Fátima Custódio
Tenho medo...
Amarra-me ao teu peito e não me soltes...
Tomba a tarde quente dentro da noite que se aproxima. Ardentes são os lugares para onde me levas. A lua é quase escarlate e esboça sorrisos húmidos para refrescar os silêncios estridentes impostos pelos dias desfolhados em câmara lenta...
Sinto medo vindo da rua, agora deserta e nua..
Escaldam-me as mãos geladas sempre presas ao nada...
Sinto medo desta espera prolongada entre a noite e a madrugada...
Ouso subir a corrente, rompendo os muros intransponíveis das sombras que fazem calar a noite. Ergo-me num sonho impregnado de asas de fogo. Nascem dentro dos meus olhos as palavras que os teus ouvidos guardam.
Seguro-te em lírios colhidos no jardim desenhado pelo entardecer de ontem..
Tenho medo das páginas que se rasgarão vazias, nas minhas mãos incompletas; novamente um gesto profundo de silêncio aniquila-me a vontade. A vontade de gritar e romper todas as pontes feitas num percurso de pó...
Tenho medo...
Amarra-me ao teu peito e não me soltes...
Fátima Custódio
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