PROSAS EM VERSOS

SER POETA, É SENTIR AFLORAR DA PELE SENSIBILIDADE, É OUVIR O GRITO DOS QUE NADA DISSERAM, É VER POR UMA GAMA DE CORES INVISÍVEIS À MACROSCÓPICA VISÃO DOS INSENSÍVEIS, É PENETRAR IMPIEDOSAMENTE À ALMA HUMANA.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Pesadelo Concreto e Experimenta



Orlando Costa Filho




Quando você me disse que não mais voltaria
lançou-me em queda livre
e olha que eu estava sentado.

A calma, em coma
a alma, estilhaçada, sombras
escuridão tomou conta.

Cumulonimbos, um tornado
demasiadamente
avassalador me
envolveu e
fui trag
ado e
mo
rr
i

ressuscitei
não suscitei dúvida
desesperado vi:
pago dívida
contraída n’ outra vida
d’outra vida...

A B O R T E I
B O R T E I A
O R T E I A B
R T E I A B O
T E I A B O R
E I A B O R T
I A B O R T E
A B O R T E I

as ideias
"shitty brainstorm"
de copos de geleia
derramei goela abaixo
litros e litros de vinho barato.

Desnivelei o chão
andando em círculos
voltei a fumar
no espelho o Ícaro
me fitava, eu recuava
ele sumia e eu trovoava
no céu do meu inferno
me viciei em alprazolam
lexotan rivotril
na puta que pariu...
as paredes das narinas
emboçadas com argamassa
de pó de mármore e giz
misturados à cocaína
com que escrevia
na mesa em que jantávamos:

"COMO PODE FAZER ISSO COMIGO?"

mal deixavam o ar passar...
esqueci o que era ser feliz.

Dor que procurava luz
Nos becos perpendiculares
À via Ápia, que não passava por Cápua,
mas lá na Rocinha, hoje urbanizada

(HÁHÁHÁHÁ)

pelo Município
e pacificada
pelo Governo do Estado (quem diria!)

Eu estava no pátio da escola, chão de terra revestido de pedriscos. Era noitinha, a meninada espalhada. Eis então que a lua nova estrondou 10 vezes. Em cada uma delas, ela se fazia visível, embora pálida, entre nuvens. Alguém gritou: "isso é o fenômeno "tal" e costuma logo depois cair um 'não sei o que!'". E choveu logo em seguida, flocos de gelo sem gelo, inclinada e abundantemente. Temperatura ambiente, ambiente em desespero e cada aluno e professor tomava uma direção. Fenômeno meteorológico é o cacete, o planeta foi invadido, homens de preto. Havia uns com pescoço com mais de metro e suas cabeças do tamanho de uma laranja. Eles nos prenderam nas instalações da escola. Um dos nossos, impetuosamente, conseguiu cravar um cutelo no pescoço dum. Chance de fuga, aproveitamos, eu e mais uns dois ou três. Ficamos a rezar o Pai Nosso como cantiga de roda e nós - já éramos mais de sete - esquecíamos a letra no terceiro verso e o "venha a nós o Vosso reino" não havia jeito de ser pronunciado, mas a ciranda não parava. Em minhas gengivas nasciam espinhos de roseira, conforme eu os tirava, resurgiam outras... Os invasores revestiram as paredes externas da casa de praia com folhas de aglomerado de madeira, dessas usadas em construção civil, pra abafar o som do desespero. "Eles voltaram", gritei. Na cama ao lado um ser estranhíssimo, cínico e debochado ao extremo, se embolando com minhas roupas ali esparramadas e a cada vez que tentava pegá-lo, ele me paralisava com a mente e fazia a festa dando cambalhotas...

Que força fazia e não conseguia,
Anestesia peridural
Quase geral, só o olho mexia
Eu pesava 100 toneladas,
da cama não saía.

...........

Celular entrou estridente
Rangendo dente, ouvi:
“all you need is love”
Tchan tchan tchan ran tchan…
"love is all you need"
Ufa! Era a Rosa lembrando a reunião das nove
E já passava das sete...

Percebi o pesadelo e vi
o sol entrou pela janela,
venceu a fresta das cortinas
e explodiu suas tintas na parede do quarto,
um quadro,
retratando o riso vertical
de mais um novo dia...

ocf

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