PROSAS EM VERSOS

SER POETA, É SENTIR AFLORAR DA PELE SENSIBILIDADE, É OUVIR O GRITO DOS QUE NADA DISSERAM, É VER POR UMA GAMA DE CORES INVISÍVEIS À MACROSCÓPICA VISÃO DOS INSENSÍVEIS, É PENETRAR IMPIEDOSAMENTE À ALMA HUMANA.

domingo, 11 de março de 2012

Quanto a Natureza



Carmen Alice Ribeiro




Quanto a Natureza é bela e quanto o ar é ameno!
Senhor! Rendo graças e te admiro, de joelhos.
Possa o hino de alegria de meu reconhecimento
Subir, como o incenso, até a tua onipotência.

Assim, diante dos olhos de suas duas irmãs em luto,
Fizeste sair outrora Lázaro de seu sepulcro;
De Jairo desvairado, a filha bem-amada
Foi em seu leito de morte por tua voz reanimada.

Do mesmo modo, Deus poderoso! Me estendeste a mão;
Levanta-te! Tu me disseste: não o disseste em vão.
Por que não sou, ai, senão um vil montão de lama?
Gostaria de te louvar com a voz de um anjo;

Tua obra jamais me pareceu tão bela!
É àquele que sai da noite do túmulo
Que o dia parece puro, a luz brilhante,
O sol radioso e a vida embriagadora.

Então o ar é mais doce que o leite e o mel;
Cada som parece uma palavra nos concertos do céu.
A voz surda dos ventos exala uma harmonia
Que aumenta no vago e se torna infinita.

O que o Espírito concebe, o que fere os olhos,
É que se pode adivinhar no livro dos céus,
No espaço dos mares, sob as vagas profundas,
Em todos os oceanos, os abismos, os mundos,

Tudo se arredonda em esfera, e sente-se que no meio
Esses raios convergentes conduzem a Deus.
E tu, cujo olhar plana sobre as estrelas,
Que te ocultas no céu como um rei sob seus véus,

Qual é, pois, tua grandeza, se esse vasto universo
Não é senão um ponto aos seus olhos, e o espaço dos mares
Não é mesmo um espelho para teu esplendor imenso?
Qual é, pois, tua grandeza, qual é, pois, tua essência?

Que palácio tão vasto construíste, ó Rei!
Os astros não saberiam nos separar de ti.
O sol a teus pés, poder sem medida,
Parece o ônix que um príncipe amarra ao seu sapato.

O que admiro em ti, sobretudo, majestade!
É bem menos tua grandeza, que a imensa bondade
Que se revela em tudo, assim como a luz!

E de um ser impotente, atende a prece...
(Revista Espírita, dezembro de 1858)

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