PROSAS EM VERSOS

SER POETA, É SENTIR AFLORAR DA PELE SENSIBILIDADE, É OUVIR O GRITO DOS QUE NADA DISSERAM, É VER POR UMA GAMA DE CORES INVISÍVEIS À MACROSCÓPICA VISÃO DOS INSENSÍVEIS, É PENETRAR IMPIEDOSAMENTE À ALMA HUMANA.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Jograis




Aníbal Bastos





As quadras que vamos ler,
Não dizem nada de novo!
Apenas vos vão falar
Da vida do nosso povo!

E para começar:
Saber eu muito queria,
Afinal para que serve,
A junta da freguesia?

Se há caminhos onde a água,
Correndo por eles abaixo,
Que no inverno não se sabe,
Se é caminho ou riacho?

Também outros caminhos há
Com um cheiro repelente,
Porque passaram a esgoto,
Das fossas de certa gente!

De noite usa-se o lampião,
Para não se tropeçar,
Porque só temos luz pública
Nas noites em que há luar!

Acima de nós o céu!
Abaixo de nós a terra
E entre a terra e o céu,
Avidez, ódio e guerra!

Com tantas terras de mato,
Cá na nossa região,
Deixa-se construir fábricas.
Em terras que davam pão!

Construam-se fábricas à vontade,
Para madeira, ferro ou latas,
Se um dia faltar de comer,
Coma-se o tojo das matas!

Não se cuide da agricultura,
E se um dia vier a fome,
Experimentem comer dinheiro,
Para ver se o dinheiro se come!

Vai marcar-se uma consulta,
À Caixa da Previdência,
A prever-se uma doença,
Com um mês de antecedência!

Quando a espera é só um mês,
Ainda a coisa não está mal,
Porque há doentes que esperam,
Às vezes um ano e tal.

Com tanto tempo de espera,
Neste mundo velho e torto,
Ou o doente fica são!
Ou é consultado morto!

E coisas mais por aí além,
Mas que não é bom falar.
Verdades, muitas dissemos,
Mas muito mais faltam contar!

Nós não pedimos desculpa,
Pela nossa língua afiada!
A quem serviu a carapuça
Que a enfie bem enfiada!

A. Bastos (Júnior) 1968

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