PROSAS EM VERSOS

SER POETA, É SENTIR AFLORAR DA PELE SENSIBILIDADE, É OUVIR O GRITO DOS QUE NADA DISSERAM, É VER POR UMA GAMA DE CORES INVISÍVEIS À MACROSCÓPICA VISÃO DOS INSENSÍVEIS, É PENETRAR IMPIEDOSAMENTE À ALMA HUMANA.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Anoitecer




Fatima Pessoa



A luz desmaia num fulgor d'aurora, 
Diz-nos adeus religiosamente... 
E eu, que não creio em nada, sou mais crente 
Do que em menina, um dia, o fui... outrora... 

Não sei o que em mim ri, o que em mim chora 
Tenho bênçãos d'amor pra toda a gente! 
Como eu sou pequenina e tão dolente 
No amargo infinito desta hora! 

Horas tristes que são o meu rosário... 
Ó minha cruz de tão pesado lenho! 
Meu áspero e intérmino Calvário! 

E a esta hora tudo em mim revive: 
Saudades de saudades que não tenho... 
Sonhos que são os sonhos dos que eu tive... 

Florbela Espanca, 
in "Livro de Sóror Saudade"

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