PROSAS EM VERSOS

SER POETA, É SENTIR AFLORAR DA PELE SENSIBILIDADE, É OUVIR O GRITO DOS QUE NADA DISSERAM, É VER POR UMA GAMA DE CORES INVISÍVEIS À MACROSCÓPICA VISÃO DOS INSENSÍVEIS, É PENETRAR IMPIEDOSAMENTE À ALMA HUMANA.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Lembrarei




Orlando Costa Filho






não esquecerei: comer folhas evita
levar picada nas pernas pernilongos e afins
que sempre haverá alguém melhor do que nós
naquilo que fazemos. não esquecerei
levei seu coração-clorofila e restou
uma caverna, private cavern club, um pub
uma noite doce e eterna enquanto ouvia
suas doces palavras que desciam das nuvens
lavando calçadas e vias...

não esquecerei
que eu e você somos um verso sem vírgulas
que nossas vidas são os combustíveis e o comburente
é a poesia
somos um pavio em que a chama é amarela,
avermelha e azula
paraíso em combustão já que as dúvidas e dívidas
são devidamente descartadas na pia
se perdem no sumidouro no fundo do mundo!

lembrarei ainda
a rotina jamais embaçou nossas retinas
não haveremos de ficar num canto da noite densa
sentados no chão entregues à parede como se fosse
um refúgio! não esquecerei
a morte é um subterfúgio do espírito
ante as dificuldades da matéria e eu
jamais morrerei por você. só viverei! só viverei!
como puder como você como vier sem pudor
mulher...

tatuada na memória trarei
sempre que ouvir badalos de sino ecoarem na menopausa
da tarde,
a grande verdade me abate, honey: ninguém chega
aos 50 impunemente sob pena de ser santo e não
gente,
damos um rolê lado a lado até o céu encher-se de purpurinas
e lantejoulas
e minha mão agarra-se à sua como se eu fosse
criança que caminha à beira de um precipício...

ocf - Castelo/ES 01/06/2012

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Você faz parte daqui