PROSAS EM VERSOS

SER POETA, É SENTIR AFLORAR DA PELE SENSIBILIDADE, É OUVIR O GRITO DOS QUE NADA DISSERAM, É VER POR UMA GAMA DE CORES INVISÍVEIS À MACROSCÓPICA VISÃO DOS INSENSÍVEIS, É PENETRAR IMPIEDOSAMENTE À ALMA HUMANA.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Anoitecer




Fatima Pessoa



A luz desmaia num fulgor d'aurora, 
Diz-nos adeus religiosamente... 
E eu, que não creio em nada, sou mais crente 
Do que em menina, um dia, o fui... outrora... 

Não sei o que em mim ri, o que em mim chora 
Tenho bênçãos d'amor pra toda a gente! 
Como eu sou pequenina e tão dolente 
No amargo infinito desta hora! 

Horas tristes que são o meu rosário... 
Ó minha cruz de tão pesado lenho! 
Meu áspero e intérmino Calvário! 

E a esta hora tudo em mim revive: 
Saudades de saudades que não tenho... 
Sonhos que são os sonhos dos que eu tive... 

Florbela Espanca, 
in "Livro de Sóror Saudade"

Meu conselho é



Denize Esperidiao




Meu conselho é, pois,amor,
Que, enquanto na vida em flor,
Encantos possam sobrar-te:
Colhe, colhe a mocidade,
Pois como à rosa a idade
Da beleza há de privar-te.


Poema de Pierre de Ronsard 
(Trad. de R. Magalhães Jr. IN – IDEM
(org.) -O livro de ouro da poesia
da França Rio de Janeiro,
Editora Tecnoprint S.A.(s.d.), Col. Universidade de Bolso,p.282)

Vaidosa




Mô Schnepfleitner



Dizem que tu és pura como um lírio 
E mais fria e insensível que o granito, 
E que eu que passo aí por favorito 
Vivo louco de dor e de martírio. 

Contam que tens um modo altivo e sério, 
Que és muito desdenhosa e presumida, 
E que o maior prazer da tua vida, 
Seria acompanhar-me ao cemitério. 

Chamam-te a bela imperatriz das fátuas, 
A déspota, a fatal, o figurino, 
E afirmam que és um molde alabastrino, 
E não tens coração, como as estátuas. 

E narram o cruel martirológio 
Dos que são teus, ó corpo sem defeito, 
E julgam que é monótono o teu peito 
Como o bater cadente dum relógio. 

Porém eu sei que tu, que como um ópio 
Me matas, me desvairas e adormeces, 
És tão loura e dourada como as messes 
E possuis muito amor... muito amor-próprio. 

Cesário Verde, 
in 'O Livro de Cesário Verde'

O meu amor eu guardo







‎"O meu amor eu guardo para os mais especiais. Não sigo todas as regras da sociedade e às vezes ajo por impulso. Erro, admito. aprendo, ensino. Todos erram um dia: por descuido, inocência ou maldade. conservar algo que faça eu recordar de ti seria o mesmo que admitir que eu pudesse esquecer-te."

William Shakespeare


Vim de novo ver o velho (João Paulo Brasileiro)(




João Paulo Brasileiro




Vim de novo ver o velho
Velho povo, novo alento
Vou de novo, assim espero
Chegar limpo de pensamento!

Tais quimeras que tento ter
Como tudo que ganho da vida
Mas, sou tão pequeno, e assim
Me ponho, satisfeito, à mercê da lida

Quando meus olhos ganham como benção
Como tela, essas mágicas visões
Aí, percebo que sou amado
Percebo que tenho mil corações

Os jardins que preenchem o mundo
Que dão vida, paz e harmonia
Me fazem, de volta, de novo aqui
Ver e sentir, novamente, alegria!

Vim, de novo, ver o velho
Velho povo, ao qual pertenço
Cada minuto que choro, uma hora perco
Então, ALEGRIA....ALEGRIA...é assim que penso!

Inverno no Chão Goiano...



Angela Mendes



Terra forte de tempo sequioso
De um esplendor do por do sol
Onde a respiração tem ar vagaroso
Na aridez da atmosfera em caracol
Espirando o horizonte cromatizado
Em baforadas de abrasado arrebol
Das manhãs de enfado petrificado
Içando a saudade na alma com anzol
Assinalando os campos do cerrado
Com galhos torcidos e flores singelas
Traçando o típico cotidiano
Do inverno além das janelas
Do Chão goiano...

Luciano Spagnol

Pedras de rio


Angela Mendes





Como as pedras do leito dos rios, 
o tempo age em nós, assim como a água, 
que as desgasta, 
alisando as suas superfícies.
Consome assim o tempo os ódios, 
aparando as arestas 
e cicatrizando as feridas.
Encontramo-nos e atritamo-nos
Uns contra os outros,
Até que, aos poucos,
Ganhamos uma aparência brilhante,
Lisa.
Nos encaixamos uns aos outros,
Sem os primeiros embates.
Apenas com o balouçar das águas.
Glória Perez

AVE LIBERTAS


Claudio Caldas Faria

POST EM HOMENAGEM APENAS AOS MINISTROS PATRIOTAS DO STF



Ao clarão irial da madrugada,
Da liberdade ao toque alvissareiro,
Banhou-se o coração do Brasileiro
Num eflúvio de luz auroreada.

É que baqueia a vida escravizada!
Já se ouvem os clangores do pregoeiro,
Como um Tritão, levando ao mundo inteiro,
Da República a nova sublimada.

E ali do despotismo entre os escombros,
Rola um drama que a Pátria exalça e doura
Numa auréola de paz imorredoura,
A República rola-lhe nos ombros;

Enquanto fora na trevosa agrura
Sucumbe o servilismo, e, esplendorosa,
A Liberdade assoma majestosa,
- Estrela d'Alva imaculada e pura!

É livre a Pátria outrora opressa e exangue!
Esse labéu que mancha a glória pública,
Que apouca o triunfo e que se chama sangue,
Manchar não pode as aras da República.

Não! que esse ideal puro, risonho,
Há de transpor sereno os penetrais
Da Pátria, e há de elevar-se neste sonho
Ao topo azul das Glórias Imortais!

Esplende, pois, oh! Redentora d'alma,
Oh! Liberdade, essa bendita e branca
Luz que os negrores da opressão espanca,
Essa luz etereal bendita e calma.

Vós, oh Pátria, fazei que destes brilhos,
Caia do santuário lá da História,
Fulgente do valor da vossa glória,
A bênção do valor dos vossos filhos!

A. DOS ANJOS

Queria eu (Jorge Morais)



Jorge Morais


queria eu
ao ouvido
dizer-te em sussurro
coisas cujas palavras
não encontro
neste pequeno amontoado
de pedras ilha feita
murmurar o arcaísmo
da beleza da fonética
que ele carrega
duma linguagem
já hoje não usada
dar-te o mundo
nem metaforicamente
visto nem este pequeno lugar
me pertence
por detrás pinta o céu
um sol vermelho fogo
e em silêncio
rezamos para que
ninguém nos venha
resgatar

jorge morais

Vaidade



Fatima Pessoa




Sonho que sou a Poetisa eleita, 
Aquela que diz tudo e tudo sabe, 
Que tem a inspiração pura e perfeita, 
Que reúne num verso a imensidade! 

Sonho que um verso meu tem claridade 
Para encher todo o mundo! E que deleita 
Mesmo aqueles que morrem de saudade! 
Mesmo os de alma profunda e insatisfeita! 

Sonho que sou Alguém cá neste mundo ... 
Aquela de saber vasto e profundo, 
Aos pés de quem a Terra anda curvada! 

E quando mais no céu eu vou sonhando, 
E quando mais no alto ando voando, 
Acordo do meu sonho ... E não sou nada! ... 

Florbela Espanca, 
in "Livro de Mágoas"

É assim que te quero, amor



Mô Schnepfleitner




É assim que te quero, amor,
assim, amor, é que eu gosto de ti,
tal como te vestes
e como arranjas
os cabelos e como
a tua boca sorri,
ágil como a água
da fonte sobre as pedras puras,
é assim que te quero, amada,
Ao pão não peço que me ensine,
mas antes que não me falte
em cada dia que passa.
Da luz nada sei, nem donde
vem nem para onde vai,
apenas quero que a luz alumie,
e também não peço à noite explicações,
espero-a e envolve-me,
e assim tu pão e luz
e sombra és.
Chegastes à minha vida
com o que trazias,
feita
de luz e pão e sombra, eu te esperava,
e é assim que preciso de ti,
assim que te amo,
e os que amanhã quiserem ouvir
o que não lhes direi, que o leiam aqui
e retrocedam hoje porque é cedo
para tais argumentos.
Amanhã dar-lhes-emos apenas
uma folha da árvore do nosso amor, uma folha
que há-de cair sobre a terra
como se a tivessem produzido os nosso lábios,
como um beijo caído
das nossas alturas invencíveis
para mostrar o fogo e a ternura
de um amor verdadeiro.

Pablo Neruda

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