PROSAS EM VERSOS

SER POETA, É SENTIR AFLORAR DA PELE SENSIBILIDADE, É OUVIR O GRITO DOS QUE NADA DISSERAM, É VER POR UMA GAMA DE CORES INVISÍVEIS À MACROSCÓPICA VISÃO DOS INSENSÍVEIS, É PENETRAR IMPIEDOSAMENTE À ALMA HUMANA.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Tempestade!





Fernando Martinho






O meu beliche é tal qual o bercinho,
Onde dormi horas que não vêm mais.
Dos seus embalos já estou cheiinho:
Minha velha ama são os vendavais!

Uivam os ventos! Fumo, bebo vinho.
O vapor treme! Abraço a Biblia, aos ais...
Covarde! Que dirá teu Avôzinho,
Que foi moreante? Que dirão teus Pais?

Coragem! Considera o que às sofrido,
O que sofres e o que ainda sofrerás,
E ve, depois, se acaso é permitido

Tal medo à Morte, tanto apego ao mundo:
Ah! fora bem melhor, vás onde vás,
António, que o paquete fosse ao fundo!

António Nobre, in 'Só'

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