PROSAS EM VERSOS

SER POETA, É SENTIR AFLORAR DA PELE SENSIBILIDADE, É OUVIR O GRITO DOS QUE NADA DISSERAM, É VER POR UMA GAMA DE CORES INVISÍVEIS À MACROSCÓPICA VISÃO DOS INSENSÍVEIS, É PENETRAR IMPIEDOSAMENTE À ALMA HUMANA.

sábado, 14 de julho de 2012

Sem você


Jose Carlos Silva




Sem você meu amor
Hoje sou uma pessoa triste,
Para não esquecer você,
Escrevo tristes poemas de amor e de paz,
Sou um louco apaixonado,
Uma criança.

Sem você meu amor,
Eu sou um pobre solitário,
Um apaixonado sem amor,
Um poeta sem sol,
Um pobre sonhador,
Um coração ferido.

Sem você meu amor,
Sou como uma noite sem estrelas,
Como um mar sem peixes.

Sem você meu amor,
Sou uma lâmpada sem óleo,
Um lugar a onde nada me seduz,
Uma vida sem vida,
Coração que ama,
E eu sonho com você,
O que faço sem você...

J.C.

Pequeno poema


Mô Schnepfleitner




Quando eu nasci,
ficou tudo como estava.

Nem homens cortaram veias,
nem o Sol escureceu,
nem houve Estrelas a mais...
Somente,
esquecida das dores,
a minha Mãe sorriu e agradeceu.

Quando eu nasci,
não houve nada de novo
senão eu.

As nuvens não se espantaram,
não enlouqueceu ninguém...

Pra que o dia fosse enorme,
bastava
toda a ternura que olhava
nos olhos de minha Mãe...

Sebastião da Gama

Sombra


Aníbal Bastos



És quem me acompanha a cada instante,
Imitando-me todos os movimentos
Que não me deixas só, nem por momentos,
Enquanto houver luz, ou Sol brilhante!

Se ainda fosses minha sombra constante,
Como constantes são os meus tormentos,
Transformava em luz os meus lamentos,
Para de mim nunca mais ficares distante!

Como já não sou a luz do teu dia,
Nem tão pouco a tua noite de luar, 
Da tua sombra sou a nostalgia!

Mas nas horas sombrias de amargor,
Quando a tristeza me vem visitar,
Sinto a tua sombra em meu redor!

A. Bastos (Júnior)

Casa arrumada




Fatima Pessoa


Casa arrumada é assim:
Um lugar organizado, limpo, com espaço livre pra circulação e uma boa entrada de luz.
Mas casa, pra mim, tem que ser casa e não um centro cirúrgico, um cenário de novela.
Tem gente que gasta muito tempo limpando, esterilizando, ajeitando os móveis, afofando as almofadas…
Não, eu prefiro viver numa casa onde eu bato o olho e percebo logo:
Aqui tem vida…
Casa com vida, pra mim, é aquela em que os livros saem das prateleiras e os enfeites brincam de trocar de lugar.
Casa com vida tem fogão gasto pelo uso, pelo abuso das refeições fartas, que chamam todo mundo pra mesa da cozinha.
Sofá sem mancha?
Tapete sem fio puxado?
Mesa sem marca de copo?
Tá na cara que é casa sem festa.
E se o piso não tem arranhão, é porque ali ninguém dança.
Casa com vida, pra mim, tem banheiro com vapor perfumado no meio da tarde.
Tem gaveta de entulho, daquelas que a gente guarda barbante,passaporte e vela de aniversário, tudo junto…
Casa com vida é aquela em que a gente entra e se sente bem-vinda.A que está sempre pronta pros amigos, filhos…
Netos, pros vizinhos…
E nos quartos, se possível, tem lençóis revirados por gente que brinca ou namora a qualquer hora do dia.
Casa com vida é aquela que a gente arruma pra ficar com a cara da gente.
Arrume a sua casa todos os dias…
Mas arrume de um jeito que lhe sobre tempo pra viver nela…
E reconhecer nela o seu lugar.

(Autora: Lena Gino, embora alguns atribuem ao Drummond de Andrade a autoria)



Borboletas


Maria Salete Ariozi


Quando depositamos muita confiança ou expectativas
em uma pessoa, o risco de se decepcionar é grande.

As pessoas não estão neste mundo para satisfazer as
nossas expectativas, assim como não estamos aqui,
para satisfazer as dela.

Temos que nos bastar... nos bastar sempre e quando
procuramos estar com alguém, temos que nos conscientizar de que estamos juntos porque gostamos, porque queremos e nos sentimos bem, nunca por precisar de alguém.

As pessoas não se precisam, elas se completam...
não por serem metades, mas por serem inteiras, dispostas a  dividir objetivos comuns, alegrias e vida.

Com o tempo, você vai percebendo que para ser feliz com a outra pessoa, você precisa em primeiro lugar, não precisar dela.
Percebe também que aquela pessoa que você ama (ou acha que ama) e que não quer nada com você, definitivamente, não é o homem ou a
mulher de sua vida.

Você aprende a gostar de você, a cuidar de você, e principalmente a gostar de quem gosta de você.

O segredo é não cuidar das borboletas e sim cuidar do jardim para que elas venham até você.

No final das contas, você vai achar
não quem você estava procurando,
mas quem estava procurando por você!

Mario Quintana

O teu riso


Maria Salete Ariozi




Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas não
me tires o teu riso.

Não me tires a rosa,
a lança que desfolhas,
a água que de súbito
brota da tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.

A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansados
às vezes por ver
que a terra não muda,
mas ao entrar teu riso
sobe ao céu a procurar-me
e abre-me todas
as portas da vida.

Meu amor, nos momentos
mais escuros solta
o teu riso e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, porque o teu riso
será para as minhas mãos
como uma espada fresca.

À beira do mar, no outono,
teu riso deve erguer
sua cascata de espuma,
e na primavera , amor,
quero teu riso como
a flor que esperava,
a flor azul, a rosa
da minha pátria sonora.

Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
tortas da ilha,
ri-te deste grosseiro
rapaz que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.

''E desde então, sou porque tu és
E desde então és
sou e somos...
E por amor
Serei... Serás...Seremos.''

Pablo Neruda

Redenção



Angela Mendes



faltava algo em mim
olhava uma pedra
e via uma pedra
olhava uma folha, um pássaro
e via uma folha, um pássaro
amava
e via apenas uma mulher

hoje
com minha alma
olho a alma das coisas
e dando nome às coisas
faço poemas
.
Cesar Veneziani

Temos, todos que vivemos


Mô Schnepfleitner




Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.

Fernando Pessoa


Canção da Moça de Dezembro


Ereni Wink




A moça dança comigo
nessa noite de dezembro.
Na sala onde giramos
se alguém mais há não me lembro.

O ondear da moça ondeia
uma melodia ainda
mais doce que a da vitrola
— e uma alegria vinda

dessa doçura me envolve.
Cabe bem no meu abraço
esse perfume com que
vou girando e em que me abraso

em meus quinze anos (a moça
terá, talvez, dezessete
ou dezoito). Como a valsa,
a vida o melhor promete.

E já oferta: esse corpo
a cada instante mais perto.
Ao qual responde meu corpo,
como nunca antes desperto.

E a moça vai-me queimando
em seu hálito, afogando-me
nos cabelos, e nos olhos
luminosos siderando-me!

E eis que, dançando, saímos
além da sala e do tempo.
E dançando prosseguimos
sempre que sopra dezembro,

nos mesmos giros suaves,
nos mesmos ledos enganos:
eu, o antigo rapaz,
e a moça, morta há treze anos.

O poeta da memória
Ruy Espinheira Filho

Chuva de Vento


Ereni Wink




De que distância
chega essa chuva
de asas, tangida
pela ventania?

Vem de que tempo?
Noturna agora
a chuva morta
bate na porta.

(As biqueiras da infância, as lavadeiras
correm, tiram as roupas do varal,
relinchos do cavalo na campina,
tangerinas e banhos no quintal,
potes gorgolejando, tanajuras,
os gansos, a lagoa, o milharal.)

De onde vem essa
chuva trazida
na ventania?

Que rosas fez abrir?
Que cabelos molhou?
Estendo-lhe a mão: a chuva fria.

Mauro Mota

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