Aníbal Bastos
Quando qualquer sentimento
Que nasça dentro de mim
E me queira fazer mal,
Tornando mais infeliz,
Esta vida desgraçada,
Eu arranjo sempre um jeito:
Pela mão do pensamento,
Invento logo um punhal,
Rasgando com ele o peito,
Corto o mal pela raiz,
Pondo ao sentimento fim,
E faço do tudo, nada!
Pode até fazer doer,
A minha alma rasgar,
Tão fria e cruelmente!
Mas ver com ela brincar,
Não é coisa que aceite
E por mais que sangue deite!
Sei que um dia vai parar
E com um golpe de repente!
Procuro fazer morrer,
O sentimento ardente
Que me nasceu, sem eu querer!
Se teimar em permanecer,
E tentar ir mais além,
Contra a minha vontade!
Com a espada da razão,
Corto-lhe a voz da saudade!
Poeta por inspiração,
Mas rude por natureza,
Escrevo versos ao amor,
Com mistura de ciúme!
Faço rimas à beleza,
Mas também canto a tristeza
Por ser a filha da dor
E alma do azedume!
Tenho sentimentos bastos!
E a quem me quer ver sofrer,
Respondo com o dizer:
-Posso morrer de paixão,
Mas nunca andarei de rastos,
Por nada, nem por ninguém!
A. Bastos (Júnior)
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