PROSAS EM VERSOS

SER POETA, É SENTIR AFLORAR DA PELE SENSIBILIDADE, É OUVIR O GRITO DOS QUE NADA DISSERAM, É VER POR UMA GAMA DE CORES INVISÍVEIS À MACROSCÓPICA VISÃO DOS INSENSÍVEIS, É PENETRAR IMPIEDOSAMENTE À ALMA HUMANA.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Noivado Estranho




Claudio Caldas Faria




O luar branco, um riso de Jesus,
Inunda a minha rua toda inteira,
E a Noite é uma flor de laranjeira
A sacudir as pétalas de luz…

A luar é uma lenda de balada
Das que avozinhas contam à lareira,
E a Noite é uma flor de laranjeira
Que jaz na minha rua desfolhada…

O Luar vem cansado, vem de longe,
Vem casar-se co´a Terra, a feiticeira
Que enlouqueceu d´amor o pobre monge…

O luar empalidece de cansado…
E a noite é uma flor de laranjeira
A perfumar o místico noivado!…

Florbela Espanca - 
Trocando olhares - 30/04/1917

Manhã de Chuva na Infância





Angela Mendes





Ao longo do muro, as campânulas escorrem,
gelatinosas,
ainda coroadas,
ainda cheirosas,

e já mortas.

Eu sou a menina que vai para a escola
com o seu casaquinho vermelho,
e os seus livros forrados de papel azul.


A chuva continua a bater nas flores,
a avivar as cores dos muros,
a gorgolejar nas calhas,
a correr para os negros bueiros.

Eu sou a menina que vai para a escola
feliz, com os cabelos molhados
e o rosto frio.

A chuva é uma alegria, com suas agulhas de vidro
voando por todos os lados.
A chuva cheira a jasmim e a flor “boa-noite!”

Eu sou a menina que de repente fica triste,
porque ao longo do muro as campânulas escorrem,
gelatinosas,

cor de coral, cor de marfim,
perfumadas ainda,
e já mortas.

Cecília Meireles

Insignificância



Tony Marques


Bem me quis..mal me quer




Márcia Regina Lopes





Como pode? Chegar assim
Me roubar de mim
Me fazer sonhar e sorrir
Inventar em mim caminhos
Emoções em redemoinhos
O mundo era tão pequeno
Que parecia tanto amor
Não caber dentro dele
E eu era tão feliz...tão feliz
Que nem sei o tanto
Bem me quis
Hoje sinto o mundo tão grande
E você tão distante
O amor se perdeu
Falhamos.....
Foi sonho meu?
Só eu amei?
Hoje você mal me quer
A flores despetaladas não mentem
Acho que até a minha dor sentem
Bem me quis...mal me quer.

Márcia Lopes 14/8/12

Vai Passar





Angela Mendes





Talvez não amanhã, mas dentro de 
uma semana, um mês ou dois, quem 
sabe? O verão está aí, haverá sol 
quase todos os dias, e sempre resta 
essa coisa chamada "impulso vital". 
Pois esse impulso às vezes cruel, 
porque permite que a dor insista 
por muito tempo, te empurrará 
quem sabe para o sol, para o mar, 
para uma nova estrada qualquer e, 
de repente, no meio de uma frase 
ou de um movimento te surpreenderás 
pensando algo assim como "estou 
contente outra vez”. 

Caio Fernando Abreu

... Dia... Tarde e ... Noite





Angela Mendes





Sempre que aqui vier postar,
nunca é demais relembrar,

Junto ao seu bom dia
traga a sua poesia!

Um boa tarde com flores,
e poemas com primores.

Boa noite lhe desejo
e junto deixo um beijo.



O Poeta e a Prece





Angela Mendes





A oração do poeta é a poesia
Pela qual ele vive e se extasia,
É o seu pensamento preferido.
A rima da musica do verso,
Com a métrica vai ao universo,
A tônica, o ritmo querido.

Só depois da poesia já pronta,
Ele festeja e logo se apronta,
Alegre, vai seu verso declamar.
E assim, recitando os versos seus,
Com respeito envia a prece a Deus,
Na mais bela maneira de amar.

Francisco Hilário Waichert
In: Poesias Pôr do Sol
Pôr-do-sol em Colatina, ES, cidade do autor do poema)

Sem água morna



Mô Schnepfleitner




Sem água morna,
sem pedra mole,
nem fogo brando.
Amor quando chega,
tem que vir arrebatando,
virando a mesa,
rompendo a porta.
Amor que se preza
agarra a vida na marra
e desentorta;
abraça a hora com força
e desamassa.
Vem certo de ficar, vai indo embora;
vem pensando em partir, mas vai ficando.
que deixa tudo fora do lugar.
… e quanto mais o peito resistir,
o tanto mais vai explodir de muito amar.

Flora Figueiredo

Da água se ergue





Jorge Morais



da agua se ergue
formosa
de uma beleza
ímpar

cabelos longos
ondulados
com um olhar
tão profundo quanto o meu
que lhe atormenta
seus olhos fixam vidrados
na minha direção
levanto-me e direciono-me a ela
ao chegar de perto
envergonhadamente ela
num gesto rápido
mergulha
sustenho a respiração
e qual o meu espanto
quando não mais a vi voltar
junto da rebentação
da maré

jorge morais

Ouve-me...




Fátima Custódio



Mesmo que a noite seja profunda,
Na esperança de todos os homens
Talvez numa voz que chora...

Ouve-me...

Sei que sonhas nos meus olhos
Que me prendes nos teus braços
Numa verdade eternizada..

Ouve-me...

Não deixes morrer nos meus lábios
As palavras sofucadas
Nem as dúvidas de ninguem
Sou a posse preciosa
De cantos sem melodias
Um céu ausente de beijos
E um mar a morrer sem ondas

Ouve-me...

Nas gotas gémeas da chuva,
No meu leve respirar,
A minha voz grita, calada,
Apenas sussurrar de terra ausente...

Ouve-me...

Porque eu vigio a tua noite,
Nos caminhos adormecidos
E nos espaços, levados pelo vento;

Ouve-me..

Porque és a gota suspensa no meu mundo
É a ilha do teu rosto que me habita,
Num barco com remos de corais...
Num suspiro dos teus olhos que me escutam

Ouve-me...

Fátima Custódio

Noite da Vida



Aníbal Bastos




Noite eterna caixa de segredos,
Onde vagueiam fantasmas aflitos,
Para tentar silenciar os gritos,
Das almas condenadas aos degredos!

Noite onde à sombra dos teus medos,
Se abrigam os corruptos, os malditos,
Escondendo no escuro os seus delitos,
Para que à luz do dia fiquem quedos!

Noite tenebrosa, onde os vampiros,
Se saciam de sangue da pobre gente,
Que habita na noite dos suspiros!

Noite envolvida em negro manto,
Debaixo do qual escondes a semente
Que gera neste mundo dor e pranto!

A. Bastos (Júnior)

Noturno




Ligia Shlochmann






Chove. Lá fora os lampiões escuros
Semelham monjas a morrer... Os ventos,
Desencadeados, vão bater, violentos,
De encontro ás torres e de encontro aos muros.

Saio de casa. Os passos mal seguros
Trêmulo movo, mas meus movimentos
Susto, diante do vulto dos conventos,
Negro, ameaçando os séculos futuros!

De São Francisco no plangente bronze
Em badaladas compassadas onze
Horas soaram... Surge agora a Lua.

E eu sonho erguer-me aos páramos etéreos
Enquanto a chuva cai nos cemitérios
E o vento apaga os lampiões da rua!

por Augusto dos Anjos 

A poesia da noite



Ereni Wink



A poesia da É o som silente do átomo enluarado
É a displicência da lua
Que deixou metade do outro lado do mundo
A poesia da noite
É a loucura do amor dos outros
É o tédio sem razão
Da minha solidão
A poesia da noite
É essa estranha harmonia
O sonho indecifrável
De um pássaro adormecido
A angústia de ostras
Se afogando
Nas brisas de uma praia distante.

Geraldo Espíndola

A Noite



Ereni Wink




Chegam as noites escuras
Solidão e liberdade tornam-se obscuras

Muitos dormem após um dia de trabalho
Outros vão, com seus agasalhos
Para os mais longínquos lugares,
terem mais uma noite de labutação
e garantir sua alimentação.

Para muitos a noite é má
pois, traz à tona todos os seus problemas
para aqueles que estão na “boa vida”
que não se importa com os outros
esses, dormem com a consciência tranquila.
Mas, na verdade, deveriam ser as mais pesadas,
pois, eles roubam e saem sempre limpos.

Para outros, os favelados,
A noite é um terror.
Rezam para não chover,
...a chuva é a morte.
Pensam no dia seguinte
Será que estarão no emprego?
Morrem de fome ...
Quando deveriam ser os mais bem alimentados.

A noite é perversa.
A noite é amiga
É desgraça, para os desgraçados.
É tranquilidade, para os bem vividos.
Na noite ou no dia,
pobre é pobre
rico é rico
a noite sempre será diferente do dia

(Gabriel Fachini)

Brilhe!



Maria Salete Ariozi



Perguntei ao sol
Qual o segredo
Para sempre iluminar

Ele respondeu:
Perca o medo
Deixe seu coração falar

Perguntei a flor
Qual a magia
Para tudo perfumar
Ela respondeu:
Sorria!
Só amor irá exalar

Perguntei a lua
Qual o mistério
Para o poeta inspirar
Ela disse baixinho:
Aceite o brilho dos outros
Você também pode brilhar!

Sirlei L. Passolongo

Noite Enluarada



Maria Salete Ariozi



As noites de lua farta habitam minhas lembranças,
Nas caminhadas solitárias pelas estradas de chão,
A brisa soprando o rosto, a mente solta em viagens,

E o céu límpido sobre a cabeça e a lua me seguindo.

Não havia saudade que me fizesse malogro qualquer,
Só sonhos e quimeras banhados pelo brilhar da lua,
Nem as sombras que ela formava na beira da estrada,
Ofuscavam a esperança nem inebriavam o caminho.

A lua era toda minha, o céu era todo meu,
A noite era só para mim e para meus sonhos,
As reflexões a que me levavam eram meus planos,
E meus desejos de então seriam meus caminhos.

E até hoje, quando deslumbro a lua formosa,
Subindo lentamente o céu e espelhando a terra,
Sinto o cheiro nítido daquelas caminhadas,
Vejo-me naquele tempo e revivo o mesmo prazer.

Nas noites enluaradas eu sempre renasço,
Repasso às memórias, os amores, as despedidas,
Revivo dores, saudade, vontade, nostalgia só,
E viajo sim nos mistérios que elas me incitam.

EACOELHO

Gestação caminhante



Jorge Morais



gestação caminhante
ventre em jeito de ovo
formado
vida inclusa
incógnita presente
sexo desconhecido
prolongamento ou estagnação
vida contida dentro
barriga formada
inocência guardada
rapaz ou rapariga
loira ou morena
do que dela sabemos
nada

jorge morais

A Noite





Angela Mendes





Um vento fresco e suave entre os pinhais murmura;
A Noite, aos ombros solta a desgrenhada coma,
No seu plaustro de crepe, entre as nuvens assoma ...
Tornam-se o campo e o céu de uma cor mais escura.

Um novo aspecto em tudo. um novo e bom aroma
De látiros exala a amplíssima verdura.
Num hausto longo, a Noite, aos ares a frescura
Doce, entreabrindo a flor dos negros lábios, toma ...

Por vales e rechãs caminha, passo a passo,
Atento o ouvido, à escuta ... E no seu plaustro enorme
Cujo rumor desperta a placidez do espaço,

À encantada região das estrelas se eleva ...
E, ao ver que dorme o espaço e o mundo inteiro dorme,
Volve, quieta, de novo, à habitação da treva.


Francisca Júlia
in Poesias

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