Orlando Costa Filho
Hoje ele não quer queimar pestana
caçar a rima, caso ela não venha e pouse
qual borboleta numa folha de papel
e correr o risco de perder o rumo
de perder o prumo
de perder o sumo da fruta
de uma paisagem qualquer contemplada...
Hoje quer vinho do bom, a uva
com a qual coadjuva num rubro espetáculo
cenário de língua e céu da boca,
agarrar os cabelos da noite
transbordando lua, quer toda poesia
estampada nos olhos dessa musa.
Se uma idéia se perdeu... pouco importa,
[a vida continua.
O verso de ouro fugiu? Livre que é, nem sempre
[aceita o visgo do papel.
Se não voltar, por certo uma prima virá
sabe-se lá quando...
Hoje não quer métrica,
nem a ética da estética escrita,
mas a poesia profética lunar,
a onda que o sonda e lhe molha os pés
a renda da cambraia de mar
– a um só tempo sereno e profundo,
a concha na praia e uma diva sem saia.
Nada de esculpir frases, ajeitar
palavras argilosas aqui e acolá pra dizer
o seu quase indizível sentimento.
Quer apenas vivenciar
as telas e os estilos do Mestre que
se movem e comovem...
Deu folga ao ego, e diz sem medo:
“hoje me entrego à letargia verborrágica”. Quer
dançar beber fumar trepar dormir
nada de escrever...
Eu o entendo, sei como é isso,
afinal ele e eu somos um
e portanto estamos incrivelmente
em paz!
ocf
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