PROSAS EM VERSOS

SER POETA, É SENTIR AFLORAR DA PELE SENSIBILIDADE, É OUVIR O GRITO DOS QUE NADA DISSERAM, É VER POR UMA GAMA DE CORES INVISÍVEIS À MACROSCÓPICA VISÃO DOS INSENSÍVEIS, É PENETRAR IMPIEDOSAMENTE À ALMA HUMANA.

sábado, 18 de agosto de 2012

Doçura é a maestria dos sentidos.



Maria Salete Ariozi




Olhos que vêem no fundo das coisas,
ouvidos que escutam o coração das coisas,
lábios que falam apenas a essência das coisas.
Doçura é o resultado de uma longa jornada
interior ao âmago da vida e a habilidade de lá
permanecer e observar.
A doçura procura pelo bem nas coisas,
pois no seu coração reside a convicção de que
o bem existe em algum lugar em tudo,
é só ter paciência para descobri-lo.

Brahma Kumaris

Lua de encantos



Keyla Alves Fernandes





Olhar ardente



Jorge Morais



olhar ardente 
sol poente
num mar crescente
que mira de longe 

a gente
doirado resplandecente
que sai da menina 
do olho
em tom incandescente
no silêncio pairado
de tarde finda
traz uma beleza
de formosura infinda
faz com que a vida 
tenha mais sentido
ainda

jorge morais

Desejo de Doçura





Ligia Shlochmann





Frio, gelo, ausências, mãos largadas sobre o peito fraco...
"- De que mesmo sinto falta?" - Perguntava a si.
Talvez fosse de algo que a surpreendesse.
Seria amor o nome disso?
Não tinha ela vocação para o vazio.

Sofrer por falta dentro do peito não era comum.
Mas necessitava de alguma coisa diferente
das motivações que transformam e elevam o Ser.

Era mesmo o caso das sentimentalidades.
A falta de um bem, um bem capaz de dar alento,
De fazer voar o coração e tirar os pés deste mundo real.

Desejo de doçura, necessidade de imensidão.

Ai, ilusão! Sonhava, sonhava...

De tanto sonhar sabia que a vacilante realidade
Estava prestes a sofrer mutação
Borboleta de eternidade, poder de transformação.

Desejo de docura, necessidade de imensidão!

Daniele Ribeiro

Lagrimas ocultas




Daisi Oliveira de Souza



Se me ponho a cismar em outras eras
Em que ri e cantei, em que era q'rida,
Parece-me que foi noutras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida...

E a minha triste boca dolorida
Que dantes tinha o rir das Primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!

E fico, pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim...

E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim! 

Florbela Espanca

Nunca mais!





Daisi Oliveira de Souza



Ó castos sonhos meus! Ó mágicas visões!
Quimeras cor de sol de fúlgidos lampejos!
Dolentes devaneios! Cetíneas ilusões!

Bocas que foram minhas florescendo beijos!

Vinde beijar-me a fronte ao menos um instante,
Que eu sinta esse calor, esse perfume terno;
Vivo a chorar a porta aonde outrora o Dante
Deixou toda a esp'rança ao penetrar o inferno!

Vinde sorrir-me ainda!Hei-de morrer contente
Cantando uma canção alegre, doidamente,
A luz desse sorriso, ó fugitivos ais!

Vinde beijar-me a boca ungir-me de saudade
Ó sonhos cor de sol da minha mocidade!
Cala-te lá destino!... "Ó Nunca, nunca mais!..."


Florbela Espanca


Vítima do dualismo




Ereni Wink



Ser miserável dentre os miseráveis
— Carrego em minhas células sombrias
Antagonismos irreconciliáveis
E as mais opostas idiosincrasias!

Muito mais cedo do que o imagináveis
Eis-vos, minha alma, enfim, dada às bravias
Cóleras dos dualismos implacáveis
E à gula negra das antinomias!

Psiquê biforme, o Céu e o Inferno absorvo...
Criação a um tempo escura e cor-de-rosa,
Feita dos mais variáveis elementos,

Ceva-se em minha carne, como um corvo,
A simultaneidade ultramonstruosa
De todos os contrastes famulentos!

Augusto dos Anjos

Cofre




Aníbal Bastos



O meu coração é um cofre,
Onde guardo os meus valores,
Uns são tristezas e dores
Que a minha alma sofre,
No mundo dos desamores!

Guardo todo o sofrimento
Que na vida vou passando!
Lágrimas que vou chorando,
Na voz do triste lamento,
Do fado que vou cantando!

Queria guardar alegrias,
- Porém essas são tão poucas -
Mas guardo palavras loucas
Que oiço ao longo dos dias,
E não faço orelhas moucas!

Também guardo a saudade,
Do meu grande amor antigo
Que anda sempre comigo,
Desde a minha mocidade,
E, esquecê-lo não consigo!

Neste cofre de verdades,
Guardo muitas coisas mais,
Entre as que são mais reais:
Encontram-se as amizades,
Dos meus amigos leais!

Para o conseguir abrir,
Há pouca dificuldade,
Basta haver sinceridade;
No rosto: um franco sorrir
E no falar: a verdade!

A. Bastos (Júnior)

Tenho Dever...



Mô Schnepfleitner




”Eu tenho uma espécie de dever, dever de sonhar,
e sonhar sempre, pois sendo mais do que um espetáculo de mim mesmo, eu tenho que ter o melhor espetáculo que posso.”


Fernando Pessoa

Do Mundo




Angela Mendes




Vão, que já não são meus
os filhos, os versos, a história.
Comigo não ficam meus passos
nem o desenho do corpo.

Vão os que do mundo vieram:
as folhas, os porres, os cansaços.

Se depositamos guirlandas e lágrimas
aos pés deste deus, nossos tesouros
já não ficam ensimesmados.

Vão, pois, esvaziem-se nossos barcos
por tamanha generosa partida.

E para tantos outros encontros
solte-se a órbita do peito no espaço.

(Fernando Campanella)


Bastava-nos amar


Mô Schnepfleitner




Bastava-nos amar. E não bastava
o mar. E o corpo? O corpo que se enleia?
O vento como um barco: a navegar.
Pelo mar. Por um rio ou uma veia.

Bastava-nos ficar. E não bastava
o mar a querer doer em cada ideia.
Já não bastava olhar. Urgente: amar.
E ficar. E fazermos uma teia.

Respirar. Respirar. Até que o mar
pudesse ser amor em maré cheia.
E bastava. Bastava respirar
a tua pele molhada de sereia.

Bastava, sim, encher o peito de ar.
Fazer amor contigo sobre a areia.

Joaquim Pessoa

Saudade




Aníbal Bastos



Numa bela madrugada,
De magia enfeitada,
Quando no leito dormia,

Ouvi uma voz cantar,
No mavioso trinar,
Do canto da cotovia!

Curioso quis saber,
Quem seria esse ser,
Que àquela hora cantava!
E nessa noite escura,
Saí e fui à procura,
Do canto que me chamava!

Pela noite tacteando,
Lá me fui aproximando,
Da suave melodia;
Vi, sob a alvura dum manto,
Um rosto lavado em pranto,
Que em triste cantar dizia:

-Sou a saudade sem fim!
A rosa do teu jardim!
Que nunca desabrochou!
Sou o amor que perdeste,
Poema que não escreveste!
O teu sol que não brilhou!

De seguida foi-se embora,
Seguindo pela noite fora,
Dizendo-me à despedida:
-Eu vim à tua procura,
Dizer que melhor ventura,
Nos aguarda noutra vida!

Nunca vi tanta beleza,
Nem branco de tal pureza,
Nem brilho igual num olhar!
Era a luz em seu esplendor,
Terno poema de amor,
Sonho de não acordar!

Se foi sonho ou realidade,
Isso, não sei de verdade,
Mas doce aroma presume:
Que alguém me visitou,
E para o provar deixou,
No meu quarto o seu perfume!

A. Bastos (Júnior)

Bela Adormecida



Ereni Wink



Hoje eu não durmo sem dizer que és linda,
Que o teu sorriso me deixa sem graça,
Que em ti o céu começa e a terra finda,
Que eu quero olhar-te enquanto o tempo passa.

Hoje eu não durmo sem dizer que és doce,
Que a discrição expande esta beleza,
Que o teu sorrir tranqüila paz me trouxe,
Que a brisa inveja a tua sutileza.

Hoje eu não durmo sem tomar tuas mãos
Nas minhas mãos, vendo a noite cair;
Velar teu sono, bela adormecida;

Te dar carinho; ouvir teu coração;
E em timidez, esperar-te dormir,
Pra não dormir sem te dizer que és linda.

Ederson Peka

Que falta você me faz !



Maria Salete Ariozi



No dia que amanhece,
na noite que chega...
Que falta você me faz!

Na lembrança que volta,
na saudade que aperta...
Que falta você me faz!

Na lágrima que corre,
no lenço que a seca...
Que falta você me faz!

No coração que só bate,
no desejo que teima...
Que falta você me faz!

Nas noites que passo acordada,
nos dias em que fico calada...
Que falta você me faz!

Na sua demora em voltar,
no seu silêncio de morte...
Que falta você me faz!

Que falta!

Silvia Munhoz

Vento agreste




Jorge Morais


vento agreste
vindo de leste
que noticias traz
de rosas encarnadas

molhadas
pingadas
quase desfolhadas
de arvores sem folhas 
de ramos despidos
de outonos contados 
sentidos
silêncios marcantes
em gestos comedidos
de cócoras deixada
no nada escondida
pensa na vida
que havia
vivida
o céu se mostra 
de cinza bordado
e ela só se encontra 
por não lhe terem procurado
por constante escuta
já se tinha achado

jorge morais

Horas Intermináveis




Angela Mendes





. . . sem consciência de poemas com janelas
de arvores que lhes arrancaram seus frutos
de flor que mentiu sua cor
de rio que perdeu seu curso sem avisos
de vozes que se sufocaram na choupana dos deuses
de exércitos que se perderam sem fronteiras de vitórias
de crucificações nas almas já sepultadas
de paredes a amordaçarem esperanças-verdes
de queixas sobre versos não falantes dos infinitos buscas.

de todas as horas sem inteligência
para dizerem da religião dos afogados
dos afogados sem amor.

de todas as horas
a clamarem pelo universo de todos os tristes
quando desejam
comungar intenções Deus.

Alvina Nunes Tzovenos

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