Angela Mendes
Lá no fundo, onde o pensamento cessa, somos imagens, como em sonhos. Como sou uma viajante, acrescentaria que, nessa vida, nossa alma também viaja por entre imagens.
Que sorte quando são belas! Mas temos muitas, então há de existir também as sombrias – e me parece que podemos ser perseguidos ou até assombrados por algumas delas.
Uma imagem recorrente em nossa cultura é a da colcha de retalhos, na qual várias mãos femininas tecem, costuram e emendam coisas diferentes.
Talvez por isso a Cristina tenha feito esse desenho, e eu esse texto.
A variedade de retalhos é o que torna uma colcha mais interessante. Imagine que, como nossas avós faziam, cada um teve uma origem diferente: esse era um pedaço do vestido da prima, aquele uma sobra da calça do pai. Cada qual traz para aquela peça a historia de outra, formando uma espécie de assembléia onde estão representados todos os membros da família. Assim como, quando reunidas, cada costureira contava historias e ouvia as das outras, todas diferentes e combinadas entre si.
Existem também colchas formadas por retalhos lisos ou de estampa parecida, nas quais algum tipo de uniformidade tenta conter a anarquia de cores. É a busca de compreensão que se mais se organiza quanto mais emocional for o encontro, é a necessidade de procurar as semelhanças para que um momento compartilhado seja ainda mais belo.
in "O FEMININO E O SAGRADO"
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