Orlando Costa Filho
Jaz pungente nas areias brancas
que orlam o imenso lago de águas serenas
e profundas da existência,
o corpo exausto do cantor da esperança
cujos músculos derretem-se em sono tão silencioso
quanto o rio do Tempo.
Sim, do Tempo,
aquele do qual a geografia universal
não nos deu nenhuma notícia
sequer uma pista
de onde encontra-se a nascente ou
das coordenadas em que está a sua foz...
(o tempo expresso nos calendários... mera ficção
a partir dos movimentos do grão -Terra!)
O Tempo, com tê maúsculo é
aquele fora do qual nada existe
(ou existe apenas o "nada"):
nem o riso, o afeto, a dor...
nem a lágrima, a ferida, o amor..
nem um cisco...nem um pó...
Nada, nada há que não esteja dentro do Tempo,
o rio que flui sem nascente e sem foz
cujas águas rolam sem leito
sem gemidos
sem voz...
e assim vislumbro uma das faces de Deus...
O cantor descansa após ter entoado
com a força do jacarandá
com a doçura do sapoti e do caldo do melão
a pingar do bico de um canoro sabiá
sua melodia...
Esse cantar deixava claro uma regra
(quase de ouro):
tal como a luz e a treva
não haveria a glória, o explendor
sem tristeza, sem agonia, sem dor...
Mas cantor que sou, passa a ser outra história e
decido meu repertório:
não preciso mais de,
com a dor de uma saudade,
agarrar-me a fotografias...
nem a um rugido feroz ameaçador,
temê-lo sob lágrimas, aflições e liturgias...
Parei com o mundo dual...
A existência do bem
não pressupõe a do mal!
Esta é a minha nova regra
férrea:
"as regras existem para serem quebradas!"
O Tempo me confirmará
quando suas águas avançarem um pouco mais
rumo
à foz
que não há...
Enquanto isso, canto bem alto
sem respeitar a lei do silêncio...
Quem quiser que chame a polícia!
Mas o Tempo
há de me confirmar...
ocf
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