A Verdade

Aníbal Bastos





Nossa senhora da luz,
Alivia a minha cruz,
Livra-me desta ansiedade.
Alumia-me no escuro,
Neste mundo, onde procuro,
Há tanto tempo a verdade!

Já corri vales e montes,
E outros mais horizontes,
Cruzei mares e oceanos.
Bati de porta em porta,
Voltei de esperança morta.
Só encontrei desenganos!

Procurei-a nos tribunais,
Nas revistas e jornais,
A resposta foi a mesma:
- Ainda cá não chegou…!
(Porque alguém a obrigou
A andar a passos de lesma!)

Procurei-a nos políticos,
Nos sábios analíticos,
-Fina flor da sociedade.
Do trinar das suas liras,
Soaram tantas mentiras,
Disfarçadas de verdade!

Fui às altas reuniões
Dos governos das nações,
Fui ao palácio do rei.
Debalde a minha procura,
E vim cheio de amargura,
Porque não a encontrei!

Percorri outros caminhos,
Fui a bruxos e adivinhos,
E ainda fiquei mais triste.
Que consultando as estrelas,
Disseram ter lido nelas,
Que a verdade não existe!

Quando já desesperado,
De todo desanimado
Disse-me uma voz velada:
- Vai às ruas da amargura,
Onde ela se encontra pura,
Porém triste e desprezada.

A. Bastos (Júnior)