PROSAS EM VERSOS

SER POETA, É SENTIR AFLORAR DA PELE SENSIBILIDADE, É OUVIR O GRITO DOS QUE NADA DISSERAM, É VER POR UMA GAMA DE CORES INVISÍVEIS À MACROSCÓPICA VISÃO DOS INSENSÍVEIS, É PENETRAR IMPIEDOSAMENTE À ALMA HUMANA.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Rosa cristalizada





Jorge Morais





rosa cristalizada
em vidro soprada
fio de banhar bordada
diáfano se manifesta
amor vidrado
nunca mostrado
e sempre julgado
cristalina flor
que de gelo se fez
depressa se derrete
e se concretiza outra vez
flor aqui prostrada
se mostra como vez
desta maneira ilustrada
curiosidade satisfez
translúcida bordada
se não fosse de agua
cheiro teria talvez


jorge morais

Há dias





Orlando Costa Filho






Há dias em que tu és...
Em outros tu estás
Naqueles o céu é cinza
Mas nestes é lilás...

Em noites de tempestade
Fazes de mim teu cais!
Mas quando são estreladas
Tu desatracas e vais...

Ao cair da tarde
Corro a olhar pro céu.
Chuvas trazer-nos-á?

Na dúvida, venho emplorar-te:
Não me deixes ao léu,
Se tempo claro imperar...

ocf

bola de cristal




Jorge Morais



bola de cristal
futuro exposto
tentativa presente
leitura tentada
nuvem declarada
impedindo a visão
de um amanhã distante
cartomante perdida
na esfera encontrada
que nos diz da vida
nada
já não lê
a palma da mão
não contas as cartas
não lança búzios
e se não houver resultado
dirá o povo
que será somente
mais um charlatão
a roubar de novo


jorge morais

Nus em pelo...






Simone Ribeiro






Em quatro paredes tudo pode rolar!
Descobertos,
Sem nada a nos cobrir...
Apenas nós
E nossa nudez...
Lindos corpos ardentes...
Saciando seu desejo mais profundo de amar!
De sentir o calor um do outro...
De se sentir desejado
Amado... Querido...
E poder ter tudo saciado...
Desejo...
Vontade...
Curiosidade!
E necessidade completada...
Totalmente!
Corpos saciados...
Desejos aplacados...
E descansam...
Relaxando...
Um sobre o corpo do outro...
Sabendo que se pertencem...
Ao menos naquele momento lindo!
Delícia!

Autoria: SIMONE RIBEIRO


Até Amanhã


Mô Schnepfleitner




Sei agora como nasceu a alegria,
como nasce o vento entre barcos de papel,
como nasce a água ou o amor
quando a juventude não é uma lágrima.


É primeiro só um rumor de espuma
à roda do corpo que desperta,
sílaba espessa, beijo acumulado,
amanhecer de pássaros no sangue.


É subitamente um grito,
um grito apertado nos dentes,
galope de cavalos num horizonte
onde o mar é diurno e sem palavras.


Falei de tudo quanto amei.
De coisas que te dou para que tu as ames comigo:
a juventude, o vento e as areias.

EUGÉNIO DE ANDRADE

Liberdade



Angela Mendes





Ser livre é querer ir e ter um rumo
e ir sem medo,
mesmo que sejam vãos os passos.
É pensar e logo
transformar o fumo
do pensamento em braços.
É não ter pão nem vinho,
só ver portas fechadas e pessoas hostis
e arrancar teimosamente do caminho
sonhos de sol
com fúrias de raiz.
É estar atado,amordaçado,em sangue,exausto
e,mesmo assim,
só de pensar gritar
gritar
e só de pensar ir
ir e chegar ao fim.

De Armindo Rodrigue

Ave-Poema





Keyla Cantinho Goiano





A gaiolinha amanheceu aberta.
E o que seria morte e penas,
foi libertação e horizontes.


M. M. Soriano


Libertação





João Adalberto Behr




Ele é intenso ou duradouro
É simples ou composto,
Ele é gigante e ao mesmo tempo pequenino,
Ele é vivo e as vezes inventado,
Ele é totalmente louco e mesmo assim procurado
É mágico e quase sempre atrapalhado,
Ele opera, machuca e se refaz,
Ele é tão amigo que desperta até o inimigo
É verdadeiro, confuso e puro,
Quando ativo ele é o dono do mundo
Quando passivo ele é sonhador,
À aqueles que o interpretam errado
Fazendo guerras para seu louvor,
Ele caminha mesmo que parado
E mesmo no silêncio sua música é ouvida,
Na chuva se pode sentir teu pranto
No sol ele sempre se ergue,
Pois para todo sempre serás a única libertação
Pois em todo sempre serás amor....

Fernando Luís de Jesus

Libertação



João Adalberto Behr


msr DANY




Guardei por muito tempo
O que realmente estava sentindo.
Omiti, sem razão, palavras que deveriam ter se pronunciado para você,
Mas que se esconderam e gritaram para mim até me verem morrer por dentro.
Hoje, desisti de me enterrar em lamúrias, nunca percebidas por ninguém...
...Engasgado com a dor, cortei as correntes que sufocavam a alma...
Com um pouco de piedade de mim mesmo, resisti ao pensar no que os outros poderiam sentir
E uma vez se quer... Racionalizei sobre eu mesmo e encontrei meu coração... Decepcionado.
As lágrimas nunca me faltaram,
Mas desta vez fiz questão de engoli-las com a secura de uma lamentação...
Arranhando a garganta.
Não chorei na hora, muito menos depois.
Aprendi que ninguém pode ouvir o meu choro,
Pois eles estão preocupados com o deles...
Agora quero dar razão a mim, aos meus sentimentos
E esquecer que só o coração de quem amo pode se machucar...
...Pois eu sei e senti... Ao amar...
O meu coração machucou mais do que o seu
E nunca pode se expressar.

Quem nos Ama não Menos nos Limita




Angela Mendes




Não só quem nos odeia ou nos inveja 
Nos limita e oprime; quem nos ama 
Não menos nos limita. 
Que os deuses me concedam que, despido 

De afetos, tenha a fria liberdade 
Dos píncaros sem nada. 
Quem quer pouco, tem tudo; quem quer nada 
É livre; quem não tem, e não deseja, 

Homem, é igual aos deuses. 

Ricardo Reis, in "Odes"
Heterônimo de Fernando Pessoa


Volta ao Mundo




Lucrecia Rocha




Eu sonhava, contigo
Conhecer o mundo.
Descobrir New York
Passear pelo Central Park,
E na Estátua da Liberdade
Celebraríamos união.

Sonhava caminhar
Na bela Paris dos Boulevards
Dos cafés, do Louvre e de Napoleão
Levar-te-ia até o Sena
E de mãos dadas...
Palavras não seriam necessárias.

Em Bruges, viveríamos um conto de fadas.
Te prometeria, em meio às flores com seus aromas,
Amar-te mais e mais...
Rodaria o mundo, sim,

Rodaria....

Te mostraria a Roma dos imperadores,
Dos aquedutos, do Coliseu
Das ruínas, das fontes e suas histórias.
E o vento com sua liberdade nos levaria até
Os campos verdes da Irlanda ,
Ao Egito das pirâmides,
À cosmopolita Hong Kong
E, quem sabe até, a longínqua Austrália dos aboríginis.

Sonhava em te mostrar...
O pôr-do-sol mágico de Florença
A beleza única de Davi,
E os jardins de Boboli.
Os cantões e os belos alpes suíços
A Holanda com seus moinhos, canais e tulipas.

Rodaria, sim,
Rodaria o mundo contigo.

A Espanha dos toureiros, de Gaudi e de Dalí.
A Inglaterra da Realeza,
De Shakespeare e de Wilde,
Do Tâmisa e dos castelos.
Rodaria, sim,
Rodaria o mundo contigo.

Em Portugal ao som do Fado choraria de amor
Quem sabe, banhariamos nossos corpos
Nas águas do Atlântico e nos amaríamos na Sintra
Bela e romântica.

Sonhava te mostrar a bela Praga das 100 torres,
Das construções majestosas, suntuosas.
Das praças, das pontes, das igrejas.
A mais bela das belas
A “Pérola do Leste”, da música e de Kafka...
Onde viveríamos uma Metamorfose
E na Ponte Carlos,
Seus artistas tocariam Rainbow
Só para nós...

Sonhava, sim....sonhava...
Rodaria, sim,

A Áustria de Mozart,
Da bela região do Tirol
Na Viena do Danúbio
Choraria em teus ombros
A beleza de suas águas cantantes.
A bela e orgulhosa Alemanha
De Bethoveen, do Reno, do Elba e de Goethe,
Onde respiraríamos música,
Cultura e alegria
O Muro não existe mais .....

Rodaria, sim,
Rodaria o mundo com você.

Na Veneza das gôndolas
Sentiria a felicidade deslizando
Nas águas remadas com os acordes do amor
Jantaríamos à luz de velas,
Caminharíamos abraçados
Pelos seus becos estreitos e misteriosos
Descobriríamos juntos toda a sua magia e beleza.

Rodaria, sim, por todas as belezas do mundo
Lado a lado contigo,
Quem sabe, até no Japão dos vulcões,
Na Índia das castas, do Ganges e das religiões,
À exótica Tailândia, iria feliz.
Rodaria até a China milenar,
Da Muralha, das especiarias, das artes marciais
Onde encontraríamos sabedoria.

Em Budapeste nos beijaríamos sobre as pontes,
Cercados por todos os seus palácios
Por todos os seus castelos, e
De charrete passearíamos maravilhados
Por seus monumentos e suas histórias.

A Grécia dos atletas,
Das ilhas, do Mediterrâneo
Dos Deuses e dos filósofos
Das lendas e do amor.
Rodaria, sim,

Rodaria o mundo contigo.
Quiça até Buenos Aires
Para um café tomar
E um tango dançar.

Rodaria, sim...com você,
Rodaria o mundo.

Lucrécia Rocha

Pub. Coletanea Poética FOCUS 2009 Salvador-Ba;Livro Confissões em versos. Editora Cogito:salvador,2012

Não sei quem Sou,



Maria Salete Ariozi




Não sei quem sou, que alma tenho.
Quando falo com sinceridade não sei com que sinceridade falo.
Sou variamente outro do que um eu que não sei se existe (se é esses outros)...
Sinto crenças que não tenho.
Enlevam-me ânsias que repudio.
A minha perpétua atenção sobre mim perpetuamente me ponta
traições de alma a um carácter que talvez eu não tenha,
nem ela julga que eu tenho.
Sinto-me múltiplo.
Sou como um quarto com inúmeros espelhos fantásticos
que torcem para reflexões falsas
uma única anterior realidade que não está em nenhuma e está em todas.
Como o panteísta se sente árvore (?) e até a flor,
eu sinto-me vários seres.
Sinto-me viver vidas alheias, em mim, incompletamente,
como se o meu ser participasse de todos os homens,
incompletamente de cada (?),
por uma suma de não-eus sintetizados num eu postiço."

Fernando Pessoa

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