E no lago manso
Pascem seu rosto
Os astros todos.

Vento é da vaga
O belo amante;
Vento mistura do fundo ao cimo
Ondas 'spumantes.

Alma do Homem,
És bem como a água!
Destino do homem,
És bem como o vento!

Johann Wolfgang von Goethe, in "Poemas"
Tradução de Paulo Quintela

Eu e o Riacho




Fatima Pessoa



Nasce a água da terra, limpa cristalina
Nasce no topo da serra, pura e alcalina
Desce sua ladeira
Vai crescendo
Arrastando
Quebrando
Não teme os obstáculos e vai
Passa sobre tudo e cresce
Fica grande, não tem medo
Esquece o topo da serra
Aquela que tinha gosto de terra
Terra pura, terra limpa em meio ao arvoredo.
Aumenta a velocidade, corre e vai descendo
Agora tens gosto de lixo, sujo e contaminado
Tu és grande, percebemos ao te olhar.
Achas que pode, mas não pode!
Outro maior vai te derrotar

Somos como essa nascente
Nascemos com uma missão
Crescemos e misturamos à tanta gente
Gente boa e também sem coração.

Tantos dejetos,
Tantos venenos,
Tantos desafetos,
Não crescemos,
Nós inchamos,
E somos ainda mais pequenos.

Gostaria de ainda estar na serra,
sentindo o gosto da terra,
sem me preocupar com meus ais
Hoje só vejo guerra,
A gente muito mais erra,
Ao tentar encontrar a Paz.

O riacho vai encontrar o que merece
Quando a ladeira terminar,
Aos poucos ele desaparece.
Será engolido pelo Mar.

Adilson Costa

Rios de águas Vivas



Angela Mendes



Ainda há um fio aquoso e tênue de esperança
Gotejando em mim a água da bem-aventurança
Anjos dançam ao meu redor
Querem me ensinar o que é o amor
Não falo de pele, de sentimento carnal
Falo de rios de águas vivas
Que fluem da fonte límpida de puro cristal
Sentimento espiritual
Não me refiro, pois, ao amor entre iguais
Ou entre um homem e uma mulher
Falo da pétala aromática do bem-me-quer
Da flor que não murcha jamais
Que o mal-me-quer invejou
E não quer mais

Úrsula A. Vairo Maia

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