PROSAS EM VERSOS

SER POETA, É SENTIR AFLORAR DA PELE SENSIBILIDADE, É OUVIR O GRITO DOS QUE NADA DISSERAM, É VER POR UMA GAMA DE CORES INVISÍVEIS À MACROSCÓPICA VISÃO DOS INSENSÍVEIS, É PENETRAR IMPIEDOSAMENTE À ALMA HUMANA.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

A Morte e Vênus





Claudio Caldas Faria





Velhos berilos, pálidas cortinas,
Morno frouxel de nardos recendendo
Velam-lhe o sono... e Vênus vai morrendo
No berço azul das névoas matutinas!

Halos de luz de brancas musselinas
Vão-lhe do corpo virginal descendo
- Abelha irial que foi adormecendo
Sobre um coxim de pérolas divinas.

E quando o Sol lhe beija a espádua nua,
Cai-lhe da carne o resplendor da Lua
No reverbero dos deslumbramentos...

Enquanto no ar há sândalos, há flores
E haustos de morte - os últimos clangores
Da música chorosa dos mementos!

Augusto do Anjos

Quero


Maria Salete Ariozi





Quero que todos os dias do ano
todos os dias da vida
de meia em meia hora
de 5 em 5 minutos
me digas: Eu te amo.

Ouvindo-te dizer: Eu te amo,
creio, no momento, que sou amado.
No momento anterior
e no seguinte,
como sabê-lo?

Quero que me repitas até a exaustão
que me amas que me amas que me amas.
Do contrário evapora-se a amação
pois ao não dizer: Eu te amo,
desmentes
apagas
teu amor por mim.

Exijo de ti o perene comunicado.
Não exijo senão isto,
isto sempre, isto cada vez mais.
Quero ser amado por e em tua palavra
nem sei de outra maneira a não ser esta
de reconhecer o dom amoroso,
a perfeita maneira de saber-se amado:
amor na raiz da palavra
e na sua emissão,
amor
saltando da língua nacional,
amor
feito som
vibração espacial.

No momento em que não me dizes:
Eu te amo,
inexoravelmente sei
que deixaste de amar-me,
que nunca me amastes antes.

Se não me disseres urgente repetido
Eu te amoamoamoamoamo,
verdade fulminante que acabas de desentranhar,
eu me precipito no caos,
essa coleção de objetos de não-amor.

Carlos Drummond de Andrade

Eros e Psique, por C Albacini




Paula Teixeira
Etimologia da palavra psique




O ψύχω verbo grego, psico, que significa "sopro". A partir deste verbo é o ψυχή forma substantiva, inicialmente previsto para o ar, ar exalado ou homem suspiro. Desde que a respiração permanece no indivíduo até a morte, vem a significar vida ψυχή. Quando o psiquismo escapa do corpo, tem uma existência autônoma: os gregos imaginado como uma figura antropomórfica, alado, duplo ou eidolon dos mortos, que normalmente seria parar de Hades, onde pervivía tão escuro e assustador. Como muitas vezes tem Homer, a psique voa para fora da boca de alguém que morre como uma borboleta (que também é escrito em grego psique), razão pela qual algumas pessoas vêem a borboleta um psicopompo.


Eros e Psique, por C Albacini
 (XVIII, RABASF, Madrid).


Poesia e silêncio ...




Ligia Shlochmann





Mergulhados em poesia e silêncio
Solidão grita o passar indelével do tempo
Severo silêncio monástico
Musgos no último desejo da consciência
Olhares gelados, disfarçados
Lutando contra sentimentos em chamas

Mergulhados em poesia e silêncio
Desejando cegamente voltar no tempo
Velas acesas nas salas do inconsciente
Imensos corredores escurecidos
E a velha sentença destruidora

Mergulhados em poesia e silêncio
Despertando as sombras esquecidas
Almas tangenciadas pela ebria ideia ...
E uma vontade insana de ...
retornar ao ponto de partida


"Pode haver seriedade mais honesta que a seriedade poética?"
Poesia e silêncio...
Sombras despertando no tempo ...

Taís Vargas Mariano


As Musas Poéticas




Ligia Shlochmann




Um paraíso poético mental
Em que as Musas delirantes
Se retratam em beijos e toque
Com seus belos corpos ao luar
A esperar um divino,
com amor e o sexo.

E a ânsia não fica por aí ...
Vai mais distante dos imaginários
Das Musas e seus conceitos
De época presente.

E de pose de um raciocínio invejável
Uma potência incalculável
Ecoa - seu eco de amor.
E se expande pela terra
Vai de encontro às galáxias
Do divino espírito santo, os poetas ...

José Herculano


Os Homens Pensam



Maria Salete Ariozi




‎" OS HOMENS PENSAM QUE 
POSSUEM UMA MENTE,
MAS É A MENTE QUE OS POSSUI.
HÁ PESSOAS QUE AMAM O PODER,
E OUTRAS
QUE TEM O PODER DE AMAR "

Bob Marley

O Princípio do Fim




Aníbal Bastos




As diferenças materiais,
Entre grandes e pequenos,
Estão-se tornando abismais!
Por esses motivos tais,
Aqueles que têm de menos,
Estão sendo cada vez mais,
E os que têm de mais,
Estão sendo cada vez menos!

E assim este mundo louco
E também surdo e cego,
Se não virar o bico ao prego
E abandonar o consumismo,
Vai cair não tarda pouco,
Nas falésias do abismo!

É sabido e notório
Que quem está no purgatório,
Aguarda a ida para os céus,
Para ficar junto de Deus,
No paraíso eterno!
Mas o pobre desgraçado,
Apesar de já purgado,
Não consegue ao céu subir
E mais parece ir cair,
Nas profundas do inferno!

Mas quando isso acontecer,
Pelas mãos da natureza,
Ou pelos homens empurrada!
E de um ou de outros modos,
Mesmo tendo dinheiro a rodos,
Podemos ter a certeza
Que ninguém fica para ver,
Nem para contar a história,
Ou escrever a memória,
Do homem que voltará a ser,
Apenas cinza pó e nada!

A. Bastos (Júnior)

Hoy me concedes.


Ereni Wink




Escrito estaba, sí: se rompe en vano
Una vez y otra la fatal cadena,
Y mi vigor por recobrar me afano.
Escrito estaba: el cielo me condena
A tornar siempre al cautiverio rudo,
Y yo obediente acudo,
Restaurando eslabones
Que cada vez más rígidos me oprimen;
Pues del yugo fatal no me redimen
De mi altivez postreras convulsiones.

¡Heme aquí! ¡Tuya soy! ¡Dispón, destino,
De tu víctima dócil! Yo me entrego
Cual hoja seca al raudo torbellino
Que la arrebata ciego.
¡Tuya soy! ¡Heme aquí! ¡Todo lo puedes!
Tu capricho es mi ley: sacia tu saña...
Pero sabe, ¡oh cruel!, que no me engaña
La sonrisa falaz que hoy me concedes.

Ricardo Lopez

A lenda de Cupido e Psique


Ereni Wink



Quanta lenda tão bela, outrora nesse dia
Longínquo em que a razão tomava à fantasia
A asa multicor e, entre areias de ouro,
O rio carregava um líquido tesouro!
Quando a mulher sem par, beleza peregrina,
Que de sofrer e amar e lutar teve a sina,
A terra percorreu, exausta, noite e dia,
À procura do Amor, que só no céu vivia!

A lenda de Cupido e Psique é também apresentada nestes versos de T.K.Harvey:


Fragmento de: A arte de amar


Ereni Wink




O amor não é, principalmente, uma relação para com uma pessoa específica; é uma atitude, uma orientação de caráter, que determina a relação de alguém para com o mundo como um todo, e não para com um "objeto" de amor. Se uma pessoa ama apenas a uma outra pessoa e é indiferente ao resto dos seus semelhantes, seu amor não é amor, mas um afeto simbiótico, ou um egoísmo ampliado. Contudo, a maioria crê que o amor é constituído pelo objeto e não pela faculdade. De fato, acredita-se mesmo que a prova da intensidade do amor está em não amar ninguém além da pessoa "amada". Este o mesmo equívoco de que acima já falamos. Por não se ver que o amor é uma atividade, uma força da alma, acredita-se que tudo quanto é necessário encontrar é o objeto certo — e tudo o mais irá depois por si. Tal atitude pode ser comparada à de alguém que queira pintar mas, em vez de aprender a arte, proclama que lhe basta esperar pelo objeto certo, passando a pintá-lo belamente quando o encontrar. Se verdadeiramente amo alguém, então amo a todos, amo o mundo, amo a vida. Se posso dizer a outrem, "Eu te amo", devo ser capaz de dizer: "Amo em ti a todos, através de ti amo o mundo, amo-me a mim mesmo em ti.
Dizer que o amor é uma orientação que se refere a todos e não a um não implica, entretanto, a ideia de que não haja diferenças entre vários tipos de amor, que dependem da espécie de objeto que é amado. 

Erich Fromm – A arte de amar


Ode a Psique


Ereni Wink



Ó mais bela visão! Ó derradeira imagem
Da estirpe celestial, da olímpica linhagem!
Mais bela que Diana livre de seu véu
E que Vésper erguida entre os astros do céu!
Que, no Olimpo, pudeste reluzir e ofuscar,
Embora sem um templo, embora sem altar!

A história de Cupido e Psique apareceu pela primeira vez nas obras de Apuleio, escritor do segundo século da nossa era. É, portanto, uma lenda muito mais recente que a maioria das outras da Idade da Fábula. É a isso que Keats faz alusão, em sua "Ode a Psique":


Para Sempre



Maria Salete Ariozi




Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.

Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
- mistério profundo -
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.

Carlos Drummond de Andrade

Eros e Psique





Ligia Shlochmann




“Sua alma rola e pede
Um gole dessa taça
Um pouco do teu sabor
Gosto de vinho ou licor

Sensualidade no singelo pedido
Ela dizendo coisas
Lançando através do olhar:
“Eros venha, vem me amar”

E ela já foi abduzida
Seus sentidos distantes
Alma ébria e perdida

Foi
Eros a embriagou com seu amor
Quando a tomou em seus braços
Para aquecê-la com o seu calor

Eros e Psiquê
Eu assim e você
Excitante”

Essa história de deuses greco-romanos... vai ser inspiração até para o fim dos tempos....
São Paulo, Meu quarto meu mundo
Lívia Lucatto
14/05/2008

ERENI - Prosas do Tema = SIMPLICIDADE



Ereni Wink



você
Foi assim...de repente...
Olhei nos teus olhos e, vi a pureza do teu coração
Teus gestos calmos
A tua voz tranquila
Desnudou minha alma.

Homem de palavras simples...
Coração aberto...
Quero ter você por perto
Teu riso franco...melodia para o espírito

Foi assim...
Foi por ti amado
Que no horizonte vislumbrei a luz

Minha noite você iluminou
Nos meus dias ,o sol voltou a brilhar
E foi você ...que me ensinou a amar


Florianópolis 08/05/2012 Ereni Wink

Eros e Psique




Claudio Caldas Faria





Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.

Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.

A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera,
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.

Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado,
Ele dela é ignorado,
Ela para ele é ninguém.

Mas cada um cumpre o Destino
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.

E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora,

E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.

Fernando Pessoa – Cancioneiro

Esta vida


Angela Mendes




Um sábio me dizia: esta existência,
não vale a angústia de viver. A ciência,
se fôssemos eternos, num transporte
de desespero inventaria a morte.
Uma célula orgânica aparece
no infinito do tempo. E vibra e cresce
e se desdobra e estala num segundo.
Homem, eis o que somos neste mundo.

Assim falou-me o sábio e eu comecei a ver
dentro da própria morte, o encanto de morrer.

Um monge me dizia: ó mocidade,
és relâmpago ao pé da eternidade!
Pensa: o tempo anda sempre e não repousa;
esta vida não vale grande coisa.
Uma mulher que chora, um berço a um canto;
o riso, às vezes, quase sempre, um pranto.
Depois o mundo, a luta que intimida,
quadro círios acesos : eis a vida

Isto me disse o monge e eu continuei a ver
dentro da própria morte, o encanto de morrer.

Um pobre me dizia: para o pobre
a vida, é o pão e o andrajo vil que o cobre.
Deus, eu não creio nesta fantasia.
Deus me deu fome e sede a cada dia
mas nunca me deu pão, nem me deu água.
Deu-me a vergonha, a infâmia, a mágoa
de andar de porta em porta, esfarrapado.
Deu-me esta vida: um pão envenenado.

Assim falou-me o pobre e eu continuei a ver,
dentro da própria morte, o encanto de morrer.

Uma mulher me disse: vem comigo!
Fecha os olhos e sonha, meu amigo.
Sonha um lar, uma doce companheira
que queiras muito e que também te queira.
No telhado, um penacho de fumaça.
Cortinas muito brancas na vidraça
Um canário que canta na gaiola.
Que linda a vida lá por dentro rola!

Pela primeira vez eu comecei a ver,
dentro da própria vida, o encanto de viver

(Guilherme de Almeida)

Vida de Sonhos



Jaqueline Ferlin



VIDA DE SONHOS ...
NUM MUNDO, PERDIDO DE ILUSÃO ...
MAS, SENTINDO A EMOÇÃO ...
VIVENDO SENTIMENTOS ...
SE DELICIANDO EM CADA MOMENTO ...
NUM MUNDO DE ILUSÃO ...
AH PSICOSE ...
VIDA DE SONHOS E, ILUSÃO ...

Jaqueline

Velha Anedota


Angela Mendes
Sempre ria ao ler esse poema nos meus tempos de escola!!! Bom relembrar!




Tertuliano, frívolo peralta,
Que foi um paspalhão desde fedelho,
Tipo incapaz de ouvir um bom conselho,
Tipo que, morto, não faria falta;

Lá um dia deixou de andar à malta,
E, indo à casa do pai, honrado velho,
A sós na sala, diante de um espelho,
À própria imagem disse em voz bem alta:

- Tertuliano, és um rapaz formoso!
És simpático, és rico, és talentoso!
Que mais no mundo se te faz preciso? -

Penetrando na sala, o pai sisudo,
Que por trás da cortina ouvira tudo,
Severamente respondeu: - Juízo. - 

Artur Azevedo

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