PROSAS EM VERSOS

SER POETA, É SENTIR AFLORAR DA PELE SENSIBILIDADE, É OUVIR O GRITO DOS QUE NADA DISSERAM, É VER POR UMA GAMA DE CORES INVISÍVEIS À MACROSCÓPICA VISÃO DOS INSENSÍVEIS, É PENETRAR IMPIEDOSAMENTE À ALMA HUMANA.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Feita de Metades



Carmen Alice Ribeiro




Não consigo encarar uma vida feita de metades…de metades de tempo,
de metades de gente, de metades de sentimentos…

Lançar-se numa vida inteira, é atear uma fogueira capaz de consumir o
coração por inteiro. Pois apenas chorar até ao fundo as lágrimas e rasgar
até ao céu todos os sorrisos é sentir o mistério de estar vivo. É sentir uma
vida que é feita tragédia e comédia, é sentir o abraço inteiro de um mundo
que gira, e guardar no peito toda a rotação de um coração chamado a
crescer em cada jornada.
Sempre um pouco mais…
Viver em metades,é deixar que o sabor de um momento, feito para agarrar
na totalidade, fuja entre os dedos e fira a alma deixando o suave sabor a
desilusão pintado nas paredes com que se erguem os castelos da nossa
memória. Quem nunca se arrependeu de ter ido mais além?
Talvez se…quem sabe se…
É fácil viver de metades e mais difícil viver por inteiro. O desafio é ser capaz
de lançar-se de corpo e alma num sonho pois só assim se lhe pode dar sangue,
sal, vida, carne e luz de estrelas que outrora brilhavam apenas na imaginação.
E se algo tem de doer, se a desilusão aparece, que seja ao menos aquela de ter falhado após se ter entregado tudo, do que a desilusão de ter falhado por medo
de viver.

Aprendi que as contas de matemática não se ajustam á realidade dos meus sentimentos. Aprendi que na vida as filosofias escrevem-se em linhas tortas e
que o sangue por vezes jorra do peito. Aprendi que poemas nem sempre são
canções de amor. Aprendi que há coisas que não se renovam e dores que não
se apagam. Aprendi que quando a vida nos marca para sempre, é mesmo para sempre, seja bom ou mau. Aprendi que o tempo não elimina as feridas, apenas
nos permite acomodarmo-nos a elas. Aprendi que sorrir numa gota de amor é
capaz de lavar uma imensidão de culpas e permite colocar os erros passados
em segundo plano. Aprendi que viver é chorar ao sol e por vezes dançar à chuva.
Mas aprendi que posso dar sempre um pouco mais:
para acreditar, para me entregar, e para poder viver.
Um pouco mais do que posso dar…
Mais um pouco.

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