Um dia contaste-me uma história. A história de uma terra verde, onde o mar também é verde e o pôr-do-sol anil laranja. As casas têm telhados de palmas e a terra é igual a tantas outras terras do mundo. A história de uma terra utópica, onde pessoas submissas deixam ferver os sonhos, o sangue e a paixão numa caldeira de revolta. Nessa terra também havia árvores. Árvores normais com raízes, ramos e folhas. Todas diferentes, mas todas tão iguais. Havia uma tão diferente, que um dia, num ímpeto de alquimia, soltou os seus ramos e deixou que voassem á procura do onde...
Os ramos soltos voaram no tempo, e, deixaram que o mesmo sol os aquecesse, a mesma chuva os lavasse e o mesmo vento os embalasse. Um dia, cansado, o ramo pousou numa árvore distante, que sedenta de vida o aceitou, Por uns tempos o ramo descansou, e pouco a pouco foi sentindo que lhe faltava a seiva da sua própria árvore; percebeu então que as árvores não vivem de dádivas. Vivem porque têm raízes. As raízes seguram-nas de pé! Então o ramo chorou...era livre, mas não era feliz.
Agora, aqui onde estou, olhando o mar, não posso deixar de pensar como tudo poderia ser diferente.
Quero que saibas, que aqui onde estou sinto a luxúria dos abraços de luar...os abraços da mesma lua que cruza os céus, daqui e de além, o mesmo céu sob o qual todos os ramos adormecem...
No dia quem sequei as tuas lágrimas, nasceram as minhas, e tu perguntaste-me:
-Porque choras, meu anjo?
E, eu, a quem tu chamavas borboleta, respondi:
-Choro, porque não tenho asas...
Fátima Custódio