PROSAS EM VERSOS

SER POETA, É SENTIR AFLORAR DA PELE SENSIBILIDADE, É OUVIR O GRITO DOS QUE NADA DISSERAM, É VER POR UMA GAMA DE CORES INVISÍVEIS À MACROSCÓPICA VISÃO DOS INSENSÍVEIS, É PENETRAR IMPIEDOSAMENTE À ALMA HUMANA.

sábado, 10 de março de 2012

As Cores do Poema



Carmen Alice Ribeiro




Atenta nesta paleta de cores
estes sinais de opulência da luz breve
simbolos que acordam a manhã dos nossos olhos
para a flor do sol
que insistem na múltipla transfiguração
imagens que dão forma às nossas vidas;

repara no preto e no branco
como se a sinfonia dos acasos
não fosse mais que a simetria dos ocasos
ou no azul que desfalece
os matizes infindáveis dos cinzentos
que vai nos olhos, no sangue de cada um
porque é o sol magenta dos alvores matinais
que trai os sonhos da madrugada
a reflexão das cores e do entendimento.

Vê como o verde decai
em tonalidades martirizadas pelo ocre e o amarelo
sustentando a linha melódica dos barros.

Observa a côr do céu na fria latitude
dos gelos glaciares
na transparência da água dos oceânos
resolvida em anémonas e corais de luz.

Atenta no rosa dos frutos da primavera
entre as folhas a captar o sol
para a maturidade corrompida pelo granizo
onde a imagem da noite baila
no esmorecimento das cores e a sua ausência

o negro

... o presente persistindo
... curvado à sapiência do eterno.

Atenta nas cores
e ouve o timbre os tons da música
capaz de trazer violetas e rosas
ao patamar da euforia
o climax de licores de carmin e rosa
em púrpura desfeita virgindade
na face da menina
já mulher.

Lê a tua sina em esmeraldas
e em rubis cristalizados
proscritos até ao fim do tempo
ou o ébano das noites frias envenenando
o brilho diáfano de ametistas e turquesas
que resolvem a cinza em azul e oiro

e vê como tudo se encaminha para um grande abraço
num arco-íris que vincula a terra à terra
o sangue ao rubro sangue das entranhas de um vulcão
que derrama todas as cores
os simbolos e os signos

o magma que há-de florescer nas sensações
a percepção subjectiva
do real.

VIEIRA CALADO

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