Jorge Morais
…
fria é a noite
no ventre
do teu rosto
no impulso cru
das tuas palavras
vás gelando
nossas gargantas
olho em mim
vejo o dorso
da minha espinha
cada vez mais curvado
farto-me do não na vida
troco minha liberdade
por um naco de pão
não
merda à vida
sou injusto comigo mesmo
prendendo os pés
aos sapatos
o corpo aos movimentos
comprei um relógio
que não me deixa dormir
que me aterroriza
pela madrugada
me arrancando da cama
sou eu próprio a prender-me
e a reprimir-me
todos os gestos que faço
põe em jogo o ser livre
quero a minha liberdade
que merda
tenho de dormir
mas se dormir
irei ficar preso
aos meus sonhos
deles ficarei dependente
mas como poderei
ser livre
jorge morais
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