PROSAS EM VERSOS

SER POETA, É SENTIR AFLORAR DA PELE SENSIBILIDADE, É OUVIR O GRITO DOS QUE NADA DISSERAM, É VER POR UMA GAMA DE CORES INVISÍVEIS À MACROSCÓPICA VISÃO DOS INSENSÍVEIS, É PENETRAR IMPIEDOSAMENTE À ALMA HUMANA.

sábado, 28 de julho de 2012

Dia 233.



Mô Schnepfleitner




Ao contrário do que pensas, sei de ti muito mais do que de mim. Por isso te acordo, te dispo, te beijo. Por isso te amo. E adivinho na temperatura do teu corpo a hora impetuosa do desejo. Sei a cor do mármore dos teus músculos. Como o crânio das árvores, a tua cabeça floresce de muitas palavras, as tuas mãos falam, os teus limites respiram. Quando os teus dedos desejam a água, queimam a água e cantam a água. Tornam sagrado o vermelho das palavras. Movo-me feliz nos corredores da tua respiração, escrevo-te com o orgulho que têm as roseiras e os lilases, a ti me entrego, em ti me afogo, de ti renasço para a vida todos os dias. E, por ti, sou caçador de mim. E sou de mim o bobo e de ti o paladino. A minha juventude morreu antes de ti, mas só depois de ti a minha vida é realmente jovem. No meu corpo o teu sangue se agita, no teu espírito floresce o meu, nas nossas bocas se prolonga a primavera, quando a felicidade é para nós tão alta como o voo do pássaro que tem sede e tem fome de céu.

Joaquim Pessoa in ANOCOMUM


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