Orlando Costa Filho
Meu coração é cortado por um rio
fluindo calmamente enquanto balbucia
aos ouvidos da tarde primaveril.
Preâmbulo de noite que asfixia
toda palavra que pretendo lhe dizer
nas liras que escreverei a cada dia
em não tão longínqua e mui bela estância,
onde ventos batem asas de alegria.
Contudo, somente, sinto o chão tremer
durante a longa espera que de mim judia,
louco estou, abrir caminho com a espada
no seu vale encantado, é o que me anuncia
a canção que colho no jardim musical
dos seus olhos. Sonatas, noturnos, elegias
a dissolver nossos sentidos nos braços
da madrugada que brinca suas luzes e é tardia.
Meu coração é cortado por um rio
sereno, cristalino, aguarda esse dia,
sob pena de erodir suas margens
revolto, se o sonho que se me prenuncia
desviar sua rota, nossa prosa, nossa história
perderem-se no cipoal da coxia.
Não, nem pensar! A fé move as montanhas
por onde ecoarão os gritos de gozo e lascívia
Castelo/ES, 07/10/2010
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