PROSAS EM VERSOS

SER POETA, É SENTIR AFLORAR DA PELE SENSIBILIDADE, É OUVIR O GRITO DOS QUE NADA DISSERAM, É VER POR UMA GAMA DE CORES INVISÍVEIS À MACROSCÓPICA VISÃO DOS INSENSÍVEIS, É PENETRAR IMPIEDOSAMENTE À ALMA HUMANA.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Sobre a neve




Ereni Wink




Sobre mim, teu desdém pesado jaz
Como um manto de neve... Quem dissera
Porque tombou em plena Primavera
Toda essa neve que o Inverno traz!

Coroavas-me inda há pouco de lilás
E de rosas silvestres... quando eu era
Aquela que o Destino prometera
Aos teus rútilos sonhos de rapaz!

Dos beijos que me deste não te importas,
Asas paradas de andorinhas mortas...
Folhas de Outono e correria louca...

Mas inda um dia, em mim, ébrio de cor,
Há-de nascer um roseiral em flor
Ao sol da Primavera doutra boca!


Florbela Espanca

Folhas de Outono



Fátima Custódio




No declinar do Outono,
No meu exílio,
No meu silêncio
Folhas castanhas
Se derramam pela terra
Como puzzles inconcretos.
Camas macias
Amortecem
Os passos calcados
No entardecer
Da viagem incompleta.
Somente uma réstia
De luz crepuscular
Preenche o espaço
Incolor,
Inerte,
Pendente,
De conversas inacabadas.
Anoitece…
E a sombra
Envolve o meu corpo,
Com uma capa,
De restos,
De folhas
Por cair.
Fátima Custódio

... No Solar Monjardim



Orlando Costa Filho




E o mundo então surgia
no Solar Monjardim...

Aos olhos do menino
que indagava enfim:

"Como podia o mundo
caber inteiro assim,

sob a lânguida luz
da lâmpada de um poste

fraquinha, tão fraquinha
mal chegava em mim?"

O que não se alumiava
era noite e enigma

a começar por Jesus
a quem não conhecia.

Mas ouvira dizer
que não admitiria

que o mal triunfasse
porém nada dizia

da escuridão que ao surgir
o Solar consumia.

E ao pensar nessas coisas
o menino calava

e tamanha incerteza
com ninguém dividia.

Estava ali o menino
que hoje traz nas retinas

angústia e esperança,
solidão e poesia.

ocf

Foto do antigo Solar Monjardim; hoje, museu Monjardim, Vitória/ES.

4 Poemas




Ligia Shlochmann





Ao nasceres, tinhas o prefigurado rosto
Que hoje terias se houvesses sido tu mesmo
No tempo singular de tua vida.

Mas viveste o relógio, não teu tempo
e agora vê teu rosto:
o que dele te resta é a desfigurada
sombra do primeiro rosto
que não soubeste ter,
nem mereceste

-
Há misérias nos homens
Os anjos cantam nas nuvens.

Era Sexta-feira Santa
Cristo morria.
Judas se enforcava.
E eu tomava sorvete.

-
Eu sou a metáfora de mim.
Por isto,quando eu morrer
morrerá meu poema.

Restarão apenas palavras sem sentido,
formas tornadas vãs de um mistério
Cuja chave perdida para sempre
No silêncio de morte
Ninguém encontrará.

-
Minha mãe era feita de incertezas.
tecida de solidão de infindas luas.
Nunca assentou seu coração viajeiro
de medo de esquecer o fim da viagem.
Não dormia, sonhava,
Vivia os sonhos acordada e louca
e amava a vida
com tal ódio e paixão, que até se percebia nos seus solhos,
nas mãos, nos gestos
na vontade de ser e o desespero
de não ser nunca e ainda.

E eu perguntava coisas
E ela não respondia,
apenas navegava incertos mares,
guiada por estrelas que eu não via.

Minha mãe era feita de incertezas
mas, por certo, sabia o que queria.

 de Daniel Lima

Fado Errante




Aníbal Bastos




Por ser cavaleiro andante,
Montado no “Rocinante”,
Persegui moinhos de vento!
Percorri o mundo inteiro,
Tomando-te por veleiro,
Com velas de pensamento!

Dentro do teu ser envolto,
Em fúria de mar revolto,
Novos mundos inventei!
Numa aventura constante,
Fui marinheiro errante,
E no teu mar naufraguei!

Perdidas as caravelas,
Fiquei sem leme nem velas,
Nem tábuas para me agarrar!
Tantas vezes fui ao fundo
Que quando voltei ao mundo,
Reparei: estive a sonhar!

E deste sonho acordado,
Ficou aviso e recado,
Para além do contratempo!
Que por vezes um sonho belo,
Pode tornar-se um pesadelo,
Se não se acordar a tempo!

Certas histórias são assim,
Sem princípio meio e fim,
Mas que às vezes acontece!
Que ver um sorriso catita,
Numa carinha bonita,
Nem sempre é o que parece!

Fado escrito e acabado,
Mas só poderá ser fado,
Se tiver um cantador!
Pode parecer descabido,
Ser vadio, ou corrido,
Mas é um fado de amor!

A. Bastos (Júnior)

Sina Sem Fim





Ligia Shlochmann




minha sina é ser feliz
sinto pelo sino
que ouço de manhã;
sino batendo
lambendo os hormônios
é de manhã
frio aconchegante
caminhar pela brisa
arrepio estonteante
a guitarra que me falta
a voz que me falha
a falha que me luz
luz que me seduz
a falha que me
nada que me nada
tudo
me seduz
em nada
minha vida é suave
sem defesa
é
a sua beleza
que me fascina
é minha sina
você
é minha tinta
meu arrepio aconchegante
meu nada estonteante
é tudo
em um instante
você
é minha sina
minha sina é ser feliz
sinto por seu beijo, sua voz, sua luz
tudo em você me seduz
sina sem fim.

Dilson Catarino

Desistir, Jamais...




Lúcinha Santos



Quando penso em desistir
que a minha tristeza não tem fim
Chega sempre uma mão
a se estender pra mim
Dizer não desista, persista e insista
Que não se engana na força que eu tenho
Na coragem pra lutar
sem vergonha de cair e recomeçar
Firme na minha luta de ser feliz
e mostrar o quanto eu posso
apesar de alguns acharem que não
Então me ergo mais uma vez
Tendo a certeza que haverá muitos tombos
pela frente
Mas eu seguirei de pé


Envelheço quando...




Daisi Oliveira de Souza





ENVELHEÇO, quando me fecho para as novas ideias e me torno radical...

ENVELHEÇO, quando o novo me assusta e minha mente insiste em não aceitar...

ENVELHEÇO, quando me torno impaciente, intransigente e não consigo dialogar...

ENVELHEÇO, quando meu pensamento abandona sua casa e retorna sem nada acrescentar...

ENVELHEÇO, quando muito me preocupo e depois me culpo por não ter tido motivos para me preocupar...

ENVELHEÇO, quando penso demasiadamente em mim mesmo e consequentemente, dos outros, completamente me esqueço...

ENVELHEÇO, quando penso em ousar e já antevejo o preço que terei que pagar pelo ato, mesmo que os fatos insistam em me contrariar!

ENVELHEÇO, quando tenho a chance de amar e daí o coração se põe a pensar:

"Será que vale a pena correr o risco de me dar? Será que vai compensar?"

ENVELHEÇO, quando permito que o cansaço e o desalento tomem conta de minha alma e ponho a me lamentar...

ENVELHEÇO, enfim, quando paro de lutar!


(Desconheço o Autor)

Surpreenda-me



Lúcinha Santos




Surpreenda-me com teu sorriso
na vinda sem aviso
Com o brilho dos teus olhos
ao encontrar os meus
Com uma mensagem na madrugada
escrita somente saudades
Surpreenda-me
com um sentimento mais forte
que amizade ou somente tesão
Não preciso de flores e 
de nenhum presente
Preciso da tua presença
do teu pensamento 
Surpreenda-me com tua boca
dizendo pra mim
Que a tua procura parou
e que o amor no teu coração chegou
Então não precisa mais me surpreender
Por que é só oque eu quero ouvir
e poder sentir.
...........................Lú.

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