Mô Schnepfleitner
Ao contrário do que pensas, sei de ti muito mais do que de mim. Por isso te acordo, te dispo, te beijo. Por isso te amo. E adivinho na temperatura do teu corpo a hora impetuosa do desejo. Sei a cor do mármore dos teus músculos. Como o crânio das árvores, a tua cabeça floresce de muitas palavras, as tuas mãos falam, os teus limites respiram. Quando os teus dedos desejam a água, queimam a água e cantam a água. Tornam sagrado o vermelho das palavras. Movo-me feliz nos corredores da tua respiração, escrevo-te com o orgulho que têm as roseiras e os lilases, a ti me entrego, em ti me afogo, de ti renasço para a vida todos os dias. E, por ti, sou caçador de mim. E sou de mim o bobo e de ti o paladino. A minha juventude morreu antes de ti, mas só depois de ti a minha vida é realmente jovem. No meu corpo o teu sangue se agita, no teu espírito floresce o meu, nas nossas bocas se prolonga a primavera, quando a felicidade é para nós tão alta como o voo do pássaro que tem sede e tem fome de céu.
Joaquim Pessoa in ANOCOMUM
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