Fátima Custódio
Sons de um pensamento triste
Os ruídos do silêncio estão cansados. Parece-me que os oiço chorar...Sonolenta, fico a pensar na minha fragilidade; é tão fácil ficar aqui parada. Corpo inerte, olhando com indiferença, como se tudo o que acontece fosse nada. É ter fácil não ter nada, nada terei a perder. Revejo momentos cruciais da minha vida, como se a palavra "fim" não tivesse força para sair deste ecrã luminoso. Todas as frases que legendavam as imagens, tornaram-se cruelmente em símbolos indecifráveis; nem tento compreendê-los...porque assim é mais fácil...
Frágil criança adormecida num sofá de amargura. Criança frágil demais para suportar o peso quilogramico de tanta dor derramada; terra molhada até mais não, tanta dor tornada lágrima, enchente de leito de rio árido e seco; rio que não deleitou...rápido e grotesco juntou-se depressa ao mar. Engano de si próprio, não chegou a ser rio. È simplesmente catarata desaparecida...
O sol eclipsa-se mas volta a ser sol; e, eu, qual catarata dissolvida nos cantos das salinas, sinto as feridas nos meus lábios de sal; as palavras que quero fazer sair não é mais do que um esboço de cansaço, ofuscado pelo brilho incolor dos sais filhos do mar. Uma velha gaivota de penas despida, aninha-se a mim. Não por muito tempo, só por escassos momentos. Lentamente, prepara o seu voo e parte. Não sei para onde, depressa se confunde com o longínquo horizonte prateado. Já não há céu, só alinhamentos de cor púrpura...e a palavra "fim" teima debilmente em aparecer. Os meus olhos, lagos brancos, vão-se confundindo com as salinas onde me enterrei. Porque é mais fácil...porque assim tudo é mais fácil...
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