PROSAS EM VERSOS

SER POETA, É SENTIR AFLORAR DA PELE SENSIBILIDADE, É OUVIR O GRITO DOS QUE NADA DISSERAM, É VER POR UMA GAMA DE CORES INVISÍVEIS À MACROSCÓPICA VISÃO DOS INSENSÍVEIS, É PENETRAR IMPIEDOSAMENTE À ALMA HUMANA.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

SOLIDÃO - PROSAS DO TEMA





Magna Azevedo




Aproximo-me da noite 
o silêncio abre os seus panos escuros 
e as coisas escorrem 
por óleo frio e espesso 

Esta deveria ser a hora 
em que me recolheria 
como um poente 
no bater do teu peito 
mas a solidão 
entra pelos meus vidros 
e nas suas enlutadas mãos 
solto o meu delírio 

É então que surges 
com teus passos de menina 
os teus sonhos arrumados 
como duas tranças nas tuas costas 
guiando-me por corredores infinitos 
e regressando aos espelhos 
onde a vida te encarou 

Mas os ruídos da noite 
trazem a sua esponja silenciosa 
e sem luz e sem tinta 
o meu sonho resigna 

Longe 
os homens afundam-se 
com o caju que fermenta 
e a onda da madrugada 
demora-se de encontro 
às rochas do tempo 

Mia Couto,
 in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Você faz parte daqui