Orlando Costa Filho
presença doída de uma ausência
que envolve aperta quebra devora
uma bruta sucuri que me enlaça
como se eu fosse um bezerro desmamado
nos igarapés e pantanais da memória:
_ eis aí a saudade! mas
estranha e ironicamente
de um ser humano me faz ser
ainda um pouco mais humano...
ausência doída de uma presença inviável
o término de um filme sem the end
chiclete que jamais perde o sabor
amargamente mentolado,
a prostituta do cabaré que me embala
como um filho desprotegido a chorar
a chorar e a chorar...
eternamente em seus braços!
letra de música que não encontra
o verso final, o soneto que não fecha
com chave de ouro...
das penas, a inexoravelmente
inafiançável
a liberdade inalcançavelmente
plena,
o chôro jamais
insoluçável...
saudade - vocábulo traduzível apenas
na linguagem anímica,
na vertigem da dor que desdói,
no frescor que arde e paira
em um ponto qualquer da tarde
e leva o pensamento para as delícias
misteriosas do convívio pleno de
afeto e amor...
exposto ao sereno, misturado às nuvens
se liquefaz e dá viço às flores do jardim
da tolerância quase insuportável.
saudade – o imponderável sentimento
insondável manifestação do sopro cósmico
ante o qual me torno um gigante em pó
e uma vez salpicado sobre o mar e
arremessado contra o penedo
sou depositado aos poucos
lentamente
na praia ao amanhecer,
onde o mar respira e canta por mim
aos soluços, e eu espero o tempo
escrever o fim do roteiro,
se é que tem fim...
ocf
Castelo/ES, 26/07/2011
Meu prezado amigo,
ResponderExcluirÉ uma alegria, imensa satisfação, essa publicação que postaste no Prosas em Versos. Sinceramente, sinto muita alegria pois, considerando que o que escrevo traduz (ou tenta traduzir) o que há de mais intenso no meu ser, à medida que encontro pessoas que se identificam com o texto, provavelmente está bem próximo a mim no que tange o entendimento da própria vida! E se duas ou mais pessoas entendem de forma semelhante a vida, é ao menos uma chance a mais de estarmos corretos!
Valeu!!!