"Como pode alguém ter duas encarnações dentro de uma mesma vida?
Duas histórias que não correm paralelas, mas se cruzam e alternam e
tem temperaturas tão diferentes quanto opostas?
Como pode ser yin e yang, doce e amargo e choro e vela?
Como pode ser incapaz de falar uma língua e, no instante seguinte, nem
lembrar da dificuldade? E fazer velhos amigos do dia pra noite e se sentir em casa quando não tem mais nenhuma?
E cruzar com tantas pessoas do mal e decidir que pensar nisso é perda de tempo e, ainda assim, deixar escapar propositalmente uma reverência?
Como pode se saber tão perdida e se sentir tão achada? E vice e versa e
mais uma vez de novo? Como pode se ver em espiral e escrever sem criar novos parágrafos? Como posso estar aqui como se não existisse lá se, quando estou lá, sou feliz? Estaria eu então aqui infeliz, o que não é o caso. Definitivamente! O que é a vida? Um frenesi.
O que é a vida? Uma ilusão,uma sombra, uma ficção;
O maior bem é tristonho porque toda vida é sonho e os sonhos, sonhos são".
Do monólogo final de "A vida é sonho", de Calderón de La Barca: