PROSAS EM VERSOS

SER POETA, É SENTIR AFLORAR DA PELE SENSIBILIDADE, É OUVIR O GRITO DOS QUE NADA DISSERAM, É VER POR UMA GAMA DE CORES INVISÍVEIS À MACROSCÓPICA VISÃO DOS INSENSÍVEIS, É PENETRAR IMPIEDOSAMENTE À ALMA HUMANA.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Noite Gananciosa



André Alves




Que vontade verdadeira
Que busca apressada pela boca do amado
As línguas se envolvem como linhas perfumadas
Um resvalar na orelha
E tudo se alerta, levanta
Movimentadas, as veias dirigem-nos à cama
Que observa dois bêbados cheirando a uvas
A tenda iluminada e fresca revela as peles
O abraço sente os batimentos cardíacos
Acelera mais o coração e pulmões alucinadamente drogados pelo respirar do outro
Sobram panos
São as camisetas e calças jogadas ao chão
Nascem outros que costuramos na pele
São de águas que brotam de nós
Somos uma só veste
Provocamos os hormônios
A noite pedia muito
Um pouco de gel com sabor
Saboreamos a pele já saborosa
Pregamos nossas digitais em cada milímetro causador de arrepio
Sim, somos provocadores
Desenho o tesão nos olhos
No apertar de mãos
No olhar que se aperta um no outro
Como se engolíssemos todas as ambições sexuais do mundo
Com precisão chegamos ao orgasmo
Que chato, nos amolece
Pra que?
Deve ser pelo cansaço de um vaivém guloso
Horas depois estamos novamente excitados
Aprendemos as posições mais agradáveis
Nos ajeitamos pra um maior prazer
Gemidos traduzem um somar
Que novamente sussurra
Descamamo-nos ardentemente
Estamos em carne viva
Somos carne viva
A roupa não aperta
Há um ajuste na agulha que se alinha
Alinhava-se para costurar um modelo confortável, confiável
Às intempéries do calor
Espremida vem a ejaculação
Farta, saudosa, gananciosa
Mais tarde
Mais amor
Novamente penetramos no pano do outro
Assim se faz uma boa roupa
E já vem cheirosa!
Que tal passearmos por aí com um sorriso no rosto
Com o orgulho de termos feito peças exclusivas
Novas camas coserão outros trajes
Deixarão no ponto o doce
Sem embolorar nada
Sugamos o nosso cansaço
Que escorrega transpirado pelos corpos
Começamos a desenhar os detalhes da roupa
Com pontas de dedos acarinhamos a pele
Foi produtiva a noite
O guarda-roupa está cheio de seda.


André Alves

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