PROSAS EM VERSOS

SER POETA, É SENTIR AFLORAR DA PELE SENSIBILIDADE, É OUVIR O GRITO DOS QUE NADA DISSERAM, É VER POR UMA GAMA DE CORES INVISÍVEIS À MACROSCÓPICA VISÃO DOS INSENSÍVEIS, É PENETRAR IMPIEDOSAMENTE À ALMA HUMANA.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Oração do Matuto




Tininha Dib





“Ói, Deus, nóis tá sempre pedindo as coisa pro Sinhô.
Nóis pede dinhero, nóis pede trabaio, nóis pede pra chovê, e, se chove demais, nóis pede pra pará mode a coiêta num afetá.
Nóis pede amor, nóis pede pra casá, pede casa pra morá, nóis pede saúde, nóis pede proteção, nóis pede paiz, nóis pede pra dislindá os nó quando as coisa comprica, mode a vida corrê mio.
Quando a coisa aperta, nóis reza pedindo tudo que nos farta.
É uma pedição sem fim e, se as coisa dá certo, nóis vai na igreja mais perto e, no pé de argum santo que seja de devoção, nóis dexa sempre uns merréis e, lá nos cofre da frente, nós coloca mais uns tustão.
Mais hoje, Meu Sinhô, bateu uma coisa isquisita e eu me puis a matutá.
Nóis pede, pede e pede, mais nunca pergunta comé que o Sinhô tá, se tá triste ou contente, se precisa darguma coisa que a gente possa ajudá.
E por esse isquecimento, o Sinhô há de nos descurpá.
Ói, Deus, nóis sempre pensa que o Sinhô não precisa de nada, mais tarvêz não seja assim. Tarvêz o Sinhô precisa de mim, sim.
O Sinhô precisa da minha bondade, precisa da minha alegria, precisa da minha caridade no trato com meus irmão.
Nóis somo o seu espêio, nóis somo a sua Criação, nós num pode fazê feio, nem ficá fazendo rodeio, nem desapontá o Sinhô, nem amargá o Seu sonho, que foi um sonho de amor, quando essa terra todinha criô.
Ói, Deus, eu prometo, vô rezá de outro jeito, vô pará com a pedição e de trocá milagre por tustão.
Tarvêz até eu peça uma graça, mais antes eu vô vê direitinho o que é que andei fazendo de bão.
E se nada de bão encontrá, muito vô me envergonhá e vô pedi perdão.”

Fatima Irene Pinto

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