PROSAS EM VERSOS

SER POETA, É SENTIR AFLORAR DA PELE SENSIBILIDADE, É OUVIR O GRITO DOS QUE NADA DISSERAM, É VER POR UMA GAMA DE CORES INVISÍVEIS À MACROSCÓPICA VISÃO DOS INSENSÍVEIS, É PENETRAR IMPIEDOSAMENTE À ALMA HUMANA.

sábado, 4 de agosto de 2012

Tenho medo




Fátima Custódio



Tenho medo...
Amarra-me ao teu peito e não me soltes...


Tomba a tarde quente dentro da noite que se aproxima. Ardentes são os lugares para onde me levas. A lua é quase escarlate e esboça sorrisos húmidos para refrescar os silêncios estridentes impostos pelos dias desfolhados em câmara lenta...

Sinto medo vindo da rua, agora deserta e nua..
Escaldam-me as mãos geladas sempre presas ao nada...
Sinto medo desta espera prolongada entre a noite e a madrugada...

Ouso subir a corrente, rompendo os muros intransponíveis das sombras que fazem calar a noite. Ergo-me num sonho impregnado de asas de fogo. Nascem dentro dos meus olhos as palavras que os teus ouvidos guardam.
Seguro-te em lírios colhidos no jardim desenhado pelo entardecer de ontem..

Tenho medo das páginas que se rasgarão vazias, nas minhas mãos incompletas; novamente um gesto profundo de silêncio aniquila-me a vontade. A vontade de gritar e romper todas as pontes feitas num percurso de pó...

Tenho medo...
Amarra-me ao teu peito e não me soltes...

Fátima Custódio

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