Aníbal Bastos
As quadras que vamos ler,
Não dizem nada de novo!
Apenas vos vão falar
Da vida do nosso povo!
E para começar:
Saber eu muito queria,
Afinal para que serve,
A junta da freguesia?
Se há caminhos onde a água,
Correndo por eles abaixo,
Que no inverno não se sabe,
Se é caminho ou riacho?
Também outros caminhos há
Com um cheiro repelente,
Porque passaram a esgoto,
Das fossas de certa gente!
De noite usa-se o lampião,
Para não se tropeçar,
Porque só temos luz pública
Nas noites em que há luar!
Acima de nós o céu!
Abaixo de nós a terra
E entre a terra e o céu,
Avidez, ódio e guerra!
Com tantas terras de mato,
Cá na nossa região,
Deixa-se construir fábricas.
Em terras que davam pão!
Construam-se fábricas à vontade,
Para madeira, ferro ou latas,
Se um dia faltar de comer,
Coma-se o tojo das matas!
Não se cuide da agricultura,
E se um dia vier a fome,
Experimentem comer dinheiro,
Para ver se o dinheiro se come!
Vai marcar-se uma consulta,
À Caixa da Previdência,
A prever-se uma doença,
Com um mês de antecedência!
Quando a espera é só um mês,
Ainda a coisa não está mal,
Porque há doentes que esperam,
Às vezes um ano e tal.
Com tanto tempo de espera,
Neste mundo velho e torto,
Ou o doente fica são!
Ou é consultado morto!
E coisas mais por aí além,
Mas que não é bom falar.
Verdades, muitas dissemos,
Mas muito mais faltam contar!
Nós não pedimos desculpa,
Pela nossa língua afiada!
A quem serviu a carapuça
Que a enfie bem enfiada!
A. Bastos (Júnior) 1968
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