PROSAS EM VERSOS

SER POETA, É SENTIR AFLORAR DA PELE SENSIBILIDADE, É OUVIR O GRITO DOS QUE NADA DISSERAM, É VER POR UMA GAMA DE CORES INVISÍVEIS À MACROSCÓPICA VISÃO DOS INSENSÍVEIS, É PENETRAR IMPIEDOSAMENTE À ALMA HUMANA.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

ANIBAL - Prosas do Tema = RETALHOS




Aníbal Bastos
MANTA DE RETALHOS




Uma manta de retalhos,
Chama-se antigamente,
A uma coberta de cama,
Dos pobres os agasalhos!
Nas noites frias de inverno,
Nas casas sem ter lareira,
Ou nas lareiras sem chama,
O frio parecia eterno!
Do tear da tecedeira,
Depois de muitos trabalhos,
Com muitas horas de Serão,
Para proteger do frio,
Tecia-se com perfeição,
Com orgulho e com brio,
Uma manta de retalhos!

Porém há outros retalhos,
Ou se quisermos pedaços;
Ou fases da nossa vida!
Umas em que foi vivida,
Entre beijos e abraços
E outra triste dorida,
Com a alma em frangalhos
E o coração a sangrar!
Que nas coisas do amor,
Também se pode tecer,
Para quando se precisar,
A alma fria aquecer,
Aconchegando o calor,
Uma manta de retalhos!

E debaixo dessas mantas,
Foram tantas horas, tantas,
De imenso amor vivido,
Entre dois corpos amantes;
Pelas mantas encobertos,
Os seus sentidos despertos,
Pelos beijos escaldantes,
Num desejo aquecido!

E na trama e urdidura,
Como a manta era tecida,
Por desvios, ou atalhos,
Como cartas sem baralhos,
Ficaram mantas na vida
Em tecidos de amargura,
Feitas mantas de retalhos!

A. Bastos (Júnior)

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