PROSAS EM VERSOS

SER POETA, É SENTIR AFLORAR DA PELE SENSIBILIDADE, É OUVIR O GRITO DOS QUE NADA DISSERAM, É VER POR UMA GAMA DE CORES INVISÍVEIS À MACROSCÓPICA VISÃO DOS INSENSÍVEIS, É PENETRAR IMPIEDOSAMENTE À ALMA HUMANA.

terça-feira, 10 de julho de 2012

A meu favor



Mô Schnepfleitner




A meu favor
Tenho o verde secreto dos teus olhos
Algumas palavras de ódio algumas palavras de amor
O tapete que vai partir para o infinito
Esta noite ou uma noite qualquer

A meu favor
As paredes que insultam devagar
Certo refúgio acima do murmúrio
Que da vida corrente teime em vir
O barco escondido pela folhagem
O jardim onde a aventura recomeça.

Alexandre O'Neill

Poesia



Ereni Wink





Dá a surpresa de ser.
É alta, de um louro escuro.
Faz bem só pensar em ver
Seu corpo meio maduro.

Seus seios altos parecem
(Se ela estivesse deitada)
Dois montinhos que amanhecem
Sem ter que haver madrugada.

E a mão do seu braço branco
Assenta em palmo espalhado
Sobre a saliência do flanco
Do seu relevo tapado.

Apetece como um barco.
Tem qualquer coisa de gomo.
Meu Deus, quando é que eu embarco?
Ó fome, quando é que eu como?

Fernando Pessoa (1888-1935)

Mulher




Ana Marques Summa



Ser mulher... É viver mil vezes em apenas uma vida.
É lutar por causas perdidas e sempre sair vencedora.
É estar antes do ontem e depois do amanhã.
É desconhecer a palavra recompensa
apesar dos seus atos.

Ser mulher... É caminhar na dúvida cheia de certezas.
É correr atrás das nuvens num dia de sol.
É alcançar o sol num dia de chuva.

Ser mulher... É chorar de alegria e muitas vezes
sorrir com tristeza. É acreditar quando ninguém mais acredita.
É cancelar sonhos em prol de terceiros. É esperar quando ninguém mais espera.

Ser mulher... É identificar um sorriso triste e uma lágrima falsa.
É ser enganada, e sempre dar mais uma chance.
É cair no fundo do poço, e emergir sem ajuda.

Ser mulher... É estar em mil lugares de uma só vez.
É fazer mil papeis ao mesmo tempo.
É ser forte e fingir que é frágil...
Pra ter um carinho.

Ser mulher... É se perder em palavras e
depois perceber que se encontrou nelas.
É distribuir emoções que nem sempre são captadas.

Ser mulher... É comprar, emprestar, alugar,
vender sentimentos, mas jamais dever.
É construir castelos na areia, vê-los desmoronados pelas águas.
E ainda assim amá-los.

Ser mulher... É saber dar o perdão...
É tentar recuperar o irrecuperável.
É entender o que ninguém mais conseguiu desvendar.

Ser mulher... É estender a mão a quem ainda não pediu.
É doar o que ainda não foi solicitado.

Ser mulher... É não ter vergonha de chorar por amor.
É saber a hora certa do fim. É esperar sempre por um recomeço.

Ser mulher... É ter a arrogância de viver
apesar dos dissabores, das desilusões, das traições e
das decepções.

Ser mulher... É ser mãe dos seus filhos...
Dos filhos de outros. É amá-los igualmente.

Ser mulher... É ter confiança no amanhã e
aceitação pelo ontem. É desbravar caminhos difíceis
em instantes inoportunos. E fincar a bandeira da conquista.

Ser mulher... É entender as fases da lua
por ter suas próprias fases.

O Amor e o Tempo


Angela Mendes





Pela montanha alcantilada
Todos quatro em alegre companhia,
O Amor, o Tempo, a minha Amada
E eu subíamos um dia.

Da minha Amada no gentil semblante
Já se viam indícios de cansaço;
O Amor passava-nos adiante
E o Tempo acelerava o passo.

— «Amor! Amor! mais devagar!
Não corras tanto assim, que tão ligeira
Não corras tanto assim, que tão ligeira
Não pode com certeza caminhar
A minha doce companheira!»

— Súbito, o Amor e o Tempo, combinados,
Abrem as asas trémulas ao vento...
— «Por que voais assim tão apressados?
Onde vos dirigis?» — Nesse momento.

Volta-se o Amor e diz com azedume:
— «Tende paciência, amigos meus!
Eu sempre tive este costume
De fugir com o Tempo... Adeus! Adeus!»

(Antonio Feijó -1859-1917, poeta português)

Poeta do Destino


Ana Marques Summa






Palhaço poeta do destino
Que clandestino...menino
Versejando voas
Brincando com versos
Atua em diversos
Palcos de ruas
Esgrimas com a tua vida
Munido com a poesia e a lua
Alegras o mundo, com tangentes palavras
Que sempre soam tão...só tuas
Teu amor evanescente
Que sempre indeciso reluta
Os plangentes poemas teus
São como perfumadas gotas
No orvalho da manhã
Desprendidas...caídas...soltas
Oh! Poeta palhaço de rua
És saltitante fagueiro e rutilo
És...marchetado resplandecente brilho

Oh! Crepitante doce recruta
És essência...és cilício
És conciso, inefável e preciso
És lúdico altivo que luta
És melodia...maestro...batuta.



O Que é Amar?



Angela Mendes




Amar é ver morrer a cada hora
Um sonho que o Amor crucificou
E vestir-se de luto a cada aurora
Um desejo febril que agonizou...

É lavar toda a dor, toda a amargura
Na fonte de piedade d’um olhar
E ver depois por uma noite escura
Que a dor é imensa e a fonte está a secar...

É ver nos olhos verdes que beijamos
Cair a cinza vá da vida morta...
E quando o tédio bate à nossa porta,

Erguer nas mãos as d’essa que adoramos
É beijá-las pedindo-lhe perdão
De ter a alma morta e morto o coração...

Antonio Patricio (l878-1930,poeta português)

Perfume da Mulher Amada




Claudio Caldas Faria





Sinceridade tem que sempre ser dita
A pessoa mais perfumada que conheci
É minha amada esposa – digo aqui –
Ao meu lado, sempre, minha querida.

Parecia-se como uma estufa florida
Cheiros mil de rosas e eterno jasmim
Por isso (e coisas outras) a tenho junto a mim
Além de esposa, é toda a minha vida.

São mesmo eternas coisas afins
Que perfumam a nossa vida assim
Emoção presente que nunca se finda

São perfumes de milhares de flores
Cheiros lindos dos nossos amores
Que guardo em cada ausência (ainda).

Claudio Caldas Faria
Lei de Direito Autoral (nº 9610/98)

Nos Bosques, Perdido




Angela Mendes



Nos bosques, perdido, cortei um ramo escuro
E aos labios, sedento, levante seu sussurro:
era talvez a voz da chuva chorando,
um sino quebrado ou um coração partido.
Algo que de tão longe me parecia
oculto gravemente, coberto pela terra,
um gruto ensurdecido por imensos outonos,
pela entreaberta e úmida treva das folhas.
Porém ali, despertando dos sonhos do bosque,
o ramo de avelã cantou sob minha boca
E seu odor errante subiu para o meu entendimento
como se, repentinamente, estivessem me procurando as raízes
que abandonei, a terra perdida com minha infância,
e parei ferido pelo aroma errante.
Não o quero, amada.
Para que nada nos prenda
para que não nos una nada.
Nem a palavra que perfumou tua boca
nem o que não disseram as palavras.
Nem a festa de amor que não tivemos
nem teus soluços junto à janela...

(Pablo Neruda)

A Cadeira de Balanço


Angela Mendes





Naquela cadeira de balanço
eu a vejo ainda sentada
na hora do descanso...
Seus cabelos tão brancos
e sua face já enrugada
são marcas do tempo
e de muito sofrimento
de uma vida árdua e calejada.
Olhar perdido nas lembranças
de ter a prole aos seus pés,
do filho pedindo colo
ou do neto chamando a vovó.
No toque de recolher
a família se reunia e rezava
a ave-maria no entardecer.
Que magia naquele olhar,
quanta sabedoria no falar...
Te lembro de chinelo na mão,
chamando nossa atenção, 
mas tudo foi para nos educar
Ah, mãe querida, quanta falta
do teu "Deus te abençoe" todo dia,
do teu andar lento pela casa,
da comidinha simples e saborosa
que com carinho você fazia..
Ainda te vejo ali sentada
com o olhar perdido 
e tudo ficou em silêncio,vazio,
somente essa saudade danada
e no coração sinto muito frio...

(Ângela Mendes, 10/07/2012)


Os Teus Pés



Angela Mendes




Quando não te posso contemplar
Contemplo os teus pés.
Teus pés de osso arqueado,
Teus pequenos pés duros,
Eu sei que te sustentam
E que teu doce peso
Sobre eles se ergue.
Tua cintura e teus seios,
A duplicada purpura
Dos teus mamilos,
A caixa dos teus olhos
Que há pouco levantaram vôo,
A larga boca de fruta,
Tua rubra cabeleira,
Pequena torre minha.
Mas se amo os teus pés
É só porque andaram
Sobre a terra e sobre
O vento e sobre a água,
Até me encontrarem.

(Pablo Neruda)

Inimigo.


Paula Teixeira




Aos meus inimigos
lhes aviso: Cuidado comigo!
Sou louca de pedra e terra.
Pelas costas ñao ataco.
Vou de frente , nada indiferente!
Valentia levo nas veias, 
fino tacto de punho irado!
Morrer ou Viver ,
ambos posso ser.
Cansada de ser atacada, 
opto pelo ataque
Com os meus Santos guerreiros,
ñao temo nem ao mundo inteiro!

Paula Teixeira.

Queixas


Lucrecia Rocha





Queixou-se de mim a poesia....
Lamentou-se por mim a poesia
De mim, fugiu o verso
Em pranto silencioso, expirou-se.

Queixou-se de mim a poesia....
Abandonada sentiu-se,
Quando versos, sonhos
Em águas correntes ecoaram
Afogando-se diante da minha presença oculta.
Triste, ficou a poesia!

Queixou-se de mim a poesia...
Da minha melancolia,
Lucidez duvidosa,
Lamentos, aflições minhas.

Sorumbática....
Queixou-se do apático coração,
Exilado, adormecido nos lençóis
Da passividade
Da quietude do esquecimento dos versos,
Que do coração entoava.
Queixou-se de mim a poesia....

Livra-me da camisa-de-força, eu sou a poesia!
Livra-me da indolência, eu sou a poesia!
Livra-me, que a vida está a espera, eu sou a poesia!

Hermético, não é o coração do poeta!
Autora : Lucrecia Rocha - Pub. Livro Confissão em versos. Salvador:Cogito,2012

Limites do Amor


Mô Schnepfleitner




Condenado estou a te amar
nos meus limites
até que exausta e mais querendo
um amor total, livre das cercas,
te despeça de mim, sofrida,
na direção de outro amor
que pensas ser total e total será
nos seus limites da vida.

O amor não se mede
pela liberdade de se expor nas praças
e bares, em empecilho.
É claro que isto é bom e, às vezes,
sublime.
Mas se ama também de outra forma, incerta,
e este o mistério:

- ilimitado o amor às vezes se limita,
proibido é que o amor às vezes se liberta.

Affonso Romano de Sant'Anna

A melhor




Lúcinha Santos



A melhor parte da dança, é quando vcs está nos braços
de quem gosta
quando ele te pega pela cintura e te olha nos olhos
e encosta o corpo no seu
coração com coração..............
é ai , que começa a musica......

Lucinha ♥

Bom Dia


Maria Salete Ariozi




Colhi neste amanhecer,
Todas as cores vibrantes
para transformá-las em Amor.

Escolhi nas flores todo o colorido
para transformá-los em sorrisos
Com Alegria vim para lhe entregar.


((Salete))

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