PROSAS EM VERSOS

SER POETA, É SENTIR AFLORAR DA PELE SENSIBILIDADE, É OUVIR O GRITO DOS QUE NADA DISSERAM, É VER POR UMA GAMA DE CORES INVISÍVEIS À MACROSCÓPICA VISÃO DOS INSENSÍVEIS, É PENETRAR IMPIEDOSAMENTE À ALMA HUMANA.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Inferno (Aníbal Bastos)





Aníbal Bastos





Óh doce afago!
De amor cruel
Que me entonteces
Que me sedentas
Que me inebrias
Que me enlouqueces
Que me alimentas,
Todos os dias
O pensamento,
De amargo fel
Que não apago
Rezando preces!

Vivi em vão,
Entre gentalha,
De galardão,
Que era canalha,
No coração!

Sem um lamento,
Nem um queixume,
Deitei-me ao lume!
Escrevi versos, 
De amor e ciúme!

Sonhei acordado,
Cantei o fado
Que eu escrevera.
Vi a meu lado,
Quem já morrera!

Reneguei a fé,
Escondi-me de Deus,
Fui na tempestade,
Voei pelos céus! 

Amainou o vento.
Caí em terra,
Cheirou-me a sangue,
Coagulado,
Fruto da guerra!
Andei errante,
Buscando abrigo,
Encontrei o diabo
Que se fingiu meu amigo,
Estive no inferno,
Sem ser por castigo!

Vi um julgamento,
Feito a dois,
Onde o acusado,
Simplesmente,
Foi morto primeiro,
Julgado depois,
E, estava inocente!

Procurei sair,
Desse lugar conspurcado,
Corri para o portão,
Mas estava trancado!
Tentei outra porta,
Mas também não se abria
Procurei acordar
Quando não dormia!

Julguei que era sonho,
Horrível, medonho
Que tinha sonhado!
Quando reparei
Que simplesmente
Estava acordado! 


A. Bastos (Júnior)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Você faz parte daqui