PROSAS EM VERSOS

SER POETA, É SENTIR AFLORAR DA PELE SENSIBILIDADE, É OUVIR O GRITO DOS QUE NADA DISSERAM, É VER POR UMA GAMA DE CORES INVISÍVEIS À MACROSCÓPICA VISÃO DOS INSENSÍVEIS, É PENETRAR IMPIEDOSAMENTE À ALMA HUMANA.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Doce Doçura




Fatima Pessoa




Tão doce
Fosse
Esta doçura
Pura
Doce
Doçura
Que se fosse
Doce e pura
Fosse
Para ser doçura
Seria doce
Mesmo que não fosse.

Secos & Molhados

Pensamentos




Aníbal Bastos



Meus pensamentos não são astros dispersos,
Gravitando no alto do firmamento,
São corcéis mais velozes do que o vento,
Que me conduzem ao centro dos universos!

Vou com eles aos sítios mais diversos,
Subo ao cume do monte do sofrimento,
Desço ao vale do medo e do tormento,
Onde reinam os sinistros; os perversos!

Servisse a ciência o ser humano,
Na paz, no progresso! Não na guerra!
Eu diria: - O que penso é um engano!

Porém, penso e sinto com amargura,
No rumo que está tomando a terra,
A caminha da nova escravatura!

A. Bastos (Júnior)

Meu Deus, me dê a Coragem




Mô Schnepfleitner



Meu Deus, me dê a coragem
de viver trezentos e sessenta e cinco dias e noites,
todos vazios de Tua presença.
Me dê a coragem de considerar esse vazio
como uma plenitude.
Faça com que eu seja a Tua amante humilde,
entrelaçada a Ti em êxtase.
Faça com que eu possa falar
com este vazio tremendo
e receber como resposta
o amor materno que nutre e embala.
Faça com que eu tenha a coragem de Te amar,
sem odiar as Tuas ofensas à minha alma e ao meu corpo.
Faça com que a solidão não me destrua.
Faça com que minha solidão me sirva de companhia.
Faça com que eu tenha a coragem de me enfrentar.
Faça com que eu saiba ficar com o nada
e mesmo assim me sentir
como se estivesse plena de tudo.
Receba em teus braços
o meu pecado de pensar.

Clarice Lispector

Amor é fogo




Zina de Miranda




Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que se ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade
É servir a quem vence o vencedor,
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade;
Se tão contrário a si é o mesmo amor?

Luís de Camões

Cheiro de Outono




Angela Mendes




Mais uma vez é um verão que nos abandona,
agonizando num temporal atrasado:
tranquila a chuva rumoreja, enquanto um cheiro
amargo e tímido vem do bosque molhado.

Na relva pálida a liliácea se retesa
em meio a grande profusão de cogumelos;
tem-se a impressão de que se esconde e se retrai
o nosso vale, ontem ainda imenso e belo.

Retrai-se e cheira a timidez e a amargura
o mundo, com toda a claridade perdida:
prontos, olhamos o temporal atrasado,
pois acabou-se o sonho de verão da vida!

Hermann Hesse
In Andares


Eterna Chuva





Angela Mendes





Chove lá fora e a chuva apaga a poeira
Da minha estrada que não tem mais fim!
Seria bom que pela vida inteira
Essa chuva caísse sobre mim!

Sinto que a minha estrada sem palmeira,
Deserta, vasta e prolongada assim,
Impulsiona a minha alma sem canseira,
Para o mundo esquisito do senfim!

E eu marcho resoluto para a frente!
Cai-me a chuva nos ombros, de repente
Eu mais apresso a minha caminhada!

E assim prossigo nesse sonho eterno,
Sob a sentença de um constante inverno,
Sem promessas de sol na minha estrada!

Jansen Filho
In: Obras Completas

Inutilmente




Angela Mendes




Floriram os ipês ali da praça
e, quando a gente passa,
-porque o vento as derruba em profusão –
vai esmagando flores pelo chão.

Como ciclópica oficina
pulsa, ao redor, a vida citadina.
Arranha-céus fugindo para o alto
numa arquitetura funcional;
automóveis rodando sobre o asfalto
e, de fundas angústias carregada,
a multidão correndo, alucinada,
vazia de Ideal.

Babélica, apressada,
toda essa gente não repara em nada:
não vê, em cima, a loira floração,
nem vê que pisa em flores pelo chão.

Os ipês se enfloraram, mas em vão . . .
Sua mensagem clara, colorida,
-um hino de louvor ao Belo e à Vida –
fica rolando, inútil, pelo chão,
fica, inútil, rolando pelo ar,
pois os homens não sabem mais sonhar.

Graciette Salmon


Sensualidade expressa




Jorge Morais


sensualidade expressa
baixo ventre expostos
pernas traçadas
escondem

triângulo proibido
num cruzar clássico
de quem olvida
e tenta esconder
a fonte da vida
num depilar perfeitos
cujos membros
brilham
parecem suaves
veludo
esvoaçados longe
das mãos
não da vista
que quinhame
fotografado
por uma máquina qualquer
mostram o que se vê
para se imaginar
a mulher

jorge morais

Poemini





Basilina Divina Pereira



Até quando terás...?


Fatima Pessoa





Até quando terás, minha alma, esta doçura,
este dom de sofrer, este poder de amar,
a força de estar sempre ? insegura ? segura
como a flecha que segue a trajetória obscura,
fiel ao seu movimento, exata em seu lugar...?

Cecília Meireles

Procura



Angela Mendes





A noite acaba...



Maria Salete Ariozi



A noite acaba..e o sono não chega !
Mas chega a certeza da missão cumprida.
No dia que se esgota,
Na hora que se acaba,
Neste espaço de tempo,
Em toda amizade encontrada,
Trazendo a mansidão da calma
para adormecer em minh'alma.

((Salete))-Agosto-2012

E a doçura



Mô Schnepfleitner




"E a doçura é tanta que faz insuportável cócega na alma. Viver é mágico e inteiramente inexplicável."

Clarice Lispector

Saudade




Mando Mago Poeta


Eu pensei que ia mudar
que iria chover
que fosse nevar

Eu pensei tanta coisa
e cansei de pensar
Mudei os móveis
chorei o jardim
Coloquei gelo no copo

...E bebi vinho até esquecer!

Eu pensei que ia acordar
mas dormi na varanda
e com ressaca acordei...
Pensei que o mudo ia acabar!

Mas logo o Sol veio me fazer levantar
e reguei meus olhos, como a flor
com uma lágrima de realidade...

Ah! Eu pensei que era só saudade!

Mando Mago Poeta 18:19 14/08/2012


Soneto da Espera




Angela Mendes




O coração tem que esperar, mais nada!

Inda que a espera exaure a vida inteira
até que emprenhe o banho de alvorada
a luz das águas remansosas da ribeira...



O amor tem que esperar essa chegada!
Inda que chegue ao nunca do amanhã,
até que soem os clarins da madrugada
no ouvido íntimo dos sinos da manhã...



Sonhos são deuses surdos, nada mais!
E para deuses não existem horizontes
em que o amor desponte eternamente...



Sonhos de amor são brisas sazonais...
Às vezes partem por alguns instantes
e às vezes vão embora para sempre...

A. Estebanez
Tela de Josephine Wall)

Momento




Angela Mendes





Oh! A resignação das coisas paradas,
grávidas de silencio, reverentes,
em sua geometria sem jactância!

A placidez das ruas acolchoadas
contra a dura cintilação do dia;
o recato das arvores, a prece
das esquadrias de alumínio ionizado
na fachada do edifício em frente!

Todas as coisas – em clausura – cumprem votos,
enquanto a vã filosofia do século
pensa que move o mundo.

Rio, 9/9/87
Hélio Pellegrino
In: Minérios Domados





Jorge Morais



trazes em ti gravado
o meu rosto
espelhas em tuas pernas
a minha imagem

no silencio
do teu pensamento
vejo-me
sobre ti baixou
uma tristeza ímpar
cuja razão
se prenderá pela minha
ausência
a tua solidão
corta-me a alma
e a expressão do teu rosto
é constrangedora
eloquente em demasia
que deixará de ser
à altura que eu chegar


jorge morais

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