PROSAS EM VERSOS

SER POETA, É SENTIR AFLORAR DA PELE SENSIBILIDADE, É OUVIR O GRITO DOS QUE NADA DISSERAM, É VER POR UMA GAMA DE CORES INVISÍVEIS À MACROSCÓPICA VISÃO DOS INSENSÍVEIS, É PENETRAR IMPIEDOSAMENTE À ALMA HUMANA.

domingo, 25 de março de 2012

FÁTIMA - Prosas do Tema = Montanhas


Fátima Custódio
A montanha e eu




Quando olho esta montanha que parece desabar sobre mim e esmagar-me, como é enorme a minha pequenez!

Preciso escalá-la. Mas aqui onde estou e olhando-a a prumo não será possível. Terá de ser pelo outro lado. E em espiral. Sei que por detrás desta enorme montanha, avistarei outra e depois outra.
Começo a escalada e levo o coração e os meus passos por companhia.
Como é lenta e sinuosa esta subida. Como a da vida.
Como o elo entre o passado e o futuro. E o vento não se extingue. Está cheio de rumores que trago sempre comigo.
Radiosa é a luz verde desta montanha, envolvendo tudo em meu redor. Há o canto, há o zumbido, há o silêncio. Há os tons e há os sons da natureza a viver. As fragas desafiam as enormes pedras que lá no alto permanecem inertes e imunes ao passar do tempo.
Vou subindo e os meus passos continuam a acompanhar-me. O meu coração também.
De todas as árvores, só de algumas sei o nome. Tonalidades variadas e levemente tocadas pelo sopro duma brisa morna. O sol adoça a folhagem os dourados da folhagem caída.
É tudo tão perfeito, daqui até ao firmamento. Excepto aquela mancha de carvão que avisto ao longe. Foi a triste mão do homem. Há homens que choram por aquilo que outros homens fazem. E os animais também!
Corro pelas escarpas e detenho-me nalguns arbustos. Como gosto do cheiro das estevas e do rosmaninho.
Ignoro as horas, e respiro o silêncio que desce sobre mim. Descalço-me. Tenho os pés cansados e o coração vazio. Não tarda aí o crepúsculo, as aves irão para os ninhos, os ruídos calar-se-ão e eu ficarei junto da montanha que nunca dorme. Tenho sede e tenho frio. Beberei da neblina da noite e o manto da lua aquecer-me á!
Sinto-me tão longe de mim! Mas a natureza não sabe disso! Nem tão pouco se compadece. E fica em mim a pergunta: porque me deixas morrer assim?

Fátima Custódio

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