PROSAS EM VERSOS

SER POETA, É SENTIR AFLORAR DA PELE SENSIBILIDADE, É OUVIR O GRITO DOS QUE NADA DISSERAM, É VER POR UMA GAMA DE CORES INVISÍVEIS À MACROSCÓPICA VISÃO DOS INSENSÍVEIS, É PENETRAR IMPIEDOSAMENTE À ALMA HUMANA.

sábado, 18 de agosto de 2012

Saudade




Aníbal Bastos



Numa bela madrugada,
De magia enfeitada,
Quando no leito dormia,

Ouvi uma voz cantar,
No mavioso trinar,
Do canto da cotovia!

Curioso quis saber,
Quem seria esse ser,
Que àquela hora cantava!
E nessa noite escura,
Saí e fui à procura,
Do canto que me chamava!

Pela noite tacteando,
Lá me fui aproximando,
Da suave melodia;
Vi, sob a alvura dum manto,
Um rosto lavado em pranto,
Que em triste cantar dizia:

-Sou a saudade sem fim!
A rosa do teu jardim!
Que nunca desabrochou!
Sou o amor que perdeste,
Poema que não escreveste!
O teu sol que não brilhou!

De seguida foi-se embora,
Seguindo pela noite fora,
Dizendo-me à despedida:
-Eu vim à tua procura,
Dizer que melhor ventura,
Nos aguarda noutra vida!

Nunca vi tanta beleza,
Nem branco de tal pureza,
Nem brilho igual num olhar!
Era a luz em seu esplendor,
Terno poema de amor,
Sonho de não acordar!

Se foi sonho ou realidade,
Isso, não sei de verdade,
Mas doce aroma presume:
Que alguém me visitou,
E para o provar deixou,
No meu quarto o seu perfume!

A. Bastos (Júnior)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Você faz parte daqui